Crise da CNN Brasil e o “prejuízo” da TV Globo com a Copa do Catar
11 dezembro 2022 às 00h00
COMPARTILHAR
A CNN Brasil demitiu dezenas de jornalistas, o que, a curto prazo, tende a comprometer a qualidade de seu noticiário. A emissora de televisão certamente fará novas contratações, com salários menores. Mas a pergunta que ninguém fez é: por que o banqueiro (Banco Inter) e construtor (Construtora MRV) Rubens Menin decidiu investir milhões de reais numa área que não conhece (ou não conhecia) e que, além de dispendiosa, não gera lucros fabulosos a curto e médio prazo? A área de comunicação está em crise em todo o mundo, e, como o Brasil não é uma ilha, jornais, rádios e redes de tevê locais também passam por dificuldades. Depois de um levantamento exaustivo, sem nenhuma paixão, executivos do Grupo Globo enxugaram os custos da empresa de maneira drástica — tanto para sobreviver quanto para ter lucro.
Rubens Menin, aparentemente alheio à crise global, investiu a rodo na CNN Brasil, com equipamentos modernos, estruturas amplas e mão de obra qualificada e bem paga. À primeira vista, sob a orientação do experimentado Douglas Tavolaro, parecia investir a fundo perdido… num negócio sobre o qual não parece ter amplo conhecimento. Fazer televisão, sobretudo jornalismo de primeira linha, para competir com produtos da Globo, GloboNews (espécie de CNN que deu certo no Brasil), Record e Band, é muito caro. O banqueiro e empresário não sabia disso? Sabia, certamente. Mas possivelmente não sabia que a recuperação do investimento seria lenta. Talvez não seja possível recuperá-lo.
O que se está fazendo na CNN no momento é o mesmo que a Globo fez — cortes drásticos de custos. Só que a Globo foi fazendo aos poucos, e setorialmente. A empresa de Rubens Menin fez cortes de maneira abrupta, gerando instabilidade na equipe e desestabilizando a qualidade do jornalismo.
Porém, se a Globo fez cortes, enxugando quase no osso, mas manteve a qualidade média de sua programação — que não é apenas jornalística —, o mesmo ocorrerá com a CNN? Ainda não dá pra saber. Como falta expertise a Rubens Menin, ás das finanças e da construção de edifícios, e à maioria de seus executivos, que são especialistas em ajustar empresas e não em jornalismo — e muito menos em empresas jornalísticas —, não será fácil colocar a CNN nos eixos.
Li notícia de que Rubens Menin recebeu proposta para passar a CNN adiante, mas decidiu manter a empresa. Se for verdade, é sinal de que planeja mantê-la para ter poder enfeixado nas mãos, ou então a proposta não era boa. Porque a tendência, mesmo a longo prazo, é que a CNN, ainda que com uma estrutura menor e menos cara, continue faturando pouco, e arcando com prejuízos mensais. Possíveis cláusulas contratuais com a CNN americana, quiçá draconianas, talvez sejam os fatores que travam a negociação com outros grupos.
Fica mais uma pergunta: há mesmo alguém querendo comprar a CNN Brasil? Não sei. Mas apresento duas hipóteses. Primeira: quem quer comprar possivelmente não têm condições de mantê-la em alto nível, o que a levaria a se arrastar até o fechamento — como ocorreu com a TV manchete, da família Bloch. Segunda: ninguém quer comprar, e, sendo assim, Rubens Menin vai mantê-la no ar, com relativa qualidade, para que não pareça mambembe e não receba pressões da CNN americana. Concluído o contrato, certamente poderá sair do ramo jornalístico e concentrar-se tão somente naquilo que entende.
Copa do Catar e o prejuízo da TV Globo
Se a CNN Brasil vai mal das pernas, e novas demissões certamente estão a caminho — o “sistema Tavolaro” (mão aberta) não tem como ser mantido pelo “sistema Menin” (mão fechada) —, a TV Globo se ajustou, com cortes pesados, tornando-se uma empresa mais enxuta, e por isso vai sobrevivendo, e relativamente bem, mantendo, no geral, o alto padrão de qualidade.
Entretanto, de acordo com Guilherme Ravache, a Copa do Catar não está se mostrando um evento lucrativo para a Globo. “A Globo vendeu mais de 1 bilhão de reais em patrocínio nesta Copa. Os números de audiência do jogo do Brasil com a Sérvia também foram ótimos. (…) A Globo massacrou concorrentes e TV paga no ibope. Segundo dados da Kantar Media, a TV Globo registrou 50 pontos de audiência (com picos de 53%) e 76% de ‘share’ na Grande São Paulo”. Ainda assim, a Globo está perdendo dinheiro. “Basicamente, porque a conta nunca fechou. A publicidade não paga a conta de direitos.”
O principal motivo, postula Guilherme Ravache, “são os altos custos dos direitos de transmissão. Os direitos que a Fifa cobrava no Brasil estavam entre os mais caros do mundo. Acima do nível de países europeus. O valor atual é de 90 milhões de dólares por ano, o equivalente a 500 milhões anuais, encarecidos por uma cláusula que garante exclusividade para a emissora”. Por sinal, na renovação do contrato para 2026, não se terá “mais exclusividade nas transmissões em TV aberta e por assinatura”. O que pode ser uma boa notícia para a Band, Record e SBT. Tem coisa mais “chata” do que profissionais comentarem jogos que os canais onde trabalham não transmitem?