themorgn (1)Na primeira metade da década de 1940, a Europa estava praticamente dominada pela Alemanha do nazista Adolf Hitler (discípulo do rei Leopoldo, da Bélgica?). Enquanto a Inglaterra lutava bravamente contra a Wehrmacht, as forças armadas alemãs, a França e a Bélgica, para citar dois países europeus, obedeciam as tropas de Hitler. Muitos franceses e belgas se empolgaram com o nazismo. Quando os Estados Unidos decidiram participar da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Europa estava praticamente agachada, à espera do golpe final e quase admitindo que teria de falar alemão. Os EUA do presidente Franklin D. Roosevelt, depois da hesitação inicial (a sociedade americana não queria participar de uma guerra distante e que, aparentemente, nada tinha a ver com seus interesses), mandou homens para lutar contra os alemães e enviou recursos para a Inglaterra de Winston Churchill e para a União Soviética de Stálin. Historiadores admitem que, sem o farto apoio militar e financeiro dos americanos, a Europa dificilmente teria resistido.

Quase 70 depois do fim da guerra, com a economia da Europa reestruturada, é muito fácil esquecer o apoio dos Estados Unidos e, como fazem os norte-americanos, relegar a bravura dos soviéticos a um implausível segundo plano. Na quarta-feira, 26, o presidente Barack Obama visita o Cemitério e Memorial americano no Campo de Flandes, na Bélgica, onde estão enterrados 368 americanos que morreram na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ele será acompanhado pelo rei Felipe e pelo primeiro-ministro da Bélgica, Elio di Rupo. Porém, quem sabe desmemoriado e certamente percebendo o país de Abraham Lincoln e Barack Obama tão-somente como rei do imperialismo, o jornal belga “De Morgen” publicou uma montagem na qual Obama e sua mulher, Michelle, aparecem como se fossem macacos. O jornal sugere que a montagem havia sido enviada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, no momento, dados aos problemas na Ucrânia-Crimeia, num contencioso com os Estados Unidos.

“De Morgen” inicialmente tentou se defender sugerindo que a montagem havia sido publicada na seção de sátiras e, em tese, o humor é livre para “criticar” o que quiser. Ante a avalanche de críticas, e não apenas na Bélgica, o editor do jornal belga recuou: “Quando você considera o fragmento fora do seu contexto, que funciona corretamente na seção de sátira, então você não vê a piada, mas apenas uma imagem que evoca puro racismo. Nós supomos erradamente que o racismo não é mais aceito, e que, desta forma, não poderia ser objeto de uma piada”.

Ao humor, de fato, se concede uma liberdade ampla. Mas que humor há em apresentar Obama e Michelle como macacos? Nenhum. No caso, é racismo mesmo.

Se

Rudyard Kipling

Se és capaz de manter a tua calma quando

Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando,

E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,

Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,

Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,

E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar — sem que a isso só te atires,

De sonhar — sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires

Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas

Em armadilhas as verdades que disseste,

E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,

E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada

Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,

E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo

A dar seja o que for que neles ainda existe,

E a persistir assim quando, exaustos, contudo

Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes

E, entre reis, não perder a naturalidade,

E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,

Se a todos podes ser de alguma utilidade,

E se és capaz de dar, segundo por segundo,

Ao minuto fatal todo o valor e brilho,

Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

E o que mais — tu serás um homem, ó meu filho!

[Tradução de Guilherme de Almeida]

If

Rudyard Kipling

If you can keep your head when all about you

Are losing theirs and blaming it on you,

If you can trust yourself when all men doubt you

But make allowance for their doubting too,

If you can wait and not be tired by waiting,

Or being lied about, don’t deal in lies,

Or being hated, don’t give way to hating,

And yet don’t look too good, nor talk too wise;

If you can dream — and not make dreams your master,

If you can think — and not make thoughts your aim;

If you can meet with Triumph and Disaster

And treat those two impostors just the same;

If you can bear to hear the truth you’ve spoken

Twisted by knaves to make a trap for fools,

Or watch the things you gave your life to, broken,

And stoop and build ‘em up with worn-out tools;

If you can make one heap of all your winnings

And risk it all on one turn of pitch-and-toss,

And lose, and start again at your beginnings

And never breath a word about your loss;

If you can force your heart and nerve and sinew

To serve your turn long after they are gone,

And so hold on when there is nothing in you

Except the Will which says to them: “Hold on!”

If you can talk with crowds and keep your virtue,

Or walk with kings — nor lose the common touch,

If neither foes nor loving friends can hurt you;

If all men count with you, but none too much,

If you can fill the unforgiving minute

With sixty seconds’ worth of distance run,

Yours is the Earth and everything that’s in it,

And — which is more — you’ll be a Man, my son!