Pré-candidato ao governo de Goiás pelo Patriota, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha concedeu entrevista ao programa Headline News, da TV Jovem Pan News, o conglomerado de comunicação mais identificado com o governo Jair Bolsonaro (PL). A sabatina foi ao ar na noite da terça-feira, 26 – a íntegra está no vídeo abaixo.

Ainda que a audiência seja limitada – TV por assinatura, quase sempre abaixo de 1 ponto –, Mendanha teve uma hora para expor suas ideias, um tempo gigante em termos de uma televisão em rede nacional, ainda mais para um político de um Estado periférico. Porém, o saldo não foi positivo, exatamente porque o desempenho dele nas respostas foi aquém do esperado para quem almeja o cargo mais importante de uma unidade federativa.

Mendanha foi entrevistado pelo jornalista William Travassos e pelo cientista político Rodolfo Marques, professor de faculdades privadas no Pará e convidado a participar da sabatina, que se deu por via remota – apenas o apresentador estava nos estúdios.

O pré-candidato ao governo não parecia nada à vontade e às vezes demonstrou que estava nervoso. É bem verdade que os entrevistadores não foram condescendentes com o ex-prefeito. Desde o começo, Travassos buscou questioná-lo sobre processos, acusações e denúncias, algumas já antigas, algo natural de lidar quando se é um gestor público. Como de praxe, Gustavo negou qualquer favorecimento à corrupção e ressaltou que nada tinha ido para frente. Fez o que qualquer político faria, na mesma situação.

A questão é que, na “guerra” não declarada de perguntas contundentes contra suas respostas, Mendanha acabou envolvido pelas questões. Deu contra-argumentos curtos, às vezes lacônicos – não estar presencialmente talvez tenha lhe causado algum prejuízo, além do desagradável efeito “delay” na transmissão ao vivo, é preciso ressaltar. Mas o fato é que em nenhum momento ele soube tomar as rédeas da entrevista.

O ponto crítico, para a imprensa em geral, foi quando Travassos o questionou sobre a estimativa de receita para o Estado em 2022 e Mendanha não soube responder. “Não me recordo”, disse. Foi informado de que a expectativa é de R$ 39,3 bilhões – montante que supera em R$ 8,6 bilhões a arrecadação do ano passado. Quando, logo em seguida, em uma outra pergunta, disse que o governador Ronaldo Caiado (UB) se preocupou em fazer caixa e não em investir, foi de novo alfinetado por Travassos: “o senhor fala de investimentos e em enxugar a máquina. Mas perguntei quanto nós tínhamos para receber em Goiás. Então vai administrar ou vai falar em fazer tudo isso, se você não sabe nem quanto o Estado arrecada?”.

Uma das lições estratégicas que grandes oradores costumam dar quando passam por sabatinas como essa é a de ocupar o máximo de tempo possível falando do que quer falar, evitando – ou retardando – o assunto que o entrevistado quer “impor”. Gustavo Mendanha, ao contrário, concluía rapidamente suas respostas, deixando um vácuo que, obviamente, novamente era ocupado por outra questão dos entrevistados.

Outra marca da entrevista de Mendanha foi se posicionar em favor da agenda bolsonarista, desde a PEC dos Benefícios – o pacote de R$ 40 bilhões do governo federal em auxílios, para tentar virar a eleição – até a política de armamento. Isso passando por desajustadas críticas ao Tribunal Superior Eleitoral – “o TSE está usurpando funções que são de outros Poderes” –  e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – “presta um desserviço à Nação”.

É muita dedicação e adesão ao discurso de um político que preferiu apoiar outro nome em Goiás. E fica o questionamento: se a entrevista tivesse sido concedida à GloboNews ou a algum veículo fora da esfera do eleitor chamado “conservador”, como é a Jovem Pan, as respostas seria as mesmas? Provavelmente não, porque políticos em geral – claro, de forma alguma Mendanha é o único exemplo – costumam falar o que a plateia quer ouvir. Só que, nesse caso, outras pessoas, que viram e ouviram, estranharam.

Questionado sobre segurança pública, ressaltando mais condições para as polícias e mais tecnologia. Confessou que teria de estudar mais sobre unificação das polícias”. No tradicional pingue-pongue final, ao ser questionado sobre seu maior defeito, Mendanha disse: “Às vezes, um pouco de medo de algumas coisas, o temor da responsabilidade pode ter estando à frente de um Estado como este”. Ainda que sincera, não é nem de longe a resposta mais adequada.

Para os próximos debates, que fique a lição: postura reativa em vez de proativa não ajuda político.