Jornais goianos dizem que donos de restaurantes são investigados por sonegação mas não citam seus nomes
17 novembro 2024 às 00h00
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Alguns dos melhores jornais e sites de Goiás inventaram uma nova espécie de jornalismo. Contam os fatos, mas omitem os autores da “ação”.
Acionado por oito leitores, verifiquei várias reportagens — todas parecidas com relatórios policiais —, divulgadas recentemente, sobre sonegação fiscal praticada por empresários do ramo de restaurantes. Com a ressalva de que, por conter dados objetivos — que possam levar o inquérito a se tornar (ou reforçar o) processo na Justiça —, a investigação da Polícia Civil certamente é mais objetiva e ampla.
Dos jornais e sites que li, as reportagens contam que, dada uma sonegação de “quase 3 milhões de reais” — podendo chegar a 6 milhões, para uma publicação, ou 9 milhões, para outro jornal —, a Polícia Civil de Goiás cumpriu mandados de busca e apreensão em restaurantes localizados nos setores Marista, Oeste, Eldorado e Alphaville Flamboyant (“próximo da GO-020”, informa uma publicação, omitindo o nome do bairro).
São sete as pessoas investigadas, informam os jornais. Uma delas chegou a ser presa por “posse ilegal de munição”. As publicações tipificam os possíveis crimes: “Associação criminosa”, “sonegação fiscal” e “falsidade ideológica”. De acordo com as reportagens, transcrições parciais do apurado pela polícia, há registro de empresas em nomes de “laranjas”.
Porém, todas as publicações lidas omitiram tanto os nomes dos proprietários quanto dos restaurantes. Os supostos crimes, para a polícia, têm autoria e nomes configurados — os relatórios oficiais devem dizer isto, é claro. Entretanto, ao menos para os jornais, os crimes não têm autoria.
O que está acontecendo com o jornalismo goiano? Não sei qual é exatamente a orientação das redações. Mas é claramente equivocada. Porque estão praticando o anti-jornalismo? Os jornalistas aprenderam este tipo de jornalismo onde? Nas universidades, goianas ou não, tenho certeza que não foi. Editores e proprietários de jornais que aderiram a este “novo” tipo de jornalismo precisam repensar o que estão fazendo. Estão cometendo um “crime” contra a verdade factual, contra o bom jornalismo.
Os jornais estariam protegendo anunciantes, sobretudo anunciantes poderosos? Os jornais não querem execrar os empreendimentos? A polícia estaria “exigindo” ou “sugerindo” a não publicação de nomes? Os policiais estariam se tornando editores informais da mídia (estariam “selecionando” as informações)? Não se sabe. Mas uma coisa é certa: este tipo de jornalismo vai se tornar, a qualquer momento, escândalo nacional.
O que se sabe é que, ao omitir os nomes, as publicações não estão praticando jornalismo de qualidade. Talvez seja possível sugerir que estão fazendo uma espécie de “jornalismo-metadinha”. Quer dizer, publicam o que aconteceu, mas não dão a informação completa, deixando o leitor a ver navios. Portanto, resta um jornalismo impreciso e, sem dúvida, pouco ético.
(Já a sra. do caso do Tio Paulo foi execrada por quase todos os jornais do país, inclusive por aqueles que omitiram os nomes dos sonegadores em Goiás. Aos pobres, o porrete; aos ricos e poderosos, luvas de pelica.)