O Google é como o amor — pode-se viver sem. Mas não muito bem, é certo. Mas há um problema: enquanto os sócios da big tech se tornaram bilionários, jornais e revistas estão cada vez mais pobres.

O Google, assim como o Facebook e o Instagram, usam o material dos jornais, revistas e agências de notícias e os remuneram muito mal. Na maioria dos casos, sobretudo no Brasil, repassam migalhas dos anúncios.

Os jornais e revistas se tornaram, por assim dizer, escravos modernos do Google e do Facebook. Eles produzem material jornalístico, em geral com custo alto, e o faturamento, quase sempre, vai para duas big techs — que usam as reportagens a bel-prazer.

Se o Brasil dorme, em berço cada vez menos esplêndido, a França decidiu agir. Na semana passada, a Autoridade da Concorrência Francesa, alegando que o Google descumpriu regras de um acordo, multou-o em 250 milhões de euros (cerca de 1,36 bilhão de reais). Os franceses, sempre ciosos de seus interesses, sustentam que a big tech negociou de má-fé.

O Google, com seu aplicativo de inteligência artificial Gemini — ex-Bard —, usou também material de jornais, revistas e agências de notícia da França sem avisá-los. O que, ante o compromisso assumido, configura crime.

Curiosamente, ao contestar mais o valor da multa — que considera desproporcional —, o Google parece admitir que realmente burlou as regras.

No fundo, o que o Google, assim como Facebook, teme é o efeito cascata. O Canadá e a Austrália endureceram as leis e as big techs foram obrigadas a remunerar jornais e revistas, não com a decência devida, mas, ainda assim, com alguma decência. Na Austrália, a mídia recebeu 200 milhões de dólares, em 2021.