Guerrilha sequestrou 4 diplomatas no Brasil durante a ditadura militar
25 fevereiro 2024 às 00h01
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O livro “1970 — Enquanto o Brasil Conquistava o Tri” (Maquinária Editora, 255 páginas), do jornalista Roberto Sander, contém um bom relato sobre um dos mais duros anos da ditadura civil-militar (1964-1985 — o regime discricionário completa 60 anos no dia 31 de março).
Roberto Sander mescla histórias da ditadura, com seu combate implacável à guerrilha urbana, com histórias sobre a Copa do Mundo de Futebol, realizada no México, em 1970. O repórter relata que, usando sua influência junto ao presidente-ditador Emilio Garrastazu Médici, o craque Pelé negociava casas lotéricas para jogadores, no caso de conquista do tricampeonato. “Para você, Pelé, isso já está assegurado, porque os campeões do mundo de 1958 e 1962 também vão receber”, disse Médici ao jogador do Santos.
Conta-se que o técnico da seleção, João Saldanha, foi o expert que realmente montou a equipe de craques, com Pelé, Tostão (a quem admirava como jogador e homem), Gerson, Carlos Alberto, Clodoaldo, Rivellino e Jairzinho (o ponta-direita que eu, menino de 9 anos, mais admirava — ouvi a Copa de 70 em parte pelo rádio e vi em parte numa televisão da casa do cartorário João Borges, em Porangatu, ao lado dos amigos Neilton, Nilton e Francisco Borges).
Entretanto, por ser de esquerda, não se dava bem com o governo do ditador Médici. O presidente-general forçou a escalação do centroavante Dario, um artilheiro da estirpe dos trombadores, mas João Saldanha decidiu não convocá-lo. Ao mesmo tempo, persistia fazendo críticas à ditadura, inclusive mencionando que havia tortura no Brasil. O presidente da CBD, João Havelange, demitiu o técnico e contratou o cordato Zagallo, que, prontamente, convocou o perna de pau admirado pelo militar gaúcho.
Enquanto integrantes da esquerda eram torturados — muitos militantes foram mortos —, Médici, o mais linha dura dos presidentes, ao lado de Costa e Silva, operava, com o apoio do economista Delfim Netto (“o Kissinger da economia”, dizia-se), o Milagre Econômico Brasileiro. O país chegou a crescer 14% ao ano, mas sem que os benefícios do crescimento fossem compartilhados com as classes sociais mais pobres. A rigor, crescimento não era, na primeira metade da década de 1970, sinônimo de desenvolvimento.
A história do sequestro do avião Caravelle, da Cruzeiro do Sul, ganha registro no livro. A aeronave foi levada para Cuba. Entre os guerrilheiros estavam Marília Guimarães Freire, Cláudio Galeno Linhares (que foi casado com a ex-presidente Dilmar Rousseff), Isolde Sommer, Nestor Herédia e dois goianos — Athos Magno e James Allen da Luz, o comandante da operação. James Allen, nascido em 1938, na cidade de Buriti Alegre, em Goiás, morreu, aparentemente, em 1973, aos 35 anos. Dada sua liderança e ousadia, havia sido “jurado” de morte por militares da linha dura.
Com uma linguagem jornalística, Roberto Sander escreve um livro de qualidade, passível de ser lido numa sentada. A seguir, comenta-se a história do sequestro de três diplomatas estrangeiros, todos capturados para possibilitar a libertação de presos políticos. Um dos sequestros, ocorrido em 1969, não é relatado na obra. Por isso, no texto final, conto o que ocorreu, com o apoio de um livro de Elio Gaspari.
1
Sequestro do cônsul-geral do Japão
O cônsul-geral do Japão em São Paulo, Nobuo Okushi, foi sequestrado por um grupo de guerrilheiros em 11 de março de 1979, no bairro de Higienópolis (também lugar do cativeiro). Ele estava num Oldsmobile 70, com seu motorista Hideak Doi, e sem o apoio de nenhuma escolta policial.
