Tragédia e merda são concorrentes fortes, mas não são páreo para corrupção, que engole todas

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Qual é a palavra do ano no Brasil: tragédia (referência ao acidente de Mariana, em Minas Gerais) ou corrupção (numa referência ao petrolão)? Difícil escolher. Tragédia é forte, quase invencível. Mas corrupção é a palavra que está na boca e na ira de todos os brasileiros — menos dos corruptos. Portanto, corrupção, hors concours, é a palavra do ano no Brasil — segundo os brasileiros, mesmo não consultados pelos institutos de pesquisa. Pioramos, é certo. (Outra palavra, que os jornais não gostam de escrever, por pudicícia, é merda. Esta, pelo que observo, é uma das preferidas dos usuários do Facebook. Palhaçada é outra palavra muito utilizada.)

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Mas pelo menos a palavra saudade — quem sabe saudade (ou nostalgia, outra palavra bonita) dos tempos em que o Brasil era mais limpo — é apontada como a mais bela da Língua Portuguesa.

Já na Inglaterra a palavra do ano do Dicionário Oxford é emoji. Fernando Moreira, de “O Globo”, escreve: “A palavra do ano do Dicionário Oxford não é uma palavra. Como assim? A eleita foi um emoji. Mais precisamente o emoji — imagem pictográfica que simboliza uma palavra ou frase — representando um rosto com lágrimas de alegria”. Como se vê, não serve para nós, brasileiros. Nossas lágrimas são de tristeza. Mas os brasileiros, sadios e ases da catarse, riem de tudo, até das desgraças.

“Os alfabetos tradicionais têm lutado para atender às demandas de comunicação do século XXI. Não é surpresa que uma escrita pictográfica como o emoji tenha conseguido preencher essas lacunas. É flexível e imediato. Como resultado, emojis estão se tornando uma crescente e rica forma de comunicação, que transcende os limites linguísticos”, diz Casper Grathwohl, presidente da Oxford Dictionaries.

(Pinturas de Pawel Kuczynski, a primeira, e Mike Davis)