Fidel Castro deixou Havana virar ruína para negar que a sociedade anterior era produtiva e criativa
12 maio 2015 às 16h34
COMPARTILHAR
A não recuperação da arquitetura da capital de Cuba pode ter sido deliberada, sugere filósofo e psiquiatra Theodore Dalrymple
O filósofo, ensaísta e psiquiatra britânico Theodore Dalrymple é autor de três livros sensacionais, “Podres de Mimados — As Consequências do Sentimentalismo Tóxico”, “A Vida na Sarjeta — O Círculo Vicioso da Miséria Moral” e “Nossa Cultura… Ou o Que Restou Dela — 26 Ensaios Sobre a Degradação dos Valores”, publicados pela É Realizações. Um dos ensaios mais candentes é “Não legalizem as drogas”. Sintetizo a seguir a principal tese de “Por que Havana estava condenada”, ensaio de dez páginas. Embora escrito em 2002, não ficou desatualizado no geral, pois Cuba está quase parada, ou congelada, no tempo.
Dalrymple esteve no país governado por Raúl Castro e, “espiritualmente”, por Fidel Castro. Cuba se tornou uma espécie de museu de ruínas, sugere. Mas isto não ocorreu por falta de dinheiro, pois, durante certo período, a União Soviética irrigou a economia cubana. O motivo é ideológico, é produto de uma elaborada construção histórica. “A deterioração deliberada de Havana está a serviço de um propósito profundamente ideológico. (…) O descaso foi contínuo por quase meio século, mesmo quando maciços subsídios da União Soviética ainda afluíam para o país. Um ditador absoluto como Castro poderia ter preservado a cidade caso tivesse desejado, e poderia ter encontrado sem dificuldade um pretexto econômico para agir dessa forma”.
No entanto, a cidade bonita, com uma arquitetura sofisticada, contradizia a tese comunista de que a sociedade cubana — antes da Revolução — era decadente. “Havana ostentava a refutação material de toda a historiografia apoiada pelo ditador” Fidel Castro. “Segundo seu relato, Cuba era uma pobre sociedade agrária, empobrecida em razão de sua relação de dependência com os Estados Unidos, incapaz, sem uma revolução socialista, de resolver os seus problemas. Uma pequena classe exploradora de intermediários beneficiava-se enormemente do relacionamento neocolonial, enquanto as massas estavam afundadas na mais abjeta miséria e pobreza. Mas, em vez disso, Havana era uma cidade extensa, portadora de extraordinária riqueza e grandeza, a qual não podia estar confinada nas mãos de uma diminuta minoria, apesar de haver uma coexistência entre riqueza e extrema pobreza. Centenas de milhares de pessoas obviamente viviam em Havana, e não é plausível que tantas pessoas enriquecessem simplesmente à custa da exploração de uma população rural relativamente pequena. Essa população urbana deve ter sido dinâmica, produtiva e criativa. Sua sociedade deve ter sido consideravelmente mais complexa e sofisticada do que Castro está disposto a admitir, sem antes destruir a justificativa de seu próprio governo”.
Dalrymple acrescenta que “tornou-se ideologicamente essencial que os traços materiais e mesmo a própria memória dessa sociedade fossem destruídos”. O filósofo pergunta? “Quem criou Havana e de onde veio sua magnificência, se antes de Castro só havia pobreza, corrupção e criminalidade? Melhor destruir a evidência.” A recuperação recente de alguns edifícios tem a ver com a necessidade de atrair turistas, que deixam dólares que dão uma sobrevida ao governo da dinastia Castro.
Para o filósofo, “Havana permanece como um medonho aviso para o mundo contra os perigos de monomaníacos que acreditam estar em posse de uma teoria que explica tudo, inclusive o futuro”.