Ex-funcionários movem “17 mil” ações trabalhistas e cíveis contra o Grupo Globo

12 dezembro 2021 às 00h01

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A empresa da família Marinho contesta os números apresentados pelo site Notícias da TV, mas não expõe o número “verdadeiro”
O site Notícias da TV, do UOL, publicou na terça-feira, 7, a reportagem “Processada por 17 mil ex-funcionários, Globo teme dor de cabeça bilionária”. Há pelo menos três problemas no texto.
Primeiro, o site não mostra a pesquisa que comprova que a dor de cabeça do Grupo Globo pode ser “bilionária”. Pode ser? Pode, é claro. Mas não se apresenta a prova.
Segundo, na reportagem, ninguém do Grupo Globo diz que “teme dor de cabeça bilionária”. Há de se concluir que o autor do texto, ou pelo menos do título, está falando pela empresa da família Marinho.
Terceiro, o Grupo Globo enviou uma resposta, depois que a reportagem havia divulgada, e o site, corretamente, a publicou. Porém, se a empresa contesta o dado básico — o número de ações —, seria adequado nuançar o título, expondo uma possível contradições das fontes. Leia a resposta da empresa: “A matéria embaralha ações trabalhistas e cíveis de várias naturezas e chega a um número que nem de longe corresponde à realidade — o número real é muito inferior. Assim como qualquer grande empresa, a Globo tem ações judiciais em curso. Não comentamos detalhes sobre processos judiciais, mas podemos garantir que nosso volume de ações é compatível com o tamanho da empresa e que o acompanhamento das contingências é feito seguindo as melhores práticas do mercado”.
Há uma falha na resposta do Grupo Globo. O jornalismo da rede cobra transparência da sociedade — de políticos e empresários —, mas, quando se trata de falar si, omite informações. Por que não dizer quantas são as ações — se não são 17 mil, quantas são? — e quais os valores financeiros envolvidos? A omissão talvez tenha a ver com o fato de que, mesmo que não sejam 17 mil ações, o número deve ser mesmo muito alto.
O Notícias da TV sublinha que o Grupo Globo tem 17.201 processos movidos por ex-funcionários na Justiça do Trabalho e na área cível. Desde a unificação das empresas, com a criação de “Uma Só Globo”, as ações superaram 4 mil. A rigor, quantas realmente são trabalhistas? As cíveis têm conexão com as trabalhistas? Site muito bem-feito, autor de vários furos de reportagem, o Notícias da TV deveria voltar ao assunto, destrinchando a questão. Por certo, há muito o que dizer. O site poderia entrevistar, por exemplo, os autores das ações de maior valor. Quem são as pessoas — “almas vivas”, diria um escritor ucraniano — por trás dos números?
Notícias da TV informa que “a maioria dos processos foi movida por ex-profissionais de diversas áreas que foram demitidos. O pedido mais frequente nas ações é para comprovação de vínculo empregatício por quem era contratado como PJ (pessoa jurídica)”.
Nos processos, os profissionais dizem que são contratados para uma função, mas exercem também outras. “Um PJ contratado para ser repórter e editor alegava trabalhar ainda como produtor sem ganhar a mais pela nova função”, sublinha o site.
Os valores das ações contra o grupo Globo variam, segundo o site, de 30 mil a 2,9 milhões de reais.
Ante o volume de processos, de acordo com o Notícias da TV, o Grupo Globo está evitando usar o sistema de pessoa jurídica — retomando as contratações via CLT. Assim como outras estrelas do grupo, o apresentador William Bonner, do “Jornal Nacional”, informa o site, voltou a ter carteira assinada. Galvão Bueno, de 71 anos — e prestes a se aposentar, aparentemente —, ainda trabalha pelo sistema de PJ.
Juliano Santana, advogado trabalhista, disse ao Notícias da TV: “A quantidade de processos impressiona até mesmo para uma empresa do tamanho da Globo. A depender do número de condenações, a empresa precisa se preparar e equalizar gastos para cumprir os seus compromissos”.