Livros resgatam a história dos 25 mil brasileiros (111 goianos) que lutaram contra o nazismo na Itália
16 maio 2015 às 17h41
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William Waack escreveu um livro que, segundo pesquisador, mostra ignorância de assuntos militares
As jornalistas Belisa Monteiro, Dérika Kyara e Letícia Santana escreveram um belo livro, “Lembranças da Luta” (Instituto Casa Brasil de Cultura, 91 páginas, leia resenha aqui, sobre pracinhas goianos (ou radicados em Goiás) que lutaram bravamente contra os nazistas alemães na Itália. Francisco César Ferraz escreveu um livro básico, “Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial” (Jorge Zahar, 78), e um livro importante, “A Guerra Que Não Acabou: A Reintegração Social dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira — 1945-2000” (Eduel, 376 páginas), nos qual mostra que os militares foram praticamente abandonados pelo Estado. Dois livros importantes são: “Barbudos, Sujos e Fatigados — Soldados Brasileiros na Segunda Guerra Mundial” (Grua, 447 páginas), de Cesar Campiani Maxiamiano, e “A Nossa Segunda Guerra — Os Brasileiros em Combate, 1942-1945” (Expressão e Cultura, 224 páginas), de Ricardo Bonalume Neto.
Um cacete federal no livro “As Duas Faces da Glória — A FEB Vista Pelos Aliados e Inimigos” (Planeta do Brasil, 344 páginas), de William Waack, pode ser lido no livro de Bonalume Neto. “Waack foi profundamente injusto com a FEB. Não acho que tenha sido por má-fé. Ignorância de história militar é uma explicação mais razoável. Basta ver que os brasileiros começaram a guerra em um setor mais tranquilo da frente, para serem testados. Se tivessem falhado, teriam ficado ali o resto da guerra, como ficaram as tropas da pouca aguerrida 92ª Divisão de Infantaria americana, formada por negros que não tinham moral elevada para combater porque eram comandados por brancos, repetindo na guerra a segregação da qual eram vítimas em casa. Daí a FEB foi para a região central da frente, onde poderia ter causado graves problemas se fosse tão ruim como o livro de Waack parece querer demonstrar. Na ofensiva final e antes dela, a FEB lutou nessa região ao lado de divisões de primeira categoria, como a 10ª de Montanha, a 1ª Blindada ou a 88ª de Infantaria. Cumpriu as missões quem lhe foram confiadas. Que mais pedir?”
Bonalume Neto, repórter da “Folha de S. Paulo” e especialista em questões militares, sugere que Waack padece de um certo tipo de provincianismo: “Dar excessiva importância ao que os estrangeiros dizem do país” é um “espetáculo de provincianismo infindável”.
O americano Frank D. McCann, um brilhante historiador militar, apresenta a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial de maneira muito mais equilibrada do que Waack. McCann desmonta Waack com extrema facilidade. Seu ensaio saiu no livro “A Luta dos Pracinhas” (Record, edição de 1993), dos jornalistas Joel Silveira e Thassilo Mitke. O livro de Waack é seguramente o pior sobre a participação brasileira na batalha contra o nazi-fascismo.
Filme Estrada 47
Apontado como “tecnicamente perfeito” por Bonalume Neto, que de fato entende do assunto, o filme “Estrada 47”, de Victor Ferraz, de fato é muito bom. É um retrato humano, não ufanista e não folclorizado sobre a participação das tropas brasileiras no território italiano.
Mas ainda falta um grande filme sobre o assunto. O Brasil precisa fazer documentários extensos e detalhistas sobre a luta dos pracinhas. Há pracinhas vivos, cada vez menos, que poderiam dar testemunhas formidáveis. Poderiam ser levados ao cenário da guerra, por exemplo.
A ditadura de 1964 a 1985 é responsável pelo preconceito contra os militares. Nem os pracinhas, que defenderam a democracia, escapam disso. Daí o esquecimento.