Ex-assessor de Bolsonaro: Pazuello poderia ter sido preso e incompetência evitou acordo com Pfizer
22 abril 2021 às 23h08
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Fabio Wajngarten revela que Pfizer e governo federal chegaram a fazer um acordo, mas o Ministério da Saúde travou a compra da vacina
A “Veja” que vai para as bancas no domingo — o texto já pode ser lido na internet — contém uma entrevista explosiva do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, o publicitário Fabio Wajngarten. Ele sugere, por exemplo, que o general Eduardo Pazuello caiu do Ministério da Saúde porque circulou, no Palácio do Planalto, que, a qualquer momento, poderia ter sua prisão decretada pela Justiça. “Não sei se era fato ou especulação.”
Wajngarten deve ser convocado pela CPI da Pandemia — ou, como querem alguns, a “Preliminar do Impeachment” do presidente Jair Bolsonaro. Pelo que sugere na entrevista, o publicitário tem muito a dizer. E, embora faça a defesa do chefe do Executivo, a responsabilidade por não se ter vacina em quantidade suficiente e em tempo hábil, o que levou e está levando à morte de milhares — quase 400 mil pessoas —, não é exclusiva do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e de sua equipe. Sobretudo, é do presidente da República, que tem de se responsabilizar por todos os atos do governo, e não apenas de um ou outro ministro. Não se pode culpar apenas auxiliares negligentes e incompetentes. O ex-secretário contrapõe e sugere que assessores passam informações erradas e distorcidas. Ora, cadê a capacidade de discernimento e o bom senso do homem público que, em tese, teria de cuidar da vida, em termos de saúde, de 210 milhões de brasileiros?
O ex-chefe da Secom conta que a Pfizer enviou uma carta para o governo Bolsonaro oferecendo 70 milhões de doses de sua vacina. Além de não se interessar pela proposta, o Ministério da Saúde, sublinha Wajngarten, sequer respondeu à carta do laboratório. Ao saber disso, Wajngarten diz ter procurado o presidente, que o autorizou a reabrir as negociações. “O secretário se reuniu com diretores da Pfizer, discutiu cláusulas, conseguiu reduzir preço [10 dólares; Israel pagou 30 dólares]” e conseguiu o compromisso de “antecipação da entrega… de lotes do imunizante.” As tratativas estão documentadas e serão repassadas à CPI da Pandemia. “Quando liguei para o CEO da Pfizer, eu estava no gabinete do presidente. Estávamos nós dois e o ministro Paulo Guedes, que conversou com o dirigente. Foi o primeiro contato entre a Pfizer e o alto escalão do governo. Guedes disse ‘esse era o caminho’”, afirma o ex-secretário.
Parecia o céu, mas o negócio não foi adiante. Segundo Wajngarten, por incompetência e ineficiência do Ministério da Saúde. Portanto, o governo Bolsonaro foi “negligente no combate à pandemia e responsável direto pela imensa tragédia sanitária em que o país se encontra”, frisa a “Veja”.
Se a vacinação tivesse começado em dezembro, postula o infectologista Julio Croda, da Fiocruz, “milhares de mortes” poderiam “ter sido evitadas”. Os Estados Unidos e Israel compraram a vacina da Pfizer e se deram bem. Não faltam vacinas nos dois países.
Wajngarten avalia que a questão da vacinação pode dificultar o projeto eleitoral de Bolsonaro, em 2022. Cientistas, como Miguel Nicolelis, sugerem que podem morrer mais de 500 mil brasileiros — meio milhão de vidas perdidas. O ex-secretário faz duas perguntas: 1 — “O enlutado esquece a morte de seu ente querido?” 2 — “a família do enlutado credita ao governo do presidente Bolsonaro a morte de seu ente querido?” O ex-chefe da Secom assinala que, se a resposta para a segunda pergunta for “não”, “o presidente segue firme rumo à reeleição”. Se for sim, dançará a valsa do adeus; o que o ex-secretário não diz — só insinua.
O ex-assessor de Bolsonaro não cita Lula da Silva. Mas a ascensão do petista nas pesquisas sugere que os eleitores, e não apenas os enlutados, não estão, ao menos no momento, optando pela reeleição do presidente. O quadro, com uma vacinação em massa e redução de internados e mortes, pode mudar? Até pode. Mas as pessoas, e não apenas as enlutadas, esquecerão da negligência do presidente? Wajngarten diz que ainda está pensando na questão. Estaria lento, ao pensar nisto, como Pazuello em relação à vacinação? Só o tempo poderá apresentar uma resposta adequada. Por enquanto, Bolsonaro vai mal, e Eduardo Pazuello, como ministros de governos anteriores, começa a ser esquecido. E, claro, não pode se transformar no bode expiatório de Bolsonaro. Se for deixado ao léu, pode abrir o “bico” e aí o governo pode ir, de vez, para o beleléu.