Aos 55 anos, Nobuo Okushi, diplomata experimentado, foi sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária e pelo Movimento Revolucionário Tiradentes. Entre os militantes da VPR, na operação, estavam Eduardo Collen Leite, o Bacuri, Liszt Vieria, Mário Gonçalves, Miguel Varoni, Alcery Maria Gomes Silva e Joelson Crispim. Do MRT participaram Devanir Carvalho, Plínio Petersen Pereira e José Rodrigues Ângelo Júnior.
Ao ser informado do sequestro, o governo de Tóquio pressionou a ditadura para colaborar pela libertação de seu diplomata. Numa reunião, os três ministros militares informaram ao ministro das Relações Exteriores, Mario Gibson Barbosa, que os presos políticos listados pelos guerrilheiros seriam libertados.
A lista continha o nome de cinco guerrilheiros — Shizuo Ozawa (Mário Japa), Otávio Ângelo, madre Maurina Borges da Silva, Diógenes Carvalho de Oliveira e Damaris de Oliveira Lucena. Esta saiu do país “com seus três filhos menores”.
Os libertados foram levados para o México no Caravelle PP-PDX, da Cruzeiro do Sul. A operação foi dirigida pelo general Denizart Soares de Oliveira, delegado regional da Polícia Federal em São Paulo.
O cônsul japonês foi deixado na Rua Ajurá, no Paraíso, em São Paulo. Na entrevista coletiva, Nobuo Okushi admitiu que não havia sido maltratado pelos guerrilheiros e que lhe era permitido ler, todos os dias, os jornais.
A ditadura colocou cerca de 5 mil policiais e militares — da Oban, do Deops e da Polícia Federal — no encalço dos sequestradores. “Dos quinze militantes que participaram da preparação e execução do sequestro, oito foram presos e cinco morreram”, informa Roberto Sander.
2
Sequestro do embaixador alemão
A Unidade de Comando Juarez Guimarães de Brito, da VPR, decidiu sequestrar o embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, de 61 anos, em 1970.
Alex Polari (o planejador), Lúcia Maurício de Alverga, Júlio César Câmara Covelho Neto e Vera Lúcia Thimóteo foram alguns dos operadores do sequestro de Holleben. Os militantes Gerson Theodoro de Oliveira, o Ivan, e Tereza Ângelo, a Helda, alugaram uma casa, em Cordovil, no subúrbio do Rio de Janeiro, para servir de cativeiro.
Acompanhado do motorista Marinho Huttl e do policial federal Irlando Régis, Holleben deixou a embaixada, à noite, para voltar à sua casa, em Santa Tereza. Dirigindo uma Rural Willys, o guerrilheiro José Maurício Gradel fechou a Mercedes do diplomata.
Os guerrilheiros Sonia Eliane Lafoz e José Milton Barbosa atiraram de metralhadora e feriram dois agentes, que estavam na Variant, atrás da Mercedes. Ao perceber que Irlando Régis havia sacado uma arma, Eduardo Bacuri matou-o, com três tiros.
Herbert Eustáquio de Carvalho, armado com uma pistola 45, retirou Holleben da Mercedes e o colocou num Opala. Havia sido o sequestro mais sangrento, com uma morte “e dois agentes feridos gravemente”.
Fluente em inglês, Alfredo Sirkis se tornou a ponte entre os guerrilheiros e o embaixador alemão.
Os guerrilheiros exigiam a libertação de quarenta presos. Alguns nomes da VPR: Carlos Minc, Dulce de Souza Maia, Eudaldo Gomes da Silva, José Lavecchia, Ladislas Dowbor, Liszt Benjamin Vieira, Maria do Carmo Brito, Pedro Lobo de Oliveira e Tercina Dias de Oliveira. Alguns nomes de guerrilheiros de outras organizações: Aderval Alves Coqueiro, Ângelo Pezutti da Silva, Apolônio de Carvalho (que havia lutado na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa), Carlos Eduardo Fayal de Lira, Caros Eduardo Pires Fleury, Cid de Queiroz Benjamin, Daniel Aarão Reis (hoje, um historiador consagrado), Fernando Gabeira, Jeová Assis Gomes, Maria José Carvalho Nahas, Maurício Vieira Paiva, Vera Sílvia Araújo Magalhães. Alguns deles participaram dos sequestros de Charles Burke Elbrick e Nobuo Okushi.
