Com Iris Rezende ausente da política, entre 1969 e 1982, Frederico Jayme e os Santillo desmoralizaram os homens do regime militar no Estado

O livro “Frederico Jayme Filho — 50 Anos de Vida Pública” (Editora Antígona), de Nilson Jaime, será lançado na segunda-feira, 26, às 19 horas, no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia.

Trata-se da biografia de um homem público que, intimorato, nunca cedeu às pressões da ditadura civil-militar, combateu-a de maneira frontal e permaneceu no MDB, depois PMDB (os homens da ditadura vasculharam sua vida e nada encontraram de irregular). Era ligado aos irmãos Santillo, de Anápolis, e juntos enfrentaram os anos de chumbo em Goiás (cassado, Iris Rezende não fez oposição ao regime militar. Ele só voltou à política em 1982, quando foi eleito governador de Goiás pela primeira vez, por sinal com o apoio de Frederico Jayme, Henrique Santillo, Adhemar Santillo e Romualdo Santillo — os quatro mosqueiteiros).

Frederico Jayme, ex-deputado e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado, e Nilson Jaime, doutor em agronomia e pesquisador nas áreas de história e ciência | Foto: Acervo Nilson Jaime

O livro de Nilson Jaime é uma biografia autorizada, mas não é uma hagiografia. É, no fundo, um livro de história que será tremendamente útil aos historiadores (e aos jornalistas e aos leitores comuns) que pesquisam os acontecimentos em Goiás nos últimos 50 anos. A partir de um indivíduo — de sua grandeza (e grandeza só passa a existe quando alguém a registra de maneira ampla e objetiva) —, Nilson Jaime, doutor em agronomia e um pesquisador nato de história (e ciência), conta a história de Goiás.

O dedo do indivíduo na história

O marxismo deixou um “filho”, com voz aguda, no inconsciente ocidental (e em parte do oriental, por certo). Por isso, na maioria das vezes, não aceitamos que um indivíduo “estica” um dedo e move a história. Na Rússia de 1917, o que contraria os marxistas — que em geral só percebem o vigor das massas —, graças à voz de um indivíduo excepcional (e não se tratda de um elogio às suas qualidades humanas, e sim de admissão de suas qualidades políticas), Vladimir Lênin, a esquerda conseguiu arrancar o poder das mãos dos democratas, como Kerensky, e implantar o comunismo.

Frederico Jayme Filho é o tipo de indivíduo que, com sua energia e sua disciplina impressionantes — o que agradaria o filósofo alemão Nietzsche —, pôs (e ainda põe, pois está vivíssimo, atuante) o dedo na história e ajudou a movê-la.

Enquanto Iris Rezende estava cassado, ausente da política de Goiás entre 1969 e 1982, Frederico Jayme, os irmãos Santillo, Fernando Cunha, João Divino Dornelles, Juarez Magalhães (pai), Iram Saraiva, Juarez Bernardes, Lázaro Barbosa — uns menos, outros mais — criticaram, com vigor, os homens da ditadura em Goiás, o que contribuiu para enfraquecê-los.

O resultado é que, na eleição de 1982, Otávio Lage, um dos quadros qualificados da ditadura, perdeu para Iris Rezende de maneira acachapante. A razão é que os políticos citados contribuíram, em larga medida, para desmoralizar os próceres da ditadura no Estado.

O Iris Rezende heroico e o Otávio Lage nada heroico eram construções do discurso e da ação política de homens como Frederico Jayme e Henrique Santillo… O livro de Nilson Jayme mostra isso com precisão.