Marco Antônio Villa é afastado da Rádio Pan. Diretor diz que Bolsonaro não pediu sua cabeça

29 maio 2019 às 15h33

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A Jovem Pan alega que o comentarista está em férias. Mas o historiador desmente a versão oficial da empresa
Rififi no jornalismo: o diretor da Rádio Jovem Pan, Felipe Moura Brasil, diz que o comentarista Marco Antônio Villa não foi demitido e que o historiador estaria de férias entre maio e junho. Mas Villa contesta a informação, numa entrevista ao UOL: “Não estou de férias nem fui demitido. O que aconteceu foi o seguinte: após o ‘Jornal da Manhã’ recebi a comunicação do vice-presidente da empresa [José Carlos Pereira] dizendo que não queria os meus serviços pelos próximos 30 dias.”
Villa, uma das estrelas da Jovem Pan, afirma que foi surpreendido com o “afastamento”. “Recebi o comunicado com surpresa e não gostei, obviamente. Mas é evidente que eu aceitei. Continuo trabalhando, potencializando nas redes sociais, no meu canal no YouTube (enquanto o país está explodindo).”

As análises de Villa, sobretudo a respeito do presidente Jair Bolsonaro, incomodam poderosos e ex-poderosos (como alguns petistas). “Eu sempre tive a postura crítica em relação aos quatro últimos governos: Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. Isso incomoda o nosso poder. O poder nunca gostou de críticas.”
Mas, de acordo com Villa, “seria leviandade da minha parte dizer que ele [Jair Bolsonaro] teve um dedo nessa história. Não posso dizer que ‘sim’, nem que ‘não’. Seria uma irresponsabilidade”. Felipe Moura Brasil frisa que Bolsonaro não pediu a cabeça do comentarista. “Antes de continuarmos com o programa, um breve esclarecimento institucional: blogueiros sujos publicaram na internet que o presidente Bolsonaro mandou e a Jovem Pan demitiu o historiador Marco Antonio Villa. O Grupo Jovem Pan informa, nesta terça-feira, 28 de maio de 2019, que são duas fakes news: Villa, nesse período que compreende semanas de maio e junho, está de férias, e Bolsonaro nunca pediu ‘cabeça’ de qualquer profissional da empresa”, destacou o diretor da Jovem Pan.
“Não é agradável o que eu estou passando, não sou moleque, tenho história, compromisso com a história. Mas como diz o poeta: ‘tenho que manter a espinha ereta e o coração tranquilo’. Não me dobro aos poderosos”, disse Villa ao UOL. Ele há havia sido demitido da revista “Veja” há algum tempo.
Villa afirma que não sabe se volta ao ar depois dos 30 dias de “férias”. “Estou refletindo se volto ou não.”
Villa talvez seja um dos primeiros comentaristas a ser afastado por “excesso” de audiência. O afastamento obteve uma repercussão estrondosa nas redes sociais. “Recebi centenas de mensagens, telefonemas e e-mails ao longo do dia.”
Liberdade e transparência
A mídia cobra transparência de políticos, de empresários. Mas não cobra de si própria. Há algo de estranho no ar. Mas alguém está escondendo parte substancial da verdade.
Quanto à liberdade de imprensa, como parece ser o caso, talvez Villa não tenha percebido que é relativa. Quando interessa ao patrão, bater é incentivado. Quando não é, resta o limbo ao “batedor”. Talvez seja isto. Talvez não seja. Espera que as partes esclareçam a história.