No cativeiro, Holleben foi bem tratado por Alfredo Sirkis e companheiros. Chegaram a lhe dar um comprimido de Valium 5, além de salgados e chá.
Na conversa com Alfredo Sirkis, Holleben disse que “os militares são gente de pouca cultura, poucos aptos a governar. São brutos, imprevisíveis”. Acrescentou que “a violência e o extremismo não resolvem nada”.
De repente, Eduardo Bacuri entrou no quarto, sem capuz, o que irritou Holleben. “Por que não está usando a sua máscara? Não quero ver rostos”, disse. Ele não queria, posteriormente, ter de identificar guerrilheiros para a ditadura. Alfredo Sirkis percebeu que o embaixador “era um liberal típico, contrário a ditaduras e receptivo à causa dos direitos humanos”.
O chanceler Willy Brandt enviou uma carta para o governo brasileiro. Era uma pressão para a ditadura negociar com os guerrilheiros, para possibilitar a libertação do embaixador. Por fim, Médici decidiu libertar os 40 presos listados pela guerrilha.
Os guerrilheiros libertados foram levados no Boeing 707 da Varig para a Argélia. Eles foram recebidos por Khajib Djelloul, representante do presidente Houari Boumédienè, e pelo ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, que estava exilado no país.
Com a dificuldade de conseguir automóveis, os guerrilheiros demoraram a libertar Holleben, que, perdendo a fleuma, esbravejou: “Que falta de organização! Isso é escandaloso!” Entrevistado, o embaixador esclareceu que não havia sido maltratado pelos sequestradores. Mas, por instantes, quando estavam com dificuldade para encontrar um carro, chegaram a pensar em matá-lo.
3
Sequestro do embaixador suíço
Tendo estudado as esquerdas, as variantes revolucionárias, os militares da ditadura não estavam agindo mais às cegas. Com informações privilegiadas, obtidas sob tortura e com infiltrações, agora sabiam muito sobre os guerrilheiros e suas maneiras de operar. Em 23 de outubro de 1970, mataram Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo/Velho. Ele foi barbaramente torturado pela equipe do delegado Sérgio Fleury, num sítio de São Paulo.
Militares e policiais, entendendo cada vez mais do metier guerrilheiro, prenderam vários revolucionários e destroçaram suas organizações. O que sobrou decidiu sequestrar mais um diplomata, agora o embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, de 56 anos.
Enrico Bucher, tido como boa praça, ia para a embaixada da Suíça, no Rio de Janeiro, às vezes sem escolta, contrariando os avisos da Polícia Federal.
No dia 7 de dezembro de 1970, a VPR, sob o comando de Gerson Theodoro de Oliveira, o Ivan, sequestrou Enrico Bucher.
Acompanhado do motorista Hercílio Geraldo e do agente da Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo, Enrico Bucher se dirigia para a embaixada quando seu Buick foi interceptado por um grupo guerrilheiro.
O capitão Carlos Lamarca atirou em Hélio Carvalho, que havia tentado sacar sua arma. O agente morreu no Hospital Miguel Couto.
Os guerrilheiros esconderam Enrico Bucher, numa casa da Rua Paracatu, em Rocha Miranda, no Rio de Janeiro, por quarenta dias.
Aos guerrilheiros, Enrico Bucher disse: “A situação dos presos políticos deste continente, e deste país, é péssima. Mas não posso deixar de estranhar e de protestar: por que logo eu? Não tenho nada a ver com essa situação. Como embaixador, intercedi pelo Jean Marc, presidente da UNE. Tentei fazer valer sua dupla cidadania. Sua condição de suíço. Levei até o chanceler Gibson o problema das torturas, que, segundo fui informado pela família, o rapaz havia sofrido. Ele me respondeu que o Exército já tinha coibido essas práticas por interferência direta do presidente Médici”.
Alfredo Sirkis ironizou: “Pô, o senhor acreditou nisso?” O diplomata suíço redarguiu: “O ministro é um homem distinto. Mas aí existe naturalmente la raison d’Etat’”. Enrico Bucher ressaltou que ficou impressionado com a miséria no Brasil.
