Mandetta vai escrever livros sobre sua participação no governo Bolsonaro e a pandemia do coronavírus
26 abril 2020 às 00h00
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O ex-ministro da Saúde pretende expor o caráter errático do presidente Jair Bolsonaro, que não tem apreço pela ciência e pela informação precisa
O ghost-writer não está definido, mas a agente literária será a advogada Marina Mandetta. A filha do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta abriu conversações com editoras com o objetivo de publicar dois livros. Num, o mais cobiçado e candidato a best seller, Mandetta contará seu trabalho como ministro — de 1º de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020 —, sobretudo o combate ao novo coronavírus e os embates travados com o presidente Jair Bolsonaro. Sereno por natureza, não será excessivo, mas apontará, por certo, o caráter errático (dizia uma coisa na parte da manhã e, à tarde, mudava de opinião) e a ignorância (em termos de informação) do chefe do Executivo — que é tido como um dos dirigentes mais mal informados da história do país.
Ao perceber que o país não tinha (e continua não tendo) uma estrutura de saúde adequada para enfrentar uma pandemia — sobretudo a provocada por um vírus novo e para o qual não há vacina —, Mandetta e seus auxiliares, com o apoio de médicos e cientistas, articularam um isolamento social bem-sucedido. Aos poucos, o governo federal e os governos estaduais foram organizando e, em alguns casos, reorganizando a área hospitalar para acolher os infectados pelo novo coronavírus. A política deu certo. Mas Bolsonaro, que está mais preocupado com a crise econômica — que pode devastar tanto seu governo quanto sua carreira política —, adotou outra estratégia e, por isso, exonerou o ministro.
Mandetta tem muito a contar sobre o enfrentamento com Bolsonaro. Inclusive sobre a ignorância científica do presidente. Se for bombástico e substancial, o livro poderá se tornar best seller. Se for um traque, como alguns livros de oportunidade, venderá basicamente nas noites de lançamento. O futuro escritor terá de combinar um texto equilibrado mas com algumas informações bombásticas. O que se espera é que torne público os bastidores da gestão de Bolsonaro, especialmente na área de saúde.
No segundo livro, que talvez não se torne best-seller, vai contar a história de sua vida. Ele fará 56 anos de idade em novembro deste ano.
O que Mandetta tem em comum com o presidente Jânio Quadros?
Sabe o que Mandetta tem em comum com o presidente Jânio da Silva Quadros? Os dois nasceram em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Jânio nasceu em 1917 — o ano da Revolução Russa — e morreu em 1992, o ano em Fernando Collor sofreu impeachment e deixou a Presidência da República. Mandetta nasceu noutro ano exemplar: 1964 — o mesmo do golpe civil-militar que o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos tanto defendem.
Como Ronaldo Caiado, Adib Elias e Jardel Sebba, Mandetta cursou Medicina no Rio de Janeiro, na Universidade Gama Filho. Especializou-se em ortopedia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Depois, especializou-se em ortopedia infantil no Scottish Rite Hospital, em Atlanta (daí seu inglês da rainha, embora seja crítico de expressões estrangeiras no país).
No futebol, engana-se quem pensa que é torcedor do Flamengo ou do Corinthians, clubes das multidões. Mandetta é torcedor fiel — ou sofredor — do Botafogo do Rio de Janeiro. Herança dos seus tempos de Rio de Janeiro.
Atenção: Mandetta tem apreço pelos militares. Tanto que foi tenente do Exército — atuando como médico da corporação militar. Na crise com Bolsonaro, dialogou bem com os militares — que o respeitam e conseguiram segurá-lo por certo período, por julgá-lo eficiente, até à entrevista-desastre ao “Fantástico”.
No Mato Grosso do Sul, trabalhou como médico na Santa Casa, da qual também foi integrante do conselho fiscal. Presidiu a Unimed do Estado, aos 37 anos.
Em 2004, como secretário da Saúde da Prefeitura de Campo Grande, combateu, de maneira tenaz, um surto da dengue. Aí talvez tenha aprendido as lições que levou para o combate da pandemia do novo coronavírus.
Em 2010, depois ter pertencido ao quadro político do MDB, foi eleito deputado federal pelo DEM. Foi reeleito em 2014. Mandetta é primo do senador Nelsinho Trad.
No Congresso, posicionou-se contra o aborto e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, do PT.
A amizade com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, resulta de quatro fatos. Primeiro, são médicos, e ortopedistas. Segundo, pertencem ao DEM. Terceiro, foram deputados na mesma legislatura e se tornaram amigos. Quarto, são liberais, têm afinidades ideológicas. Sobre Caiado, costuma dizer aos amigos que poucos políticos são tão decididamente defensores do interesse público e sempre fala de sua seriedade e firmeza. O político goiano, na sua opinião, tem “foco”.
Casado com a médica Terezinha Mandetta, um dos hobbies do ministro é pescar. Aprecia leitura, música e uma boa comida. É um bon vivant.