Herbert Moraes, correspondente da Record, dentro de um túnel entre a Faixa de Gaza e Israel. Há túneis que têm dois quilômetros de extensão l Foto: Reprodução/TV Record
Herbert Moraes, correspondente da Record, dentro de um túnel entre a Faixa de Gaza e Israel. Há túneis que têm dois quilômetros de extensão l Foto: Reprodução/TV Record

Entre jornalistas e amigos, Herbert Moraes às vezes é chamado, em tom de brincadeira, de “Senhor Oriente Médio”. Há nove anos baseado em Tel Aviv, Israel, o correspondente da TV Record e colunista do Jornal Opção sabe quase tudo sobre a região — não sabe tudo porque, como diz, os povos de lá são sempre surpreendentes (não há aquele grau de previsibilidade dos povos europeus). O repórter cobriu batalhas em Israel, Líbano, Iraque, Egito, Líbia. Em quase uma década, não há um conflito entre israelenses e palestinos que não tenha sido coberto, de maneira detalhada, pelo jornalista. Agora, acompanha com atenção o acordo que está sendo articulado entre os contendores israelenses e palestinos. Na sexta-feira, 15, ele apresentou, no “Jornal da Record”, a última reportagem da série “Terror em Gaza”. Ele mostrou como vai ser o futuro da região e como vão ficar as relações entre os povos que brigam há anos.

Com o cessar fogo definitivo — e o repórter perspicaz pontua: “definitivo” entre aspas — entre Israel e as forças palestinas do Hamas, a Faixa de Gaza, um dos lugares mais populosos do mundo (1,8 milhão de habitantes num espaço pequeno), poderá ser reconstruída. “A infraestrutura da região foi destruída. A reconstrução vai demandar ao menos 18 bilhões de dólares. O Hamas perdeu quase todo seu poder militar. Os negociadores querem fortalecer Mahmoud Abbas na organização de um governo de união, com prioridade para a reconstrução, não para uma nova guerra. Israel e Egito ‘levantariam’ o bloqueio, com supervisão de institutos internacionais. Israel quer desmilitarizar Gaza, com apoio internacional.”

Herbert Moraes diz que o Hamas sustenta que duas mil pessoas foram mortas pelos ataques das forças armadas de Israel. “Israel contesta os números, alegando que o Hamas, que controla o Ministério da Saúde, falsifica as estatísticas. O Hamas garante que todos os mortos são civis e, portanto, vítimas inocentes. Mas quem estava combatendo os israelenses?, pergunta o governo de Israel. Os israelenses admitem que de 40 a 50% dos mortos palestinos são mesmos civis, mas acrescentam que a maioria é usada como escudos pelos militantes do Hamas. Vale registrar que o Hamas lançou mais de 3 mil foguetes contra alvos civis de Israel. Mas o sistema antimíssil, conhecido como ‘domo de ferro’, interceptou pelo menos 90% deles. Não fosse isto, as baixas em Israel teriam sido maiores. Como organização terrorista, o Hamas não importa se as vítimas são civis ou militares. Na sua opinião, todos são ‘judeus’.”

Um especialista em terrorismo relatou a Herbert Moraes que o Hamas estava “falido” e “isolado”, pois havia perdido o apoio de Irã, Síria e Egito. Porém, devido ao rigoroso bloqueio de Israel, os palestinos, os civis, pressionaram o Hamas, que reagiu atacando Israel. Observando de longe — dada a quantidade de mortos palestinos e israelenses (três civis e 64 militares) —, fica-se com a impressão de que o Hamas foi derrotado de maneira inquestionável. Militarmente, não há o que discutir. “As forças são desproporcionais. Mas, mesmo na derrota, há uma pequena vitória: o possível fim do bloqueio de Israel contra Gaza.”

Pergunto a Herbert Moraes — primeiro repórter da América Latina a entrar nos túneis de Gaza — sobre o que mais o impressionou no conflito? “A morte das crianças é chocante. As imagens são impressionantes. É lamentável.” Israel assegura que destruiu 32 túneis e afiança que o Hamas pretendia lançar um atentado terrorista para matar israelenses nos kibutzes. Os túneis são cimentados, têm energia elétrica e cabem até veículos e foguetes. Têm até trilhos. Há túneis que têm mais de dois quilômetros de extensão e são usados com o objetivo de fazer ataques e sequestros, e esconder armamentos. “Cada túnel custou aproximadamente 3 milhões de dólares. O dinheiro poderia ter sido usado para construir escolas e hospitais, mas é deslocado para a guerra.”

Os israelenses ficam “estressados”, afirma Herbert Moraes. “Mas estão acostumados com as guerras e sabem que o poder de fogo de Israel é infinitamente superior. Desta vez, 92% dos israelenses apoiaram os ataques. Esquerda, centro e direita se uniram. Houve apoio até de árabes. Porque o Hamas lançou mísseis em áreas onde vivem árabes. Metade da população de Jerusalém é árabe.”