Enrico Bucher, com receio de morrer, disse aos guerrilheiros que não tinha a importância do alemão Holleben e do americano Elbrick. “Sou muito menos importante.”
Nas ruas, 3 mil homens caçavam os sequestradores, como se não estivessem preocupados com Enrico Bucher. O governo suíço teve de lavrar um protesto oficial.
Os militares queriam enviar um recado aos guerrilheiros: a tolerância estava próxima de zero.
Eduardo Bacuri, que sofria as torturas mais atrozes nas mãos de Sérgio Fleury e de seus agentes, estava na lista dos guerrilheiros que deveriam ser libertados. Ele nada revelou aos seus captores. Acabou sendo assassinado.
Como a ditadura retardava a negociação, os sequestradores chegaram a discutir o assassinato do diplomata. Alfredo Sirkis era contra. Carlos Lamarca, o chefe do grupo, era favorável, mas, em seguida, recuou e vetou a execução, o que contrariou os demais companheiros.
Boa praça, Enrico Bucher jogava buraco com os guerrilheiros, inclusive como parceiro de Carlos Lamarca. Da lista de 70 militantes que deveriam ser libertados, a ditadura vetou 20 nomes. “Eram membros da luta armada acusados de sequestros e envolvidos em crimes de homicídio”, conta Roberto Sander.
Nova lista foi apresentada, e o governo militar, mais uma vez, refugou. Irritado, Enrico Bucher disse aos seus captores: “Esses gorilas pouco se importam comigo. Só querem impor seu jogo. Preferem me ver morto!”.
Enrico Bucher já estava tão “íntimo” dos sequestradores que era chamado de “Tio”. O governo continuava protelando. “A estratégia era a de desgastar os raptores, desestimulando ações do tipo”, nota Roberto Sander.
Depois de muitas negociações e pressões, o governo de Médici aceitou, em 11 de janeiro de 1971, libertar os 70 esquerdistas indicados pelos sequestradores. A ditadura levou-os para o Chile, que era governado pelo socialista Salvador Allende.
Os guerrilheiros soltaram Enrico Bucher. O embaixador ganhou um disco da cantora americana Joan Baez, com uma dedicatória, em inglês, de Alfredo Sirkis. O suíço disse aos sequestradores: “Bem, depois de todas essas aventuras, acho que vou até sentir saudade de vocês. Engraçado, a imagem que tinha dos guerrilheiros urbanos era a de pessoas mais duras. Pensei que tivessem barba, cabeleiras e fumassem maconha o tempo todo”. No cativeiro, pôde ouvir samba e até Bach e Beethoven. Ao ser libertado, estava bronzeado, o que chamou a atenção dos jornalistas. Os esquerdistas o deixaram tomar banho de sol.
O sequestro de Enrico Bucher talvez tenha sido o canto de cisne dos guerrilheiros urbanos…
Charles Burke Elbrick: 1969
Sequestro de embaixador americano libertou 15 guerrilheiros
O livro de Roberto Sander não relata a história do sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, dos Estados Unidos, porque não ocorreu em 1970, e sim em 1969, durante o “principado” da Junta Militar que substituiu o presidente Arthur da Costa e Silva, que estava doente. Conto o que aconteceu a partir da narrativa do livro “A Ditadura Escancarada” (Companhia das Letras, 507 páginas), do jornalista Elio Gaspari.
A ideia de sequestrar Elbrick foi de Franklin Martins, o Valdir, e de Cid de Queiroz Benjamin, o Vitor, da Dissidência Universitária da Guanabara. A dupla, na casa dos 20 anos, planejava libertar o amigo e parceiro Vladimir Palmeira, que havia sido preso no congresso da UNE em Ibiúna, em São Paulo.
Ao ser avisado por Vera Sílvia Magalhães, a Marta, a respeito da possibilidade do sequestro, Vladimir Palmeira escandalizou-se: “Seria um genocídio. Vão morrer todos”.
Ao verificar a segurança da embaixada, Vera Sílvia notou que o automóvel de Elbrick não era blindado e não havia escolta.
