Ditaduras matam e torturam. Os defensores da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) dizem: “Era uma guerra e chumbo trocado não dó”. Isto é falso, sobretudo porque muitos foram assassinados pelo regime discricionário quando não ofereciam qualquer perigo ao Estado. Estavam presos, incomunicáveis e, portanto, não podiam oferecer qualquer auxílio à guerrilha. Mesmo no cenário da Guerrilha do Araguaia, onde de fato houve combate entre guerrilheiros e militares do Exército, pessoas foram presas, torturadas e mortas. Muitos não tinham como reagir, estavam, inermes, nas mãos dos homens do Estado — os militares.

Várias mulheres das esquerdas foram presas. Consta que uma presa goiana foi barbaramente torturada, inclusive com a introdução de cassetete em sua vagina e no ânus. Chegaram a colocar cobras em celas.

Parte dos livros de história exclui as mulheres do combate à ditadura — tanto do combate armado quanto do democrático (no MDB). Mas várias delas lutaram contra a ditadura, muitas morreram e algumas sobreviveram. Uma breve lista: Aurora do Nascimento Furtado, Crimeia Schmidt de Almeida, Dilma Rousseff (foi eleita presidente de República duas vezes), Dina (Dinalva) Oliveira Teixeira, Helenira Resende, Iara Iavelberg, Inês Ettiene, Lúcia Murat (é cineasta), Miriam Leitão (continua a trabalhar como jornalista, na TV Globo), Pauline Reichstul.

Luiza Villaméa: jornalista e escritora | Foto: Reprodução

Várias mulheres foram presas e a história delas precisava ser contada, e agora é no livro “A Torre — O Cotidiano de Mulheres Encarceradas pela Ditadura” (Companhia das Letras, 288 páginas), da jornalista Luiza Villaméa. A obra chega às livrarias em maio.

Sinopse da Editora Companhia das Letras

“A partir de 1969, uma torre centenária — encravada no Presídio Tiradentes — foi o destino de dezenas de mulheres enclausuradas por motivação política durante a ditadura militar no Brasil.

“Em ‘A Torre’, a jornalista Luiza Villaméa apresenta um panorama de quem eram essas presas políticas e de como sobreviveram às terríveis condições que lhes foram impostas, mostrando como elas se organizavam no dia a dia, como se relacionavam entre si, com agentes da repressão e com pessoas do lado de fora — além de expor uma rotina que se contrapunha firmemente à brutalidade da situação.

“Numa prosa sensível à inteligência e à singularidade de cada uma das presas, a autora reconstitui o esforço dessas mulheres para criar um ambiente solidário e criativo que resistia, em tudo, à violência a que foram submetidas por um regime autoritário, composto basicamente por homens.”

Luiza Villaméia foi jornalista da Veja e de O Globo

Informação do site da Companhia das Letras: Luiza Villaméa é formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (1989) e mestre em história pela Universidade de São Paulo (2008). De 2012 a 2017 foi repórter especial da revista “Brasileiros”. Trabalhou no jornal “O Globo” e nas revistas “Veja” e “IstoÉ”. Recebeu diversos prêmios, entre eles o Esso pela série “Filhos do Brasil” e o prêmio Direitos Humanos de Jornalismo pela reportagem “Quando meninos são fichados como terroristas”.

Uma leitura complementar: “Mulheres na Luta Armada — Protagonismo Feminismo na ALN”, de Maria Cláudia Badan Ribeiro.