Jornalista Jailton Batista lança o romance “As Voltas do Mundo” no Palácio das Esmeraldas

12 julho 2017 às 15h40

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Autor de um excelente romance, “Duas Mulheres, Quatro Amores e uma Guerra Civil”, Jailton Batista é um prosador experimentado
O jornalista Jailton Batista lança o romance “As voltas do Mundo” (Kelps) na quarta-feira, 12, às 19 horas, no Palácio das Esmeraldas (Sala Dona Gercina Borges, Praça Cívica), em Goiânia. Li apenas o primeiro romance do jornalista, “Duas Mulheres, Quatro Amores e uma Guerra Civil” (ambientado em Angola). É muito bem construído.
Release enviado pela editora
“Um homem de meia-idade, oriundo de um sólida aristocracia baiana, dono de vastas propriedades rurais que se estendem do Recôncavo ao grande sertão, seduz a pobre e bela Francisca no verdor da adolescência. A jovem é a flor mais formosa do jardim de Neco Ferreira, severo capaz de sua fazenda. Num único intercurso, tem com ela uma filha, mas como é casado com uma mulher do mesmo status social e tradição, não assume a paternidade e a cria como se fosse adotada, ocultando até a velhice o segredo monumental. A menina torna-se uma influente advogada e empreende uma busca desesperada pelo sertão para encontrar suas raízes e descobrir sua gênese. Neste intervalo, o mundo dá tantas voltas e os laços urdidos pelo destino a enredam pai, mãe e filha num desfecho inacreditável.
“É esse o enredo que conduz o leitor de ‘As voltas do mundo’, o segundo romance do escritor Jailton Batista (editora Kelps), ex-jornalista baiano, que já havia surpreendido os leitores com graves dramas humanas em ‘Duas mulheres, quatro amores e uma guerra civil’, uma ficção baseada em fatos reais, pois ambientada na guerra civil de Angola, onde viveu por mais de cinco anos.
“Agora, os cenários são as fazendas, as pequenas cidades, os folguedos paroquiais, as procissões e toda a rica ecologia humana do grande sertão, com suas riquezas e misérias, seus personagens míticos, folclóricos, ingênuos, heroicos e graves, que gravitam principalmente em torno da cidade fictícia de Lagoa Grande num período compreendido entre os anos trinta e cinquenta, quando a face do Brasil vai se transfigurando de rural para urbano, atraindo grandes correntes migratórias para as metrópoles que se industrializam no pós-guerra. Neste contexto, a obra apresenta as dores e os sofrimentos daquela gente pobre, simplória, que vivia em aldeias quase medievais, lutando para se adaptar às modernidades. É um tempo de grandes transformações, que a obra, sem pretensão de ser relato histórico, vai apresentando em retalhos que emolduram o contexto de um País profundo, original, primitivo, “bravo como um burro domado à moda antiga“, conforme o autor.
“‘As Voltas do Mundo’, apesar dos dramas humanos ali refletidos, é uma obra cheia de lirismo e poesia, de uma nostalgia que faz o leitor passear feliz entre as barraquinhas de uma quermesse do padroeiro, de fazê-lo sentir o aroma das cozinhas antigas, o cheiros dos currais, os concertos sinfônicos das rãs durante as trovoadas, a volúpia das chuvas diluviais, entre tantas efemérides que enchem de bucolismo a vida no interior do Brasil. Aliás, no romance, a tempestade, por simbolizar uma promessa de felicidade, é descrita como um ato de amor, pois a natureza, excitada, emite uivos, emana um aroma lúbrico e um odor úmido de animal entrando no cio, ´´à espera de um êxtase, de sorte que as fendas, valas, leitos e todo o solo se oferecem sem pudor, como um corpo nu exposto, para a penetração de grossos pingos como falos líquidos a fecundar o seu ventre”.
