Nas guerras, quando se tem dificuldades de obter informações confiáveis, o que se diz sobre dados — mortes de jornalistas, por exemplo — deve ser visto e revisto com extremo cuidado. Os dois lados do conflito, o israelense e palestino, mentem, de maneira deliberada ou não, e, por vezes, ressentem-se de falta de informação objetiva. Por vezes, as batalhas geram “escuros” em que não há clareza para nenhuma das partes.

De acordo com a organização não-governamental Comitê para a Proteção dos Jornais (CPJ), 31 jornalistas foram mortos no conflito Israel versus Hamas. Oito ficaram feridos e nove estão desaparecidos ou detidos. Os números são aproximados e, possivelmente, subestimados.

O CPJ informa que, dos 31 jornalistas mortos, 26 são palestinos, quatro são israelenses e um é libanês (tais números podem estar subestimados, insista-se) O maior número de palestinos tem a ver com o fato de que, por causa do bloqueio de Israel, tão-somente repórteres palestinos operam na Faixa de Gaza. São eles que estão enviando imagens e informações aos meios de comunicação de todo o mundo.

Os quatro repórteres israelenses — Roee Idan (a mulher e a filha também foram mortas), Ayelet Arnin, Shai Regev e Yaniv Zohar (com ele foram mortas a mulher e duas filhas) — foram assassinados pelo Hamas dentro do território de Israel. Foram mortos porque eram jornalistas? Não se sabe. O mais provável é que, como outras pessoas, estavam na linha de tiro dos terroristas.

Os palestinos foram mortos porque eram jornalistas? É provável que não. As tropas israelenses certamente, bombardeando de longa distância, não estão fazendo mira em repórteres. As mortes têm a ver com o ocaso? Em parte, sim.

Mas a morte dos profissionais da imprensa mostra, de maneira evidente, que a caçada não é exatamente ao Hamas, e sim a qualquer um que seja palestino (a lógica seria esta: se o Hamas matou israelenses “inocentes” — civis — por que não matar palestinos “inocentes”, igualmente civis, para que sofram na pele o que os israelenses sofreram?).

Pode-se contrapor: Israel está atacando locais onde há informações de presença de militantes do Hamas. É plausível.

Entretanto, quando bombardeiam de maneira indiscriminada, em áreas densamente povoadas, é óbvio que não se matará apenas terroristas. É o que acontecendo. Então, velhos, crianças, adolescentes, adultos, jornalistas — pessoas que não têm envolvimento direto com membros do Hamas — estão sendo mortos (assassinados) e vão continuar sendo mortos.

Cito, a seguir, nomes de alguns jornalistas palestinos mortos, a partir de um material divulgado pela BBC: Salma Mkhaimer (freelancer, pai, mãe e filho também foram mortos), de 31 anos; Doaa Sharaf (Rádio Al-Aqsa, afiliada ao Hamas. Seu filho também morreu); Muhammad Imad Lobbad (do site Al-Resalah), de 27 anos; Rushdi Siraj (da Ain Media, fornecedora de serviços de mídia), de 31 anos; Mohammed Ali (Rádio Al-Shabad); Khalil Abu Atherah (cinegrafista da TV Al-Aqsa); Sameeh al-Nadi (diretor da Al-Aqsa), de 55 anos; Muhammad Baalousha (jornalista e gerente financeiro do canal de mídia Palestine Today. A família morreu junto com ele); Youssef Dawwas (redator do jornal “Palestine Chronicle”); Salam Mima (jornalista freelancer, toda a sua família morreu).

Um bombardeio de Israel matou Issam Abdallah, jornalista de vídeo da Reuters. Ele foi morto no Líbano, possivelmente por um bombardeio de Israel (que está investigando o fato).

O CPJ sublinha que repórteres são “civis que realizam um trabalho importante” e “não devem ser alvo das partes em conflito. Os jornalistas de toda a região estão fazendo grandes sacrifícios para cobrir este conflito devastador”, afirma Sherif Mansour, coordenador do CPJ no Oriente Médio.