Homem diz que vai matar jornalista da Folha de S. Paulo porque ele é gay
03 outubro 2017 às 12h26
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Problema não é Fernando Oliveira, Fefito, ser gay. Barbárie é querer assassinar uma pessoa porque ela é homossexual. É uma aberração
A democracia é irmã gêmea da liberdade de expressão. Porém, por vezes, a lei precisa entrar em cena para penalizar aqueles que exageram, falseiam, mentem e ameaçam. Fernando Oliveira, o Fefito, da “Folha de S. Paulo”, é um jornalista sério e competente. Como tal — profissionalmente — deve ser avaliado. Sua vida pessoal, o fato de ser homossexual, não diz respeito aos leitores e quaisquer outras pessoas. Marcelo Valle Silveira Mello não pensa assim e enviou uma mensagem, por e-mail, com ameaça grave ao repórter. Ele disse que vai descarregar seu revólver 38 no profissional e o ofendeu com palavras de baixo calão, regista o Portal Imprensa.
“Alguém me mandou um e-mail dizendo que sabe de todos os meus horários, que vai descarregar um 38 em mim por um único e simples motivo: eu sou gay. O jurídico do jornal vai me orientar no que fazer, mas tô publicando isso aqui porque se acontecer algo comigo — não acho que vá —, todo mundo já sabe quem foi”, escreveu Fernando Oliveira. A história da humanidade sugere que o jornalista deve mesmo ter cuidado, procurar a política e processar Marcelo Valle Silveira Mello. As pessoas, fanáticas ou não, podem matar (atiraram no presidente Ronald Reagan e no papa João Paulo 2º e mataram John Lennon. Então, todo cuidado é pouco). “Pegadinha ou vida real, não se ameaça ninguém de morte. E eu não vou ter medo. Eu não vou varrer minha vida pra baixo do tapete. Eu vou estar atento e forte. E a cada dia mais orgulhoso de quem sou. Minha vida vale muito. E a sua também. O ódio de ninguém não vai parar o amor em meu coração. Sejamos firmes!”, escreveu Fernando Oliveira.
Reportagem da revista “IstoÉ”, de 2015, contou sobre outras ações de Marcelo Valle Silveira Mello. “Ele foi o primeiro condenado” pela “Justiça brasileira por crime de racismo na internet, em 2009. Mello foi” penalizado “com um ano e dois meses de prisão por se posicionar de maneira preconceituosa contra as cotas na UnB. Em 2005, escreveu mensagens o Orkut dizendo que negros eram ‘burros, subdesenvolvidos, incapazes, ladrões’”, relata o Portal Imprensa.
No recurso, por ter alegado insanidade — o que não parece ser o caso, que sugere mais um discurso ideológico articulado —, Marcelo Valle Silveira Mello foi absolvido. Depois da absolvição, voltou ao ataque, em 2015, sugerindo que estudantes são “vadias bissexuais imundas” e “degeneradas”. Ele sugeriu que militantes do movimento negro são “cotistas de bosta” e escreveu que os gays são “maconheiros cheios de Aids”. O discurso do ódio (que nada tem a ver com liberdade de expressão) incentiva, de maneira direta, a violência.
Num blog, Marcello Valle Silveira Mello divulgou um “guia do estupro”. Segundo o Portal Imprensa, trata-se de “um detalhado passo a passo para abusar de estudantes na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, interior de São Paulo”. Caso de psiquiatra? Tudo indica que é muito mais um caso para a polícia, depois, para a Justiça.
Não existe homofobia no Brasil. Olha que e-mail lindo eu acabei de receber. Uma bela ameaça de morte. pic.twitter.com/GJBq1WuJWq
— Fernando Oliveira (@fefito) 29 de setembro de 2017