A obra dá para ser lida de uma sentada na livraria. Não o livro todo, que é maçante. Só as 50 páginas finais. No tempo que você ganhou com essa dica, compre outro livro

Iúri Rincon Godinho

Normalmente a vida de um ator de novelas não chamaria atenção para quem não assiste TV aberta e a última novela que viu foi uma reprise dos anos 1980. Mas gostaria de entender de que maneira um ser humano como o ator paulista José de Abreu, de 75 anos, passou a despertar ódios e amores eternos fora da dramaturgia, na feroz defesa dos governos do PT e de seus principais personagens, como Lula da Silva. Ou seja, leitura antropológica, um estudo de um ser humano que deveria ter lá seus motivos para ser — ou pelo menos parecer — intragável e amável.

Sua autobiografia tem dois volumes. O primeiro pulei por ser sobre sua vida antes da fama. Desinteressante. No segundo, a leitura se arrasta por 300 páginas com as peças teatrais, filmes e novelas que participou e as mulheres com as quais teve algum relacionamento. Chato. Repetitivo. Seus relacionamentos, dos curtos aos casamentos, começam inevitavelmente por uma atração física e não terminam. Apenas evaporam no ar sem explicações. Justiça seja feita, pelo número imenso de novelas e peças em que atuou, o homem é batalhador (ou, diria um filiado do PT, trabalhador).

Trezentas longas páginas depois, o livro fica interessante quando ele conta como comprou um apartamento em Paris para se apaixonar na Grécia e se mudar para lá.

José de Abreu e Lula da Silva: aliados políticos | Foto: Reprodução

Sua participação política, o motivo que com certeza fará esse livro vender, ocupa umas 20 páginas no final, em que ele não revela muito. O autor não acredita no mensalão (compra de apoio político por parte do primeiro governo de Lula da Lula) e diz, de forma infantil, que Fernando Henrique Cardoso tem um imóvel em Paris em uma rua onde moram vários ditadores. Desnecessário. O ponto alto é quando o ex-ator pornô e ex-deputado Alexandre Frota marca uma briga com José de Abreu na porta de um restaurante e erra de restaurante. Hilário. Claro, Abreu nem cogitou em topar. A diferença de idade entre ambos é de 17 anos — praticamente uma geração. E, como se sabe, peso-médio não duela contra peso-pesado.

José de Abreu e Alexandre Frota: peso médio não luta contra peso-pesado | Fotos: Reprodução

Durante todo o texto, ao não revelar seus defeitos, José de Abreu, com mais de 70 anos (76 anos em maio), parece buscar ser amado, mais do que compreendido. A favor do livro, o fato de que é bem escrito, com uma linguagem leve.

É uma daquelas obras que dá para ser lida de uma sentada na própria livraria. Não o livro todo, que é repetitivo e maçante. Só as 50 páginas finais. No tempo que você ganhou com essa dica, compre outro livro.

Iúri Rincon Godinho, jornalista e escritor, é membro da Academia Goiana de Letras.