Meios de comunicação que não produzem conteúdo exclusivo estão perdendo credibilidade e leitores

Na semana passada, dei uma palestra no Tribunal de Contas dos Municípios sobre a Imprensa e a Operação Lava Jato. Ao término, uma pessoa pediu meu telefone e enviou uma mensagem, via WhatsApp: “Como você avalia os jornais online do país?” Não é fácil responder. Porque, apesar de consultar alguns jornais — sou assinante do “Estadão”, da “Fo­lha” (via UOL), do “Zero Hora”, todos exclusivamente na internet, da “Veja” e da “Piauí”, no formato impresso —, nunca os estudei de maneira comparativa com a fi­na­lidade de retirar conclusões detidas. Arrisco, porém, um breve comentário e friso que o “problema” é nacional, não ocorre apenas em Goiás.

Os jornais online estão se tornando escravos uns dos outros, quer dizer, estão se repetindo. Ocorre mais ou menos assim: os repórteres e editores verificam o que está “bombando” na rede e aí “cozinham” os textos e publicam (jun­to com vídeos inescapáveis), com ligeiras alterações — para não configurar plágio. Há exce­ções, aqui e ali, mas a regra é a des­crita. Como ficam sabendo que o assunto é quente? Nem precisam consultar as redes sociais ou as listas das reportagens mais lidas. Basta perceber o potencial do escândalo e postar uma “re­por­tagem” (que nada tem de re­por­tagem, embora seja publicada como tal; na verdade, é pura “recortagem”). Depois, para po­ten­cializá-la, “é” preciso publicar outra matéria que, mesmo sem acres­centar nenhuma informação no­va ou relevante, mantenha o as­sun­to aceso, em voga.

A regra, portanto, é a reprodução dos textos alheios, com en­fo­ques idênticos — e raramente com o acréscimo de algumas aná­li­ses (até os erros, mesmo quando evidentes, são repetidos).

Há uma saída que, embora simples, tem sido ignorada: a produção de textos próprios, de re­por­tagens de qualidade, menos apressadas. A redação pode es­ca­lo­nar os serviços. Um grupo cui­da do factual, daquilo que precisa ser publicado imediatamente, e ou­tro grupo trabalha com textos mais bem elaboradas (aliás, mes­mo o factual pode ser mais bem ela­borado e ter mais vida, sem me­nos burocrático). As equipes podem se revezar. Jornais que não produzem conteúdo próprio pouco a pouco vão perdendo cre­di­bilidade e, anote, leitores.

Há outro problema: não dá a mí­nima vontade de ler a maioria das publicações online — dada a in­digência dos textos, em geral re­digidos num português estropiado (a linguagem é quase sempre bélica: as pessoas não “dizem”, não “afirmam” — elas “detonam”, “fuzilam”, “disparam”. Usa-se “através” quando o correto é “por meio de” ou “por intermédio”). O vocabulário é de uma pobreza fran­ciscana. As reportagens são “des­motivadas” e cópias literais — o que denota falta de esforço dos repórteres — de “relatórios” en­viados pelas fontes. As fontes, se são mesmo fontes, são, no ge­ral, os verdadeiros repórteres.

Há um vício que, talvez iniciado em “O Popular”, começa a fa­zer escola. Se um indivíduo que as­sediou uma mulher é rico — um médico, como aconteceu re­cen­temente —, os jornais, não só as versões onlines, não publicam seus nomes. Como se houvesse cri­me sem criminoso definido. A te­se dos que não publicam os nomes parece pertinente: as pessoas são suspeitas, não são, a ri­gor, acusadas e muito menos condenadas. Seria lógico, é claro, se a norma servisse para todos, e não para pessoas consideradas socialmente “importantes” — ao me­nos para alguns repórteres, edito­res e proprietários de jornais “se­le­tivos”.

Outra questão me parece crucial: os jornais precisam divulgar de maneira adequada a sua produção de qualidade, e não apenas o lixo que copia sem reciclar. Quem publica apenas joio um dia se torna joio. Quem edita e dirige jor­nais deveria ler com atenção o que se disse e sugeriu acima.