Livro sobre Gustavo Capanema deveria inspirar o ministro Abraham Weintraub

02 junho 2019 às 00h00

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Países não vivem de quatro anos mágicos, mas da eternidade das gerações. O ministro de Vargas pode ensinar isto ao ministro de Bolsonaro
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, canta na chuva e, diria o célebre dirigente esportivo corintiano Vicente Matheus, pode se “queimar” (pelo menos tem certo humor). Enquanto não se queima, poderia se inspirar num ministro da Educação que, sendo conservador — serviu ao governo de Getúlio Vargas, de 1934 a 1945, inclusive no Estado Novo, uma ditadura cruenta, de 1937-1945 —, era, por assim dizer, um iluminista.

O auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, tão nacionalista quanto Vargas mas pilotando um governo que tende ao liberalismo ortodoxo — dada a influência do poderoso chefão da Economia, o chicago-old Paulo Guedes—, certamente aprenderia a dialogar e conviver com aqueles que pensam diferentemente dele. O ministro, ensinou Gustavo Capanema, não pode se comportar como bedel do gestor máximo, mas como um diplomata que serve ao governo, à sociedade e aos setores que, direta e indiretamente, representam a educação.
Recomenda-se a Abraham Weintraub uma leitura atenta do livro “Capanema: Biografia — A História do Ministro da Educação Que Atraiu Intelectuais, Tentou Controlar o Poder e Sobreviveu à Era Vargas” (Record, 499 páginas), de Fábio Silvestre Cardoso.
Trata-se de um lançamento, ou seja, de uma pesquisa atualizada e ampla sobre um homem que dirigiu a educação do país durante vários anos, e não apenas alguns meses. No seu gabinete, além do maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, circularam vários próceres da cultura patropi.

Sinopse do livro divulgada pela editora: “Entre 1927 e 1979, Gustavo Capanema Filho teve atuação política destacada no país. Nome importante para desvendar as motivações, a agenda e a natureza daqueles que buscam ocupar um espaço no poder, é reconhecido pela sua gestão à frente do Ministério da Educação e Saúde entre 1934 e 1945, mas sua participação no debate político não se restringiu às reformas que promoveu na educação: também foi uma das ferramentas do Estado Novo para cooptar intelectuais para a adesão ao regime, por suas conexões com nomes como Carlos Drummond de Andrade e Cândido Portinari. Exemplo raro de figura que se renovou no poder como pôde, ocupando posições diferentes, mas sempre de forma pragmática, Capanema soube agir de modo a preservar o status que possuía”.

Abraham Weintraub certamente vai aprender que, entre outras coisas, o poder é transitório. Se não puser de pé um projeto que contemple as contradições da educação — um dos setores mais complexos e variados do setor público —, e resultem num consenso, outro governo, de matiz político e ideológico diferente, tende a desmanchar tudo. Radicalismos são, em regra, substituídos por outros radicalismos. Mas quem avalia que o Fundef, criação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e o Fundeb, criação do ex-presidente Lula da Silva, foram ruins para o país? Ninguém, decerto, em sã consciência. Países não vivem de quatro anos mágicos, mas da eternidade das gerações. É o que a história — se ensina alguma coisa.