Jornalistas de Goiás têm dificuldades em criticar filmes de fantasia
20 dezembro 2014 às 09h28
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Geralmente, a imprensa não consegue fazer bons textos sobre filmes de fantasia, pelo menos em Goiás. Quando o assunto são os filmes baseados nos livros do autor britânico J.R.R. Tolkien, então, a situação se complica ainda mais.
No dia 10 de dezembro, data de estreia de “O Hobbit: a Batalha dos Cinco Exércitos”, o “Pop” publicou a matéria “A despedida do Hobbit”, assinada por Rute Guedes. Em 2013, a jornalista não foi muito feliz em sua análise de “A Desolação de Smaug”, mas neste ano o texto sobre a última parte da trilogia cometeu poucos equívocos, porém, não passou ileso.
Pode ter sido erro de digitação, mas, segundo o “Pop”, o filme é baseado nas obras de R.R. Tolkien. Faltou o primeiro nome. O professor Tolkien se chama John Ronald Reuel Tolkien (J.R.R. Tolkien), e não apenas Ronald Tolkien.
Também há uma falha em chamar Gandalf e Galadriel de feiticeiros. Ora, Gandalf é um istari pertencente à raça dos Maiar, comumente denominado mago. E Galadriel é uma senhora élfica, com grande poder, mas que jamais pode ser classificada como feiticeira. Além disso, o rei élfico se chama Thranduil, não “Tranduil”, como informa o texto. Tirando isso, o texto de apresentação do filme ficou bom.
Os melhores textos sobre o filme, até o momento, foram publicados fora de Goiás. O melhor ficou por conta do colunista da “Folha de S. Paulo” Reinaldo José Lopes, publicado no dia 11. O texto chamado “Minutos finais salvam ‘Hobbit’ da overdose de pancadas” ressalta que há a impressão de que Peter Jackson “se tornou incapaz de distinguir entre a grandiosidade épica (que ele soube explorar na adaptação de ‘O Senhor dos Anéis’) e a overdose de pancadaria”. Sobre os minutos finais, Reinaldo Lopes diz que eles conseguiram amarrar a história à de “‘O Senhor dos Anéis’, de forma supreendentemente sutil e emocionante, criando a ilusão de um conjunto harmônico, a ‘hexalogia do anel’”, e declara: “Nem parece que a mesma equipe produziu essa passagem e as duas horas anteriores de filme”.
No “Estadão”, o jornalista Luiz Carlos Merten focou sua análise nos efeitos, e no motion capture, “que Jackson criou para viabilizar o Gollum, personagem-chave de Tolkien. Elogia o diretor neozelandês por ter feito uma revolução técnica no cinema mundial, algo que pode visto de modo claro em “O Hobbit”: “Tolkien foi um filólogo que pesquisou e sintetizou lendas e mitos de diferentes culturas. Mas justamente por ser linguista, ele construiu primeiro as línguas dos povos exóticos de seus livros — ‘o repicar dos sinos’ da fala dos elfos —, convencido de que a palavra deveria vir antes da história, e isso é Homero. Se Tolkien criou línguas, Jackson fez uma revolução técnica. Toda a trilogia do ‘Hobbit’ investe no grandioso, mas o que fica com a gente, no fim de tudo, é outra coisa. Para quem sabe ver, ‘A Batalha’ é um monumento de intimismo”. O foco de Merten merece elogios, visto que poucas críticas destaque a este ponto. Além disso, na ausência de qualidades no roteiro do filme, resta elogiar o aspecto técnico, porque, nisso, Peter Jackson é realmente mestre. (Marcos Nunes Carreiro)