Como era uma organização mignon, a Dissidência Universitária convidou a Ação Libertadora Nacional para participar do sequestro. A ALN enviou Joaquim Câmara Ferreira, o Velho, e Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, para liderar o sequestro.
Qualificado em Cuba, Virgílio Gomes da Silva, de 36 anos, era o quadro, dos operadores diretos, mais preparado do grupo.
Cid de Queiroz Benjamin usou um Fusca para impedir a passagem do Cadillac de Elbrick. Quatro guerrilheiros entraram no veículo e controlaram o embaixador. Depois, o colocaram numa Kombi. O americano tentou escapar, mas Virgílio Gomes da Silva reagiu e o golpeou na testa com um revólver.
Escrito por Franklin de Oliveira — e não pelo guerrilheiro Fernando Gabeira —, um manifesto foi deixado no Cadillac da embaixada.
Os guerrilheiros exigiam a libertação de 15 presos, além da divulgação do manifesto nas emissoras de televisão e nos jornais.
Elbrick foi levado para uma casa na Rua Barão de Petrópolis. O inquilino da residência, Fernando Gabeira, o Honório, ao receber o “hóspede” ilustre — um funcionário do governo do país mais rico e poderoso do mundo —, disse: “Meu Deus, sequestramos o embaixador dos Estados Unidos”.
Ao perceber uma movimentação atípica na casa, uma vizinha alertou a polícia. Um dia depois do sequestro, a Marinha (o Cenimar), que chegou primeiro, e o Exército (o CIE) localizaram o esconderijo dos guerrilheiros.
O chefe do CIE, coronel Adyr Fiuza de Castro, avisou ao general Lyra Tavares, um dos membros da Junta Militar. Apontado como um dos três patetas — a Junta era coordenada por oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica —, Lyra Tavares disse: “Deixe com o Cenimar”.
Um grupo de militares chegou a planejar a invasão da casa, ante a crise de autoridade instalada — Costa e Silva continuava “presidente”, mas não tinha a mínima condição de governar —, mas, dada a força dos Estados Unidos, recuou.
Pressionada pelo governo do presidente Richard Nixon, que apoiava a ditadura civil-militar, a Junta mandou que se lesse o manifesto guerrilheiro em emissoras de rádio e televisão e admitiu que iria liberar os presos, em troca de Elbrick.
Quinze presos foram libertados — entre eles José Dirceu, Vladimir Parreira e Gregório Bezerra (que, membro do PCB, não era guerrilheiro, mas havia sido brutalmente espancado por homens da ditadura) — e levados para o México. A casa com os guerrilheiros e Elbrick estava cercada. Quando os guerrilheiros saíram, levando o embaixador, os militares promoveram um cerco, mas, como era dia de jogo de futebol, os militantes da esquerda conseguiram escapar.
De acordo com Elio Gaspari, “o sequestro de Elbrick foi a mais espetacular das ações praticadas pela luta armada brasileira. Seu efeito político foi desmoralizante para o regime, tanto pela publicidade que a audácia do lance atraiu como pela humilhação imposta aos chefes militares, que, tendo atropelado a Constituição, se viram encurralados por alguns jovens de trabuco na mão”.
Os guerrilheiros haviam vencido o primeiro round, de maneira magistral. Mas os militares promoveram uma caçada gigantesca. Prenderam Antonio Freitas Silva, o Baiano, Claudio Torres da Silva, o Pedro, e mataram Luiz Fogaça Balboni. Manoel Cirilo de Oliveira Neto escapou atirando.
Integrantes da Operação Bandeirante (Oban) prenderam Virgílio Gomes da Silva e o mataram na tortura, a chutes. Seu irmão, Francisco Gomes da Silva, viu o guerrilheiro dando pontapés e cuspindo em vários militares — cerca de quinze —, que o massacraram. O major Benoni de Arruda Albernaz, um dos “notáveis” da tortura, disse àqueles que espancava: “Quando venho para a Oban, deixo o coração em casa”. Mais tarde, Fernando Gabeira levou um tiro, foi torturado e, em seguida, exilado. Um sequestro posterior possibilitou a sua libertação.
O sequestro de diplomata brasileiro por tupamaros