Ser homossexual não é defeito algum. Se Evaristo Costa é homo ou heterossexual isto diz respeito apenas a ele

Não há a menor dúvida de que Jorge Kajuru é um radialista e jornalista do primeiro time. Como comentarista esportivo, então, é quase insuperável. Porque entende mesmo de futebol e fala o que é preciso dizer, sem meias palavras. No entanto, comete determinadas injustiças típicas de seu modo exagerado de ser — como se fosse um Cazuza ou João do Rio da crônica esportiva e, mesmo, da crônica mundana. Devido aos excessos, está sempre respondendo a processos judiciais, não raro tendo de pagar polpudas indenizações. As novas vítimas de sua língua ferina são o jornalista Evaristo Costa, a cantora Joelma e o apresentador Gilberto Barros.

No programa “TV Verdade”, apresentado por Ricardo Carlini, na TV Alterosa, afiliada do SBT de Silvio Santos em Minas Gerais, Jorge Kajuru agrediu com virulência e preconceito o apresentador do jornal “Hoje”. Evaristo Costa seria “homossexual”, “bichinha”. É possível que o radialista dirá, se processado, que tudo não passou de uma brincadeira. Seria o espírito do programa.

O que o jornalista pode e deve cobrar, se é a palavra apropriada, do profissional Evaristo Costa é competência técnica, precisão, e, do cidadão, retidão no relacionamento com os demais cidadãos. Não se sabe de nada que desabone o apresentador e o homem. A sua sexualidade, se é homo ou hétero, interessa apenas a ele e a quem convive intimamente com o jovem.

A sexualidade das pessoas, sobretudo se é homossexual, tem sido usada como uma forma de agressão, com o objetivo de “diminuir” a estatura moral e profissional. Além de chocar, é claro. Não é apenas Kajuru que faz isto. Kajuru, por ser famoso, exacerba o problema, potencializa o preconceito — abalando a reputação de seus supostos adversários ou inimigos.

O fato é que dizer que uma pessoa é homossexual não deveria “diminui-la”, e de fato não reduz sua estatura humana ou profissional, mas o objetivo da crítica — mais um ataque — tem caráter destrutivo. É uma tentativa de “apequenar” o criticado, de reduzi-lo a pó.

Não contente em espezinhar Evaristo Costa, Kajuru atacou também a cantora Joelma, da banda Calypso — que alguns já chamam de Apocalypso —, e o apresentador Gilberto Barros, da Band.

Segundo Kajuru, Gilberto Barros, mesmo sabendo que a jovem era casada com Chimbinha — não é mais; separou-se —, teve um caso com Joelma.

Evaristo Costa não respondeu à diatribe de Kajuru — até porque, respondê-lo, é ampliar o que disse, em tom acusatório de denúncia. Joelma aparentemente não vai apresentar sua versão, exceto, quem sabe, como Evaristo Costa, via judicial. A assessoria de imprensa de Gilberto Barros contestou o radialista: “Se Kajuru se referiu mesmo ao Gilberto Barros, essa é uma insinuação completamente mentirosa, digna de risos. Leão sempre foi um descobridor de novos grupos e é muito amigo de Joelma e Chimbinha, de frequentar a casa deles. Isso não procede de maneira alguma”. Acertadamente, a TV Globo não quis discutir o assunto. Comentar o quê?

Kajuru não é inocente e gosta mesmo de chocar, ao mexer na intimidade, ou suposta intimidade, das pessoas. Mas as pessoas que o entrevistam também não são nada inocentes. Açulam o radialista e ficam esperando os ataques. A Kajuru parece interessar revelar as “verdades mais secretas”, como se tivesse se imposto uma missão supostamente iluminista: explorar os “porões” alheios. Os espertinhos que o convocam sabem muito bem o que querem — escândalos — e sabem que, com uma mera e rápida insinuação, às vezes exposta fora do ar, Kajuru escarafuncha a memória e, como se considera um Diógenes dos tempos midiáticos, baixa o nível e expõe aquilo que, na falta do mote justo, cheira a puro instinto, a selvageria.

Ao final das pendengas, não raro apresentadas como brincadeiras, restam os processos judiciais — exclusivos para Kajuru, que está se inviabilizando profissionalmente, não porque sempre diz a verdade, e sim porque não apresenta a verdade de maneira responsável.

Se Kajuru fosse um profissional de segunda linha, desqualificado, eu não diria nada. Porém, como o considero um dos cinco melhores cronistas esportivos do país, ao lado de Juca Kfouri e Alberto Helena Júnior, eventualmente escrevo sobre aquilo que considero como seus “equívocos”. É uma pena que esteja se destruindo.

Kajuru parece não entender que uma verdade que tão-somente destrói os indivíduos às vezes é pior do que uma mentira sem graves consequências.