A Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch escreveu talvez o melhor livro sobre a guerra entre a União Soviética e o Afeganistão, ocorrida entre 1979 e 1989. Os relatos das pessoas, que se abriram com a jornalista-escritora, são impressionantes e dolorosos. “Meninos de Zinco” (Companhia das Letras, 366 páginas, tradução de Cecília Rosas) é uma obra-prima sobre a dor das vítimas e de seus família e a respeito da irresponsabilidade e da insensibilidade dos governantes.

Na guerra morreram milhares de soviéticos e ao menos 1 milhão de afegãos.

O Conselho do Partido Democrático Unido da Bielorrússia, ao fazer a defesa do livro, disse: “Svetlana Aleksiévitch demonstra que o ser humano é o principal valor da vida, mas é criminosamente transformado em uma pequena parte da máquina política e criminosamente usado como bucha de canhão nas guerras desencadeadas pelos ambiciosos líderes de Estado. […] Cada página de ‘Meninos de Zinco’ exclama: ‘Meu povo, não permita que esse pesadelo sangrento aconteça de novo!”

Pois o pesadelo está de volta, agora com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

O meio de comunicação russo Mediazona — que se apresenta como “independente” — e o serviço russo da BBC revelaram no sábado, 31, que, desde o início da invasão da Ucrânia, já morreram mais de 66 mil (66.471) soldados da Rússia. Trata-se de uma estimativa, porque o número pode ser maior.

Há um ano, em agosto de 2023, o jornal americano “New York Times”, baseando-se em fontes americanas, apontou um número bem superior — 120 mil russos mortos.

O presidente russo Vladimir Putin não permite a divulgação oficial do número de mortos, repetindo o que se fazia no tempo da guerra do Afeganistão.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, informa que 31 soldados ucranianos morreram nas batalhas e ataques das forças armadas russas.

Svetlana Aleksiévitch terá, em breve, muitas histórias para colher e divulgar. A Ucrânia de Gógol e Mikhail Bulgákov e a Rússia de Púchkin e Tchékhov terão muitas histórias tristes para serem contadas.