Líder da Semana de Arte Moderna, o autor de Serafim Ponte Grande pediu à jovem Daisy que fizesse o aborto e, quando ela faleceu, sentiu-se culpado

Oswald de Andrade e Daisy, a Miss Cyclone: uma grande paixão que terminou em morte

Mário de Andrade e Oswald de Andrade não eram parentes, eram amigos que se tornaram inimigos, dadas as brincadeiras excessivas do segundo, um piadista inveterado. O primeiro não aceitou o apaziguamento proposto pelos amigos, e até por “Oswaldo”, como o ex-amigo o chamava. Que vá à “triputa” que o pariu, sugeriu o autor de “Macunaíma”, num ataque ao “pauliceio desvairado” que escreveu “Serafim Ponte Grande” e se julgava não “350”, e sim “750”. Enquanto a biografia de Mário de Andrade não sai — está sendo finalizada pelo jornalista Jason Tércio —, novas histórias de Oswald de Andrade vem à tona, agora no livro “Neve na Manhã de São Paulo” (Companhia das Letras, 368 páginas), de José Roberto Walker.

Se Mário de Andrade era homossexual, ou bissexual — consta que também tinha interesse por mulheres —, e é sua sexualidade não convencional que espanta os biógrafos, Oswald de Andrade era um mulherengo inveterado. A artista plástica Tarsila do Amaral, criadora do Abaporu, e a escritora Pagu foram as mais conhecidas de suas mulheres. Houve, porém, várias outras. Daisy, a Miss Cyclone, uma garota de 17 anos é a menos conhecida. Seu nome de batismo: Maria de Lourdes Pontes.

O livro de José Roberto Walker resgata a história de uma garçonnière de Oswald de Andrade, que funcionou a todo vapor entre 1917 e 1919, na Rua Líbero Badaró, no Centro de São Paulo. Lá, além de se encontrar com amigos — como Menotti del Picchia, Ricardo Gonçalves, Fer­rignac, Monteiro Lobato e Guilherme de Almeida —, era seu ninho de amor com a bela Daisy, que mesmerizava até os mais frios dos homens. O escritor chamava o local de “covil da Rua Líbero”.

Dado a paixões esfuziantes, Oswald de Andrade encantou-se com Daisy, de quem tinha ciúme (era meio Bentinho e Otelo). Como os métodos contraceptivos eram raros, e certamente pouco usados, especialmente entre apaixonados, como era o caso, a jovem engravidou. Convencida a abortar pelo escritor, Daisy morreu, deixando o poeta e prosador inconsolável. A garota foi enterrada no jazigo da família Andrade, no cemitério da Consolação. Em busca desta história, devidamente resgatada, José Roberto Walker poderia ter parado por aí. Mas não parou. Ao contrário, ao fazer o registro do encontro entre o famoso, uma fera, e a bela, Daisy, o autor do livro decidiu contar como se vivia em São Paulo nos primórdios do século 20 e anota as movimentações dos escritores modernistas. A pesquisa resulta de um trabalho de historiador, não de fofoqueiro.