As pessoas mais velhas criticam a legalização da maconha e os mais jovens aprovam. O país não ficou escandalizado
Estive em Montevidéu, no Uruguai (país menor do que Goiás), no fim de julho, e acompanhei o debate a respeito da venda de maconha em algumas farmácias. É legal, mas os compradores precisam ser registrados junto ao governo. Inicialmente, 5.526 pessoas estavam autorizadas a comprar o produto.
Li jornais, como o “El País”, “El Observador” e “Busqueda” (que se apresenta como “revista semanal”), e conversei com algumas pessoas. O grande escândalo a respeito do início do comércio legal de maconha é: não houve escândalo.
A venda de marihuana (como se escreve no país) foi um sucesso. O estoque das farmácias esgotou-se rapidamente, numa quarta-feira, mas havia mais nos fornecedores. “O negócio demonstrou ser rentável porque os clientes que vão em busca de marihuana também levam outros produtos”, anotou um repórter do “Observador”. Proprietários das farmácias disseram ao jornal que esperam que a “febre” pela erva não passe ao deixar de ser novidade.
Os compradores aprovaram a qualidade da maconha. “Maravilhosa” e “agradável” foram os termos usados pelos usuários. “Não agride a garganta.” Eles disseram que, ao contrário do que haviam sugerido especialistas, a maconha legalizada “não é fraca” e o preço é “muito bom” (os uruguaios reclamam sobretudo da inflação — quase sempre do preço dos aluguéis e dos alimentos. Um livro que custa cerca de 60 reais no Brasil custa em média 80 reais no Uruguai. A livraria Más Puro Verso é excepcional).
Nas conversas com uruguaios, percebi que pessoas mais velhas, mesmo não escandalizadas, não são favoráveis à liberação. Pessoas mais jovens são, em geral, favoráveis.
Os indivíduos mais velhos dizem que o governo deveria se preocupar com “coisas mais sérias”, como saúde, educação e o custo de vida. Uma motorista de Uber disse que “liberar a maconha não é uma coisa séria”. Um homem de mais de 60 anos me disse que se trata de “um equívoco do Mujica”. Trata-se do ex-presidente, que é respeitado, pela integridade e preocupação com os pobres, mas não é apresentado como um gestor eficiente. Tabaré Vázquez, aliado do senador José Mujica, estaria, na opinião de uruguaios, tentando corrigir os problemas deixados pelo antecessor.
As pessoas jovens, que às vezes argumentam com mais informações, sugerem que a liberação da maconha é um golpe de mestre em parte do narcotráfico e fortalece os cofres de parte da iniciativa privada e do governo. Um jovem que deixou a universidade para trabalhar afirma que a legalização impede que a aquisição de maconha continue como uma atividade perigosa.
Um dos livros bem vendidos nas livrarias é “Marihuana Oficial — Crónica de un Experimento Uruguayo” (Sudamericana, 288 páginas), de Guillermo Draper e Christian Müller Sienra.
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