A poesia não morre e há muito bons poetas publicando livros, como Angélica Freitas, Régis Bonvicino, Nelson Ascher, a decana Adélia Prado, o decano Augusto de Campos, Gabriel Nascente e Edival Lourenço. E tantos outros. Portanto, a poesia, assim como o romance, não morreu. Morrem apenas aqueles que decretam a sua morte.

Veja-se o caso específico de Gabriel Nascente, que, aos 73 anos, não para (apreciava a palavra “pára”, com acento) de surpreender os leitores, aqueles que realmente leem seus livros, e não apenas dão uma vista d’olhos.

Gabriel Nascente é uma máquina de produzir poesia (sua prosa, derivativa da poesia, não é tão boa), e poesia de alta qualidade. Costumo ouvir — e eu mesmo falo a respeito — que sua poesia é desigual. E é mesmo. Mas isto não é um problema. A produção poética de todos os bardos — é possível que haja exceções (quiçá T. S. Eliot) — é desigual, não apenas a do vate goianiense.

Gabriel Nascente: um dos mais importantes poetas brasileiros | Foto: Divulgação

O que impressiona na poesia de Gabriel Nascente não é o fato de que há altos e baixos, e sim a alta qualidade sua poesia. Há uma média de qualidade que precisa ser avaliada. Porque, se for, se verá como sua poesia — derivada dos poetas modernos (brasileiros e estranjas) e de outros nem tão modernos (inclusive parnasianos e simbolistas, e até românticos) — merece um lugar mais adequado ao lado dos mestres poetas.

O que falta a Gabriel Nascente é reconhecimento da crítica especializada (de São Paulo e Rio de Janeiro, nossas neo-metrópoles, e Minas Gerais, semi-metrópole. A UFMG gestou e gesta críticos de excelente qualidade). Sua poesia precisa ser lida pelos melhores críticos do país, o que consolidará seu nome entre os melhores poetas brasileiros (ele certamente é o maior de Goiás, ao lado de Heleno Godoy, Yêda Schmaltz, Valdivino Braz, Edival Lourenço, Aidenor Aires, Luiz Araújo, Afonso Félix de Sousa, Delermando Vieira e Maria Lúcia Félix).

ABL de Getúlio Vargas e José Sarney

A Academia Brasileira de Letras não é, claro, apenas de Letras. Como em outras academias, lá também se faz política e, por isso, há políticos, “cantores” (ou cantor) e “atores” (ou uma atriz) entre seus integrantes (lá, entre os “criadores”, há até escritores). Se o critério fosse apenas qualidade literária, não há a menor dúvida de que Gabriel Nascente já seria imortal. Na década de 1970, o escritor Bernardo Élis ganhou do político Juscelino Kubitschek. Conta-se que a ditadura operou pela derrota de JK. Se o fez, foi um de seus poucos acertos. Porque a prosa do escritor goiano é realmente relevante, chegando a merecer fortes elogios de Guimarães Rosa.

Gabriel Nascente é poeta e vive como poeta, ou seja, não tem poder algum. Aliás, tem muito poder — a sua poesia (que é flor e punhal dos bardos). Mas falo de poder político e poder literário. Como não foi publicado pelas grandes editoras — Companhia das Letras e Record —, seu nome não está firmado no país. Se for bem editado, e se conquistar uma recepção crítica qualificada, se consagrará rapidamente, com facilidade.

O problema de Gabriel Nascente é tempo. Sua idade, 73 anos (não viverá mais 73 anos), não corresponde à sua energia mental. O poeta é, em termos de energia física e criativa, muito mais jovem. Ele está, na verdade, no auge. Sua poesia está mais depurada, eventualmente contida (e não se deve exigir contenção dos poetas). Quando muitos começam a criar, por falta de energia criativa, o prolífico escritor goiano está melhorando. Por sinal, melhorando nem é a palavra exata… porque há poemas antigos de Gabriel Nascente que são muito bons.

Já disseram que a poesia de Gabriel Nascente precisa de editor, para escoimar o joio do trigo. De fato, há joio, mas é pouca coisa (é sua poesia derramada, quiçá de ocasião). Na verdade, há pouco a editar (mas, sim, há o que editar). Porque o trigo prevalece. O bardo produz ouro e prata, mas jamais cassiterita.

O que se precisa mesmo é ler e criticar a poesia de Gabriel Nascente com atenção e interesse. Fico com a impressão de que ele é mais comentado do que lido.