Na sexta-feira, 15, a Folha de S.Paulo publicou o editorial intitulado “Retrocesso militar”, sobre a intervenção inapropriada das Forças Armadas na condução do processo eleitoral deste ano.

É um texto bem conciso, escrito e amarrado, como não poderia deixar de ser no padrão de qualidade Folha. Em dez parágrafos curtos e médios, Impressionam os adjetivos: “deplorável”, “golpista”, “fantasmagóricas”, “impróprio”, “deletério”, “preocupantes”.

O alvo é o comportamento dos militares brasileiros, sob a liderança do ministro da Defesa e último comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o qual o texto cita com destaque. E o assunto são o sistema eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas, algo que, depois de três décadas lidando com o processo – inclusive homens das três Forças compuseram a inteligência que ajudou a idealizá-las –, resolveram contestar, seguindo a trilha conspiracionista do presidente da República.

Ao tomar posse no cargo de confiança de Jair Bolsonaro (PL), Paulo Sérgio era tido como um oficial de comportamento sóbrio e que tenderia a dar correção aos descaminhos cometidos por seu antecessor, o hoje mais político do que general Braga Netto – que tem tudo para ser o vice na chapa do presidente à reeleição –, conseguiu desencaminhar, chegando ao cúmulo de dizer que sem voto impresso não haveria eleições.

Mas o sucessor tem, infelizmente, seguido a mesma cartilha. Há uma “guerra fria” entre ele e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin. O Judiciário é hoje um poder cada vez mais isolado pelos ataques do bolsonarismo e é preciso que tenha todo o apoio no papel de defesa das regras eleitorais e da democracia como um todo. Nesse sentido, o editorial da Folha mostra essa adesão.

É importante ressaltar, porém, que o editorial já vem tarde. O grupo Folha, ao lado da Rede Globo, é o que mais sofre, na imprensa, com os ataques da extrema-direita. É chamado jocosamente de “Foice de S.Paulo” (para fazer referência ao “comunismo” do jornal) ou “Datafalha”, em referência ao instituto de pesquisa do conglomerado. A corrosão da democracia está em curso e ganhando espaço.