O político do Rio de Janeiro avaliou, errado, que o golpe dos militares devolveria poder aos civis rapidamente. Leu a mal a historia do tenentismo

Carlos Lacerda é um político à espera de melhores explicações. O americano John Dulles escreveu uma biografia alentada e de qualidade, mas lacunar. Mário Magalhães promete um livro que vai cobrir de maneira ampla os últimos anos do jornalista, político e editor. Agora, sai “Meu Tio Carlos Lacerda” (Edições de Janeiro, 196 páginas), de Gabriel Lacerda. O sobrinho do demolidor de presidentes faz um relato intimista, o que permite compreender mais o homem. Para o bem ou para o mal, Lacerda foi um dos maiores políticos do país. Excelente governador da Guanabara, tinha o sonho de se tornar presidente da República. Avaliou que, com o golpe de 1964, chegara a sua vez. Os militares “ajustariam” o país e devolveriam o poder aos civis, quer dizer, ao líder mais feroz da UDN. Porém, Lacerda não leu a história com cuidado. Os tenentes haviam “colocado” Getúlio Vargas no poder e, aos poucos, foram se desencantando. Tentaram eleger um presidente, Eduardo Gomes, mas não conseguiram. Então, quando assumiram o poder, em 1964, não tinham o objetivo de devolvê-lo imediatamente aos civis. Resultou que, como Castello Branco não conseguiu impor um civil, como Bilac Pinto — e há dúvida de que pretendia mesmo eleger um civil —, e Costa e Silva se tornou presidente, acobertado pela Linha Dura, Lacerda acabou cassado e sua carreira política foi encerrada não pelos adversários históricos, do PSD e do PTB, e sim pelos aliados que se tornaram seus principais adversários — os militares golpistas, com os quais conspirava há anos contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.