Globo prova, com matérias sobre meninos da Tailândia, que vai além do jornalismo de recortagem
15 julho 2018 às 00h00
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Está na moda correspondentes estrangeiros fazerem um jornalismo seguro e asséptico, distante dos fatos
Para cobrir a história dos meninos da Tailândia que ficaram presos numa caverna — comovendo o mundo, revelando a força da globalização —, a TV Globo enviou dois repórteres. Atuando no local, puderam produzir reportagens de qualidade, ouvindo as pessoas e enviando imagens específicas, vívidas e, por vezes, emocionantes.
Nos últimos anos, a Globo tem enviado correspondentes para o exterior, sobretudo para a Europa e os Estados Unidos, mas, possivelmente por motivo de economia, os repórteres têm feito reportagens frias, distantes dos fatos. De suas redações, apresentam acontecimentos no Oriente Médio, em geral com imagens de outras redes. Fica a pergunta: há mesmo necessidade de alguém mudar-se para Londres para, com informações de outros meios de comunicação, informar os brasileiros a respeito do que ocorre na Síria e no Irã? Não há, claro. Como imagens da CNN ou de outras redes, além de informações colhidas em jornais, como “New York Times” e “Washington Post” — que podem ser acessados na internet —, qualquer jornalista minimamente informado pode, a partir do Brasil, “reportar” o que acontece em países distantes.
Mas, se um profissional é apresentado como “correspondente estrangeiro”, o adequado — nem diria ético — é que se desloque para onde estiver ocorrendo os fatos e, de lá, narrá-los. Ultimamente, a Globo decidiu “inovar”. No lugar de o repórter falar da redação, ele vai para as ruas, de onde apresenta os fatos que ocorreram ou estão ocorrendo em nações longínquas. Não deixa de ser jornalismo, mas não é necessário um correspondente para fazer isto.
No caso da Tailândia, o repórter Rodrigo Alvarez, além de outro colega, pôde apresentar o colorido local, inclusive na exibição da dor dos parentes e do povo do país. Fez reportagem, e não, como está na moda, “recortagem”. Paulo Francis (1930-1997), que faria 88 anos em setembro deste ano, morreria de rir do novo jornalismo televisual — seguro, asséptico e sem nenhum brilho.