Ainda existem reis e monarcas em geral por todo o planeta, inclusive nas democracias do mundo ocidental. Mas ninguém – nem mesmo o papa, que de fato governa um Estado – é tão laureado como quem coloca na cabeça a coroa do trono britânico.

Em meados da terceira década do século 21, o ritual medieval resiste e se serve das ferramentas de comunicação para se divulgar. Mas o que impressiona, de fato, é como a imprensa mundial ainda se embasbaca com todas as firulas do rito monótono.

No Brasil, emissoras de TV e os principais portais noticiosos se renderam, como sempre, à cobertura interminável da cerimônia da família real do Reino Unido. Desde a sexta-feira, os britânicos invadiram as páginas e telas dos veículos de comunicação nacional com algo que, no fundo, não vale nada de útil.

Não que a nobreza britânica seja “inútil” completamente. É por meio dela que o outrora maior império político-econômico do mundo ainda mantém a pose e, ainda que no processo de “décadence avec élégance”, obtém divisas importantes de diversas formas. A empresa de consultoria FastCompany levantou, em 2018, números que envolviam a família real do Reino Unido. É notória a influência dos nobres em relação à indústria da moda, turismo, entretenimento em geral e, claro, souvenires. Cada britânico que paga imposto sustenta, por mês, a turma do rei Charles com mais de 6 reais. Mas, o detalhamento mostra que, no fim, o impacto que os monarcas geram na economia do Reino Unido vale, sim, a pena.

Talvez seja essa faceta que a cobertura pudesse retratar de forma mais ampla: o que aquilo significa para a atualidade? O que liga o rei Charles ao Brasil? Nos canais noticiosos das TVs por assinatura até que houve um maior aprofundamento sobre, por exemplo, esse elo, explorando o encontro do novo monarca com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a possibilidade de o País receber até meio bilhão de reais para investir na proteção da Amazônia.

Seria possível, da mesma forma, explicar como se construiu a riqueza do império britânico, cuja história é o pano de fundo de todo o grande alcance que tem a coroação do rei de lá em relação ao da Suécia ou da Bélgica.

De qualquer forma, em relação aos atuais acontecimentos em terras nacionais, é difícil negar que a cobertura de algo tão distante de nossos propósitos trouxe uma overdose de informações dispensáveis.