O ex-presidente ligou para Jaques Wagner e disse que havia dito a Mino Carta para escrever artigo atacando Sergio Moro. A revista publicou dois artigos criticando o juiz e a Polícia Federal

Mino Carta e Lula lula-mino-carta

As gravações feitas pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, revelam que o ex-presidente Lula da Silva se apresenta para seus aliados como uma espécie de “chefe de reportagem” (“pauteiro” ou redator-chefe) informal da revista “CapitalCapital” e que percebe Mino Carta como um de seus epígonos das letras.

Numa conversa com Jaques Wagner, o ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo da presidente Dilma Rousseff, Lula da Silva conta que mandou o diretor de redação da “CartaCapital”, Mino Carta, escrever um artigo sobre as manifestações de rua no domingo, 13. As palavras exatas do ex-presidente: “Acabei de conversar com o Mino Carta aqui pra ele escrever um artigo, mostrando que teve duas coisas nesse movimento”. Primeiro, Lula admite o quadro real, as pessoas querem que o combate à corrupção continue. A segunda “coisa” era uma crítica contundente ao juiz Sergio Moro, de Curitiba.

Lula da Silva frisa que Sergio Moro “representa isso” (o combate à corrupção) “fortemente”, o que, em sua opinião, equivale à “negação da política”.

Terminada a conversa de Lula da Silva e Jaques Wagner, o portal da “CartaCapital” publicou, como o primeiro havia encomendado, dois editoriais de Mino Carta — “O patético complô” e “Conspiração policial”.

Em “O patético complô”, Mino Carta denuncia o que chama de “apavorante conjunto de desmandos” [as ações da polícia Federal, determinadas pela Justiça, contra Lula da Silva e seus familiares], “não poderia faltar a intervenção providencial do juiz Sergio Moro, que há dois anos, graças ao Altíssimo, rege o destino do país”.

Nos grampos, Lula da Silva fala na República de Curitiba — uma ficção petista. Pois um editorial de Mino Carta, escrito sob ordens de Lula, pelo menos é o que sugere o ex-presidente, assinala: “Da conspirata em marcha, vislumbro de chofre três QGs, em recantos distintos. Número 1, escancarado, em Curitiba, onde três delegados dispõem da pronta conivência do Ministério Público e da vaidade provinciana do juiz Sergio Moro, tão inclinado a se exibir quando os graúdos lhe oferecem um troféu”.

Mino Carta é um jornalista decente

Não se pense que Mino Carta é corrupto financeiramente. Não é. Em termos financeiros, é decente e, dizem, leva uma vida relativamente espartana. Não há nada que o desabone. A identificação com Lula da Silva é ideológica. O editor o defende por convicção. Seus adversários dirão: “Mas ele fatura alto no governo de Dilma Rousseff”. Na verdade, as publicações mais críticas do governo petista faturam muito mais do que a revista editada pelo jornalista de 82 anos, nascido em Gênova, na Itália. O presidente-general João Figueiredo uma vez disse que não tinha nenhuma simpatia por Mino Carta, mas que o jornalista era decente. Continua decente e, apesar de proteger o PT e Lula, é um grande jornalista. Ele é o criador da “Quatro Rodas” (sem saber dirigir), da “Veja”, da “IstoÉ”, da “Senhor”, do jornal “República” e da “CartaCapital”. Sem contar que foi responsável por tornar o “Jornal da Tarde” (extinto) em um grande veículo de comunicação.

Em vários casos, e não sei se é o de Mino Carta, o que há é uma certa corrupção moral, não necessariamente financeira.