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A Editora Rocco publicou no Brasil os livros de Patrick Modiano “Ronda da Noite” (tradução de Herbert Daniel, 111 páginas) “Dora Bruder” (tradução de Márcia Cavalcanti Ribas Vieira, 113 páginas), “Do Mais Longe do Esquecimento” (tradução de Maria Helena Franco Martins, 118 páginas), “Uma Rua de Roma”, “Vila Triste” (tradução de Angela Melim, 145 páginas) e “Meninos Valentes” (tradução de Angela Melim, 157 páginas) e a Cosac Naify lançou “Filomena Firmeza” (Flávia Varella, 95 páginas). A Rocco vai relançar, em dezembro, “Ronda da Noite” (uma pesada história sobre colaboracionismo, delação e corrupção dos franceses durante a ocupação nazista na França), “Uma Rua de Roma” (deve ser “Na Rua das Lojas Escuras”, que li numa tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira; a edição é da Relógio d’Água. É a história de um homem que tenta recuperar sua memória e reconstruir sua história. É um romance belíssimo) e “Dora Bruder” (romance belo e doloroso sobre uma vítima do nazismo na França; como há escassos dados sobre sua história, exceto que era jovem e rebelde, o narrador imagina, mas não de maneira esclarecedora, e sim elíptica, uma vida para a judia Dora Bruder). “Uma Rua de Roma” ganhou o prêmio Goncourt em 1978. Merecidamente.

A Rocco revela, em seu site, que os livros vão ganhar novo projeto gráfico. O anterior é acanhado. Desde que Patrick Modiano ganhou o Nobel de Literatura, seus livros (esgotados na Rocco e livrarias) desapareceram dos sebos. Gastei 152 reais para comprar sete obras. Hoje, quando “Filomina Firmeza” é o único fácil de encontrar, não se acha nenhum volume por menos de 150 reais. Antes, adquiri pelo menos dois exemplares por 4 e 4,5 reais. O valor do frete foi maior.

Horace Engdahl, da Academia Sueca, afirma que Patrick Modiano é “um Proust de nosso tempo”. Talvez seja um Proust minimalista e mais próximo do autor de “Em Busca do Tempo Perdido” devido à sua obsessão com a memória. Seus romances são pequenos, com pouco mais de 100 páginas. Sua prosa é rápida, feita de parágrafos curtos e sem concessões ao leitor, que, para absorvê-la da melhor maneira possível — e não se sabe se a percepção é completa —, precisa ler com atenção redobrada, como se fosse um leitor-participante. As lacunas — a literatura de Patrick Modiano é pródiga em lacunas — têm de ser preenchidas pela imaginação do leitor. Fica-se com a impressão de que se está andando ao lado das personagens (os narradores são as figuras centrais), numa espécie de ziguezague permanente. De algum modo, ficamos tão confusos com certa falsa de lógica da vida, no momento em que está ocorrendo ou sendo contada, quanto as personagens. O narrador de “Do Mais Longe do Esquecimento” anda com Jacqueline por Paris e Londres, parece apaixonado pela bela mulher, porém mal sabe quem ela é. Jacqueline, personagem moderna (é uma mulher livre) e enigmática, desaparece-e-aparece-e-desaparece. Sua obsessão? Ir para Maiorca, na Espanha. O motivo? Seria alguma segurança? Nem o narrador sabe direito.

Portanto, há um quê de Henry James (quiçá a ambiguidade) e de Marcel Proust (a memória como vital para recuperar a essência e, também, as filigranas da vida, da história), mas a forma de relatar a história, até como se o autor (ou o narrador) não estivesse contando nada de muito interessante e como se nada estivesse acontecendo, é diferente da dos autores de “As Asas da Pomba” e de “Em Busca do Tempo Perdido”. Enquanto James e Proust são adeptos de uma prosa mais arrastada, Patrick Modiano prefere uma prosa veloz e sintética.

A literatura de Patrick Modiano é de alta qualidade e a Academia Sueca acertou ao conceder-lhe o Prêmio Nobel de Literatura de 2014.