Governo Dilma Rousseff gastou R$ 2,3 bilhões com publicidade e favorece monopólios de comunicação
20 dezembro 2014 às 09h29
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Os grandes jornais e revistas do País arrotam independência, mas também sobrevivem, em parte, graças ao financiamento estatal. A dependência comumente é apontada como típica da periferia do capitalismo, em Estados emergentes e pobres, nos quais os agentes políticos não raro seriam tratados como deuses do Olimpo. Na quarta-feira, 17, a “Folha de S. Paulo publicou a reportagem “Gasto de estatais com publicidade sobe 65%”, acrescentando, no subtítulo, que “empresas controladas pelo governo federal gastaram com propaganda R$ 16 bilhões [o dado preciso é R$ 15,65 bilhões] no período entre 2000 e 2013”. Dos 14 anos apontados, três são referentes à gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e 11 dos governos do ex-presidente Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, ambos do PT.
A “Folha de S. Paulo”, como acontece com as publicações de São Paulo e Rio de Janeiro — que tendem a tratar o governo federal como uma espécie de colônia —, parece lamentar a pulverização “dos veículos que recebem propaganda das estatais. (…) Eles saltaram de 4.398 em 2000 para 10.817” em 2013. Não há nada de ruim nisto e, neste sentido, pode-se dizer que o PT é mais democrático do que o tucanato. Porém, como os dados não mentem, há uma questão que a “Folha” não enfatiza. Os meios de comunicações da maioria dos Estados — do Nordeste, Norte e Centro-Oeste — receberam migalhas. É como se a pulverização fosse mais para inglês ver. Quem faturou alto mesmo foram os veículos de São Paulo e Rio. O maior faturamento é do Grupo Globo, com R$ 4,216 bilhões. A TV Record aparece em segundo lugar — com 1,177 bilhão. O grupo (Rádio e Televisão) Bandeirantes, em terceiro lugar, faturou R$ 1,004 bilhão. A Globosat Programação Ltda. figura em quarto lugar — R$ 380,22 milhões. A Rede TV! recebeu 303,46 milhões. O governo pagou à Abril Comunicações Ltda. R$ 298,43 milhões. A Editora Globo S. A., que pertence ao Grupo Globo, embolsou R$ 248,36 milhões. Ela edita as revistas “Época” e “Época Negócios”. A Globo Comunicações e Participações S. A. ficou com R$ 242,33 milhões. A Editora Abril S. A. — que edita as revistas “Veja” e “Exame” — ganhou R$ 224,97 milhões (o dado certamente deve irritar os petistas ortodoxos, que abominam sobretudo a “Veja”). A empresa Folha da Manhã S. A. — que publica os jornais “Folha de S. Paulo” e “Agora São Paulo” — pôs na sua conta bancária R$ 206,23 milhões. O jornal “O Estado de S. Paulo” faturou R$ 187,52 milhões. A revista “IstoÉ” levou R$ 178,96 milhões. Na conta da TV Globo Ltda. entraram “apenas” R$ 158,46 milhões. As aspas em “apenas” tem uma explicação: o Grupo Globo, ao qual pertence a TV Globo, faturou vários bilhões. O Valor Econômico S. A., que pertence aos grupos Folha da Manhã (informação não prestada pela “Folha”) e Globo, recebeu R$ 128,69 milhões.
Nenhum dos grupos citados pertence a Estados do Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul do País. Pode-se dizer, portanto, que, embora o PT seja crítico contundente dos monopólios na área de comunicação, os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, assim como o do tucano Fernando Henrique Cardoso, favoreceram (e, no caso da petista, favorece) os grandes grupos de comunicação. A pulverização é, por assim dizer, um verdadeiro mico. Jornais, rádios e emissoras de televisão de Estados como Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Ceará, Bahia, Paraná, Maranhão e Amazonas recebem tão-somente migalhas. E com outra desvantagem: o governo do PT anuncia, mas demora a pagar.
A “Folha” mostra que publicações alinhadas com o governo petista recebem recursos que não levam em consideração audiência e acesso. “A ‘CartaCapital’, a revista semanal de menor circulação, aparece como destinatária de R$ 44,3 milhões.” O motivo do “presente”? O alinhamento automático da publicação dirigida e editada pelo jornalista Mino Carta. A revista publicou editorial assumindo que apoia o governo da presidente Dilma Rousseff — o que não é demérito algum. É melhor anunciar do que esconder apoio. A “CartaCapital” é crítica, nem sempre sutil, do tucanato. Piada que se conta, nos bastidores: uma professora pergunta a um jornalista da revista — “Meu jovem, quem descobriu o Brasil?”. Ele responde, sem titubear: “Lula!” Em seguida, a mestra inquire: “Meu jovem, quem ‘afundou’ o Brasil?” Mais rápido do que um míssil americano, o repórter replica: “Fernando Henrique Cardoso e o tucanato!”
A revista “Caros Amigos”, uma crítica radical do PSDB e defensora do petismo, pôs na sua conta, no governo petista, R$ 4,7 milhões.
Os dois blogueiros que mais defendem o governo petista e atacam o governo tucano, Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, receberam, entre 2003 e 2013, R$ 5,7 milhões de R$ 2,6 milhões, respectivamente. O site Brasil 247 recebeu, desde 2011, R$ 1,7 milhão. O portal Carta Maior faturou, de 2003 a 2013, R$ 9,1 milhões. O site Opera Mundi ganhou R$ 2 milhões. A “Revista Fórum” faturou R$ 1,7 milhão. Todos defendem o governo do PT e são críticos viscerais do tucanato.
O curioso é que deputados do PT de Goiás costumam dizer que a mídia local é pró-Marconi Perillo devido às verbas do governo estadual. Entretanto, não fazem nenhuma referência ao fato de que a presidente Dilma Rousseff gastou R$ 2,3 bilhões com publicidade em 2013. “Um desembolso recorde”, frisa a “Folha”. Só as estatais, como Petrobrás, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, torraram R$ 1,4 bilhão. Acrescente-se que tais valores “não incluem gastos das estatais com patrocínio cultural e esportivo”.