Crise do jornalismo é mais financeira do que de conteúdo, cada vez mais lido e respeitado
04 julho 2021 às 00h02
COMPARTILHAR
Caio Túlio Costa diz que o modelo de negócio deve ser totalmente repensado, revirado de ponta-cabeça, bouleversado
O que está em crise não é o jornalismo, e sim o negócio-jornalismo. O jornalismo em si, a reportagem, está bem, vigilante, com audiência extraordinária. Em tempos de fake news, os leitores valorizam cada vez mais os veículos sérios, nuançados e objetivos. Mas os lucros caíram, e talvez caiam ainda mais. Até porque a comunicação desconcentrou-se, colaborando para espalhar a publicidade e, em alguns casos, tornou-a mais barata.
Um livro, “Tempestade Perfeita — Sete Visões da Crise do Jornalismo Profissional” (História Real, 296 páginas), tenta entender a crise, a do negócio, e apresentar soluções. Alguns jornais decidiram demitir a rodo, acreditando que aliviar a folha resolveria o problema — o que não ocorreu. Mudar o modelo do negócio, com a introdução maciça de tecnologia e a observação atenta do que fazem o Google e o Facebook — de alguma maneira, revolucionários (inclusive quando põem os outros para produzirem conteúdo para eles) —, é a alternativa. Veja só um equívoco: “O Popular” é um jornal regional — no sentido de que é conhecido apenas em Goiás — e, mesmo assim, mantém a maior parte de seu conteúdo fechado. Por que o leitor de São Paulo, por exemplo, vai assinar um jornal que não conhece? O Jornal Opção, um veículo com estrutura menor, tem mais acesso do que o diário do Grupo Câmara. O jornal da Serrinha está ficando para trás e a criação de grupos de WhatsApp, para divulgá-lo, não vai resolver o problema do acesso relativamente baixo.
Numa entrevista ao Portal Imprensa, Caio Túlio Costa, autor de um dos ensaios, aborda a crise financeira das empresas de comunicação. “O maior problema é que as empresas jornalísticas estão correndo para garantir o equilíbrio da operação por conta da queda de faturamento (principalmente de publicidade), e, não sei por quê, dando mais atenção às questões editoriais (o que é bom) e menos ao modelo de negócio, que deve ser totalmente repensado, revirado de ponta-cabeça, bouleversado (paradiando os franceses). Há que se investir em tecnologia e criar fontes de receita para manter redações completas e com remuneração digna, para perpetuar o negócio”, sugere o ex-ombudsman da “Folha de S. Paulo” e professor universitário.
Caio Túlio Costa discute um assunto que não sai da moda, a suposta imparcialidade da imprensa. Nós, do Jornal Opção, sugerimos que quem acredita em imprensa imparcial também crê em Saci Pererê e Curupira. “Não existe imparcialidade na comunicação — existe independência, acuidade, caça à objetividade — mas um jornalista ‘imparcial’, mesmo, é algo que eu diria impossível de achar. Por isso existem as barreiras colocadas à frente do jornalista na composição do seu material: ele tem que ouvir os vários lados de um fato e procurar descrever o que aconteceu da forma mais objetiva possível”, anota Caio Túlio Costa. “No entanto, o jornalista nunca vai conseguir deixar de lado a sua formação, a sua compreensão da realidade”, acrescenta.
O repórter inquire: “E se o jornalismo precisar ter um lado?” Caio Túlio Costa responde: “O lado da verdade factual. Se conseguir isto já é o bastante”.
Os ensaios foram escritos por Caio Túlio Costa, Cristina Tardáguila, Helena Celestino, Luciana Barreto, Marina Amaral, Merval Pereira e Pedro Bial.