O ensaísta é o miniaturista das ideias. Isto não quer dizer, porém, que seja superficial, e sim que é capaz de concentrar ideias num texto com poucas palavras.

O ensaio minimalista, e ainda assim denso, é capaz de levar o leitor a pensar e, por vezes, a buscar outras ideias formadoras.

O objetivo do ensaísta não é fazer cabeças, persuadir para conquistar discípulos ou, como se diz no momento, seguidores. Sua intenção é muito mais iluminar a realidade ou um cantinho esquecido da vida. Mais do que militância, o que incentiva é uma espécie de despertar. Num espaço curto, convida o leitor, ao modo de Platão, a rever o consenso (e o sentido das coisas e fatos), não para dinamitá-lo, mas para observá-lo de modo diferenciado — o que pode incentivar à construção ou exposição de novas ideias.

Jorge Wilson Simeira Jacob é um ensaísta de primeira linha. Quando leio seus textos, e li dezenas, sempre penso em Montaigne e no extraordinário livro “Seis Propostas para o Próximo Milênio”, no qual o escritor italiano Italo Calvino fala de valores permanentes, como leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência.

Na prosa de Jorge Simeira — sua escritura vai além do jornalismo, tanto que, de cara, nota-se um estilista da Língua Portuguesa — há os valores propostos por Italo Calvino. Destaco, sobretudo, a leveza.

Há vivacidade — uma jovialidade — e leveza nos ensaios do autor. Por certo, ele se impõe uma missão educativa das novas gerações, mas não é um mestre dogmático. Porém, ao estilo dos gregos antigos, não planeja fazer cabeças. O que ele quer é “abrir” cabeças, por isso seus ensaios, mais do que convencer, são uma forma de ensinar a pensar. O ensaísta convida o leitor a “retirar” a roupa do mundo para entendê-lo de maneira mais ampla e objetiva.

Neste mundo turbulento, em que as ideias — se é que são ideias — são transformadas em mísseis destrutivos, os ensaios serenos e equilibrados de Jorge Simeira são luminosos. Um oásis — real — no deserto de ideias e inflação de pensamentos eunucos.

Jorge Simeira é um ensaísta liberal — daí a irritação com o Estado pantagruélico. Trata-se de um leitor de Friedrich Hayek e Ayn Rand — uma escritora-pensadora —, mas aberto ao diálogo com os contrários. Tanto que, em alguns de seus artigos, expõe o pensamento contrário ao seu, cuidadosamente, e só depois procede à crítica. Há aí o filósofo por trás do ensaísta. O ensaísmo, claro, deve ser visto como derivação da filosofia.

Livro traduzido por Jorge Wilson Simeira Jacob | Foto: Jornal Opção

A busca da igualdade social é uma impossibilidade real? É provável que aquilo que move o mundo são as profundas diferenças entre os seres humanos. Sociedades que buscaram a igualdade total entre os homens, quase sempre a fórceps e fuzis (os meios, sabe-se, podem corromper os fins), não duraram muito.

O socialismo resistiu na União Soviética por 74 anos. Parece muito e é para aqueles que sofreram sob o tacão do stalinismo — que não morreu em 1953 com o falecimento de Ióssif Stálin. Por que o socialismo ruiu? Por que não “aguentou” competir com o capitalismo dos Estados Unidos, europeu e asiático? Em parte, sim. Mas os indivíduos foram “desistindo”, aos poucos, do sistema que prometia “igualdade” (e, para tanto, retirava a liberdade), mas gerava mais pobreza coletiva do que distribuição adequada de bens e serviços.

Os ensaios contracorrentes de Jorge Simeira não fazem um diagnóstico necessariamente cruel da vida sobre o socialismo (e, frise-se, o socialismo é sempre cruel com a vida e a liberdade dos indivíduos) e da sociedade “estatizada”, como a brasileira. De maneira realista, eles apontam problemas e sugerem caminhos.

Montaigne: ensaísta francês | Foto: Reprodução

Realista, da estirpe de Isaiah Berlin e John Gray (que já mostrou o caráter “religioso” do marxismo), Jorge Simeira é um ensaísta que duvida das ideias prato-feito. As ideias belas, como o socialismo, às vezes geram resultados feios — como cerca de 100 milhões de pessoas mortas tão-somente em dois países, a União Soviética de Vladimir Lênin e Stálin e a China de Mao Tsé-tung.

Pode-se sugerir que Jorge Simeira endeusa o mercado? Não. O fato de ser um apóstolo do mercado, e daí se apresentar como um crítico do Estado, não significa que seja obtuso em relação aos problemas reais da sociedade capitalista. Porém, como se sabe, o capitalismo é como a democracia, ou seja, pode não ter uma excelência 100%, mas não inventaram nada melhor.

Os temas dos ensaios de Jorge Simeira são variados. Porque, a partir de qualquer assunto, ele consegue articular ideias sempre interessantíssimas — diria Mário de Andrade.

O ensaísta Silviano Santiago certamente diria que escrever bem é uma obrigação. De fato, é. Mas não basta escrever bem, ter o domínio da língua. É preciso conectar e condensar ideias, torná-las límpidas. E clareza é outra virtude de Jorge Simeira.

Diz-se que determinados escritores são mais preocupados com a forma do que com o conteúdo e vice-versa. Mas os melhores textos são aqueles em que forma e conteúdo estão em sintonia. É o caso dos textos de Jorge Simeira.

Luz, mais luz. É o que parece sugerir Jorge Simeira com seus ensaios curtos e luminosos.

Nota

O texto acima é o prefácio do livro “As Minhas Reflexões”, de Jorge Wilson Simeira Jacob.