atenasO filólogo, filósofo e historiador italiano Luciano Canfora, professor da Universidade de Bari, é autor de livros que arrancam a história do lugar comum, às vezes revisando documentos exaustivamente pesquisados por outros estudiosos, e propõem outra interpretação. “O Mundo de Atenas” (Companhia das Letras, 569 páginas) é sua mais recente obra publicada no Brasil, com tradução escorreita de Federico Carotti. O estudo tira a “roupa” de Atenas, redimensiona-a, desconstruindo mitos, mas “a” cidade não fica, por assim dizer, “menor”.

Sinopse da editora assinala que, “para o imaginário ocidental, a Atenas antiga representa muito mais que uma simples cidade. O período que vai das reformas de Clístenes (508 a. C.) à morte de Sócrates (399 a.C.) teria consagrado um modelo universal, tanto político quanto cultural. Político pois se atribui a Atenas a invenção da democracia — ou seja, o sistema político mais difundido no mundo. Cultural pois a ela se credita a criação da filosofia, da história, do teatro, da literatura, da arte e da arquitetura: tudo, enfim, que é considerado ‘clássico’ e portanto incontornável”.

Atenas e seus “ídolos” — como Sócrates e Platão — significam muito para a humanidade, mas Luciano Canfora frisa que é preciso “restituir a cidade à sua história”. É necessário “estudar Atenas e seu tempo a partir dos textos primários, destituídos das camadas geológicas de interpretação e mito. O resultado é o desmanche da máquina retórica em torno do ‘berço da democracia’. Com recurso ao rico e variegado arsenal de fontes à disposição do historiador, o professor demonstra que desde a Antiguidade vem se construindo um discurso engrandecedor dos feitos e instituições de Atenas — para fins e em contextos diversos —, muitas vezes em franca contradição com os documentos que dão suporte a essas narrativas. E mais: ao fazer a leitura cerrada dos textos originais, o autor aos poucos revela que os principais críticos do sistema democrático foram os próprios intelectuais atenienses”. O livro “O Julgamento de Só­crates” (Companhia das Letras), de I. F. Stone, aponta o filósofo como não-democrático.

Segundo a editora, “no pano de fundo, a parábola dessa história é a acachapante derrota do império naval ateniense ante Esparta e o cataclismo no mundo grego daí decorrente, que permitiu a ascensão da Pérsia e afinal o triunfo do ideal monárquico realizado pela hegemonia macedônica: a primeira derrota da democracia”.

Canfora é autor de outros livros importantes: “A Biblioteca Desa­parecida — História da Bibli­oteca de Alexandria” (Companhia das Letras), “Júlio César — O Ditador De­mocrático” (Estação Liberdade), “Crítica da Retórica Democrática” (Estação Liberdade), “1914” (Edusp).