Trecho da obra (1)
“Isabel desviou o olhar para o curral e não viu a arruaça de potros em doma, nem bois a gemer em brasas de ferros heráldicos. Os currais estavam silenciosos. Pareciam desleixados porque no topo dos mourões se amontanhavam casas de cupins, algo impensável nos tempos do capataz Neco Ferreira. Esquecido pelo mundo, sentado à sombra de uma gameleira, um vaqueiro descansava da lida proseando em silêncio com o tempo, enquanto na lerdeza do seu ritmo cortava a palha para o cigarro com a ponta do canivete e, depois, com idêntica paciência, lambia as abas da pequena folha e ia enrolando o fumo e os pensamentos. Na mesma lassidão, recolhia o binga da algibeira do jaleco, fagulhava insistente a ponta da palha até inflamar o cigarro, que ia tragando de olhos fechados e vagueando as ideias em baforadas de espessas nuvens prateadas cobrindo sua solidão. As árvores do grande pomar perdiam o viço, se despiam explicitamente, deixando no solo um tapete amarelecido de folhas caídas, como as cobras que trocam de pele e largam pelo caminho as cascas de suas molduras.”
Trecho da obra (2)
“Quantos sonhos, pesadelos e noites mal dormidas naqueles dias desertos por causa daquele beduíno incerto. Cada dia de ausência era um desespero silencioso. Numa manhã, enquanto tentava aproveitar a madorna da alvorada, aquele resto de sono delicioso que não devia acabar, acometia-lhe um sonho leve no qual sua pele tocava o corpo de Abílio, os seus pés se enroscavam e ambos se aninhavam protegendo-se de uma brisa fresca que se intrometia pela fresta da janela do quarto. Estava entre meio dormindo e meio acordada quando o sonho se desenrolava suave, doce e macio como o aconchego que nele transcorria. Quando despertou, notou que seu homem não estava ao seu lado. Ainda o procurou entre os lençóis em desordem, mas não o encontrou. Levantou-se, intrigada, sem saber se ainda dormia ou se estava mesmo desperta. Olhou debaixo da cama e também lá ele não se refugiara. Andou pelos escombros vazios da pensão ainda flutuando no sonho, e nada. Abriu a janela do quarto que dava para um pequeno matagal e viu um amanhecer de poesia, com a medalha da lua cheia prateando o horizonte vazio, silencioso, sob um manto de pequenas e infinitas estrelas que lembravam os diamantes do ourives. Talvez ele tivesse escapado por ali – ela delirava, buscando sinais do seu homem entre as sombras e o alvor que escoltavam a manhã. E naquele delírio, assaltou-lhe a imagem de Abílio movendo-se feliz e faceiro enlaçado em outra mulher, de mãos dadas, quando, na verdade, o movimento era o das árvores dançando no compasso da brisa matinal. Ainda sonâmbula, e incrédula, ficou a fitar a miragem que, à medida do alvorejar, ia se apagando lentamente, escapando dos seus olhos febris e esgueirando-se até perder-se entre as grandes árvores do bosque. Teve vontade de saltar pela janela e de ganhar asas como um cavalo mitológico para dele não se perder. Quando finalmente a cena se desfez, e a silhueta do suposto casal desapareceu como que por encanto, ela voltou para a cama e quis recuperar o sonho, mas o bulício do amanhecer, um bem-te-vi e uma buzina ao longe sufocando o canto dos galos a avisavam de que já era tarde. O dia estava nascendo carregado de maus presságios.
Oh, Senhor!”
Sobre o autor
Jailton Batista, ex-jornalista, é autor de “Duas Mulheres, Quatro Amores e uma Guerra Civil”, seu romance de estreia, editado no Brasil e Angola. “As Voltas do Mundo” é o seu segundo livro. Baiano radicado em Goiânia, é mais conhecido por sua militância como executivo da indústria farmacêutica. É atual diretor-superintendente do Laboratório Vitamedic, empresa do grupo José Alves.