“Jornalismo-telefônico” impede “O Popular” de colocar repórteres nas ruas para ouvir fontes
15 dezembro 2019 às 00h00
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Em três reportagens, o jornal informa que não conseguiu falar com o outro lado. Por quê? Por que jornalistas querem ficar na redação?
“O Popular” é um jornal equilibrado e busca apresentar todas as versões dos fatos, ouvindo as fontes de maneira consequente. Ultimamente, porém, os editores não estão percebendo uma questão que está se tornando recorrente e, portanto, grave. Alguns repórteres, talvez por falta de empenho, não estão conseguindo ouvir todas as partes e o leitor acaba não tendo uma exposição ampla do que está acontecendo. Tome-se como exemplo a edição de quinta-feira, 12.
Na reportagem “Governo quer extinguir 18 fundos do Estado”, o repórter escreve no parágrafo final: “A reportagem buscou resposta da Secretaria de Cultura sobre o desencontro de informações, mas não obteve resposta até o fechamento da edição”. Ora, por que o jornalista não foi ao encontro do secretário, diretamente, ou não entrevistou a secretária da Fazenda, Cristiane Schmidt, ou não falou com a assessoria de comunicação do governo? Não se sabe se é o caso, mas repórteres, cada vez mais, estão fazendo matérias por telefone e, se não conseguem falar com as fontes, optam pela atitude mais cômoda: escrevem que elas não foram encontradas e não se manifestaram. Confortável para os repórteres, é. Mas não para os leitores. Ressalva: o texto, fora não ter apresentado a versão do secretário de Cultura, não é de má qualidade.
A reportagem “MP entra com ação para anular benefício concedido à JBS”, assinada por “Redação” — quer dizer, trata-se de um texto da “cozinha” do jornal —, contém o mesmo problema da anterior: “‘O Popular’ tentou contato com a defesa do ex-governador Marconi Perillo e também com a assessoria de imprensa da JBS. A reportagem não obteve retorno de ambas as partes até o fechamento desta edição”. O advogado do ex-governador não tem escritório em Goiânia?
O fecho do texto “Juiz dá 72 horas para a volta dos radares móveis às rodovias”, da Agência Estado, parece ser da redação de “O Popular”: “A reportagem não obteve posicionamento da Advocacia-Geral da União e Polícia Rodoviária Federal até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto a manifestações”. Os editores podem pensar que não, mas os leitores costumam estranhar tal tipo de jornalismo — o que não consegue falar com as fontes e, por isso, apresenta reportagens incompletas.
Outro problema de “O Popular” é que continua publicando reportagens de agências de notícias de maneira excessiva. Como a comunicação mudou, as matérias, publicadas, chegam velhas aos leitores. Os editores do jornal deveriam pelo menos atualizá-las — como uma consulta breve aos jornais que estão na internet ou aos telejornais diários. Outra coisa: se as informações estão disponíveis o dia inteiro, por que “O Popular” precisa comprá-las das agências? A redação e a empresa não teriam percebido os novos tempos do jornalismo? O jornal deixa a sensação no leitor, fora as reportagens exclusivas, de déjà-vu. Quando chega às bancas e às mãos dos assinantes, “O Popular” está “velho” e o leitor percebe que já leu tudo na internet ou viu na televisão.