Sem George Saint-Pierre e Anderson Silva, e com Cain Velasquez em má fase, a empresa dos irmãos Fertitta, dirigida por Dana White, precisa do carisma e da versatilidade do grande lutador

Jonathan Dwight Jones, o Jon Jones, é um grande lutador de MMA e, sobretudo, um grande negócio para o UFC dos irmãos Fertitta e de Dana White. Sem Anderson Silva, George Saint-Pierre, Jon Jones e com Cain Velasquez aparentemente fora de forma, as lutas do UFC estão, no geral, sonolentas. Aqui e ali, há uma disputa assistível. Alguns velhinhos foram chamados de volta. Andrei Arlovski só retornou ao octógono, e lutando até bem, por falta de novas estrelas. Os agenciadores do UFC estão tentando usar o passado para iluminar o presente — tão desfocado.

O retorno de Jon Jones em 2016 pode injetar dinheiro no UFC, que, depois de um início pujante, não anda bem das pernas. A ampliação do contrato com a Reebok, criando um monopólio, resulta de que Dana White quer reorganizar o faturamento da empresa. O telespectador por certo deve ter percebido que, ao repetir lutas antigas, aparecem “manchas” nos shorts dos atletas para esconder seus patrocínios, que eram livres.

Na terça-feira, 29, a Justiça de Albuquerque, nos Estados Unidos, decidiu que Jon Jones não irá para a cadeia. Nos próximos 18 meses, em liberdade condicional, o lutador estará sob observação. Usuário ou ex-usuário de maconha e cocaína, terá de visitar instituições de caridade para ministrar palestras e falar para crianças. Em abril deste ano, Jon Jones furou um sinal vermelho e bateu num automóvel no qual estava uma mulher grávida. Ela quebrou um braço, mas, mesmo assim, o atleta fugiu e não lhe deu assistência. No seu carro, a polícia encontrou maconha e um cachimbo.

Ao juiz Charles Brown, logo depois de ouvir a sentença, Jon Jones disse: “Estou muito feliz por ser capaz de colocar esse episódio para trás. Minhas ações causaram dor e inconvenientes para a vida de outras pessoas e peço, de verdade, desculpas e aceito toda a responsabilidade. Estou trabalhando forte durante este período afastado do meu esporte para crescer e amadurecer como homem, para nada parecido com isso acontecer novamente. Aprendi muito com isso e estou determinado e ser uma pessoa melhor por causa disso”. Um texto, claro, ensaiado com seus advogados, mas possivelmente verdadeiro.

[Jon Jones e Daniel Cormier, com Dana White no centro: o primeiro vai tentar retomar o cinturão]

Durante a audiência, orientado por seu advogado, que articulou o acordo, Jon Jones afirmou: “Estou aqui para aceitar toda a responsabilidade pelos meus atos. Espero que vocês possam dar a chance de me reerguer”.

Dana White esteve no julgamento para prestar solidariedade ao ex-campeão dos meio-pesados. Porque o empresário sabe que sua volta ao octógono pode reduzir a crise do UFC. Jon Jones é apontado como um profissional simpático, acessível. Há algum tempo, concedeu entrevista a um jornalista goiano (radicado na Espanha) e, quando o repórter percebeu, desesperado, que a gravação falhara, não hesitou em repeti-la. Anderson Silva, estrelíssima, soltaria os cachorros e não concederia outra entrevista.

Se estiver em forma, em 2016, Jon Jones certamente reconquistará o cinturão. Ele tem apenas 28 anos e pode lutar bem pelo menos até os 35 anos. O ex-peso-pesado Daniel Cormier é forte, está em forma, mas não é páreo para Jon Jones, sobretudo se este estiver motivado, como provavelmente estará nas próximas lutas, para recuperar o tempo (e o dinheiro) perdido. Anthony Johnson é tremendamente forte, mas, se levado para o chão, desmorona. “Rambo” ganha todas quando parte para o ataque e o oponente não consegue reagir de imediato. Contra um lutador versátil, como Jon Jones, que luta bem em pé e no chão, não tem qualquer chance.

Resta saber se Jon Jones dará um tempo nas drogas. Se não sucumbir à cocaína, uma droga que derruba atletas — e não apenas devido ao doping —, reconquistará a coroa de rei do meios-pesados e, por certo, salvará o modorrento UFC de sua crise financeira.

A empresa dirigida por Dana White divulgou uma nota: “A organização do UFC está ciente de que Jon Jones chegou a um acordo judicial com as autoridades de Albuquerque decorrente de um caso de acidente de automóvel no início deste ano. Como resultado, por meio do escritório de advocacia de Las Vegas Campbell & Williams, o UFC fará uma revisão completa do acordo antes de discutir um possível retorno de Jones à competição”. É uma nota na tradição americana, quer dizer, de respeito às decisões judiciais como pedra de toque da democracia.