História da imprensa mundial e patropi é rica em fatos pouco heroicos. Octavio Frias comprou a “Folha de S. Paulo” com cheque sem fundos. Chatô “extorquia”

Ricardo Noblat: novo colunista do Portal Metrópoles | Foto: Sergio Dutt/Veja

O banqueiro americano J. P. Morgan teria dito que poderia justificar sua fortuna, menos o primeiro milhão. Há empresários patropis que devem sua robusta estrutura financeira ao tráfico e venda de escravos? É provável. A acumulação primitiva de capital é feita a ferro e fogo, por vezes. O livro “A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira” (Publifolha, 328 páginas), do jornalista Engel Paschoal, conta histórias não tão edificantes do magnata que tornou a “Folha de S. Paulo” um grande jornal, hoje atrás, em circulação, de “O Globo”.

“Era usurário, cobrava 3% ao mês e não tinha conversa”, admite Octavio frias de Oliveira, pai de Otavinho Frias Filho, Luiz Frias e Maria Cristina Frias. Em 1962, dois anos antes do golpe civil-militar — que apoiou, quiçá alegremente —, o patriarca comprou, em sociedade com Carlos Caldeira Filho, a “Folha de S. Paulo”.

Ao resenhar o livro para a “Folha de S. Paulo”, em março de 2007, o jornalista Mario Sergio Conti escreveu: “[Octavio Frias] diz que usou um cheque que só teria fundos dali a dois dias. Acrescenta que, uma semana depois, era tamanha a certeza de que fizera um péssimo negócio que estava à cata de um desaviado para passar-lhe o abacaxi adiante. E, por fim, conta que a razão de fundo para ter comprado o jornal foi, talvez, a ambição de status, pois ficara, injustamente, com o nome sujo na praça”.

Guilherme Amado: trocando a Época pelo Metrópoles | Foto: Reprodução

Assis Chateaubriand, o Chatô, extorquia empresários abertamente, como registra a excelente biografia escrita por Fernando Morais, “Chatô — O Rei do Brasil” (Companhia das Letras, 624 páginas). Roberto Marinho teve de fazer o diabo para manter “O Globo” e, depois, impulsionar a TV Globo. A família Mesquita, do “Estadão”, e Manuel Francisco do Nascimento Brito, do “Jornal do Brasil”, certamente comeram o pão que o diabo amassou para manter seus jornais.

Octavio Frias de Oliveira diz que preferia a Granja Itambi, de sua propriedade, à “Folha de S. Paulo”. “É muito bom para o empresário produzir coisas palpáveis, como leite, carne, frango. Jornal não é uma coisa palpável”, disse o pai de Otavinho Frias.

Lilian Tahan: diretora-editora do Metrópoles | Foto: Reprodução

Pois está surgindo um novo “tycoon” na imprensa brasileira — o empresário e ex-senador Luiz Estevão de Oliveira Neto, de 71 anos, nascido no Rio de Janeiro, mas radicado há anos em Brasília.

O Senado cassou Luiz Estevão, em 28 de junho de 2000. O empresário foi preso e condenado pelos crimes de peculato, corrupção ativa e estelionato. Há pouco tempo, decidiu criar o portal Metrópoles. Parecia que era um “jornal” para se defender, o que, inicialmente, não incomodou ninguém.

Mas o Metrópoles começou a crescer e, em pouquíssimo tempo, superou o “Correio Braziliense”, o jornal mais tradicional e respeitado de Brasília, em termos de acesso. A informação sobre a ascensão do portal de Luiz Estevão à liderança é da Similar Web Pro, plataforma de auditagem.

Luiz Estevão: ex-senador que foi cassado e preso | Foto: Reprodução

Mas o portal dirigido pela jornalista Lilian Tahan, com uma equipe ampla e azeitada, quer mais. Não quer ser apenas um “jornal de Brasília”. O objetivo é se tornar, cada vez mais, um “portal do Brasil” — um jornal gabaritado, com reputação superior à de seu financiador, Luiz Estevão.

Um jornal se torna “grande” devido à equipe que nele escreve. Pois Lilian Tahan, representando Luiz Estevão, primeiro contratou um colunista peso-pesado da revista “Época” (do Grupo Globo), Guilherme Amado, autor de furos jornalísticos. Agora, o Metrópoles anuncia a contratação de Ricardo Noblat, que deixou a revista “Veja”, a consagrada publicação da Editora Abril. Ninguém troca a “Época” e a “Veja” por um veículo de menor expressão se as cifras financeiras e as condições de trabalho não forem compensadoras.

Ricardo Noblat é um dos mais experimentados jornalistas do país, tendo trabalhado, como repórter ou editor, no ‘Jornal do Brasil”, na “IstoÉ”, em “O Globo”, no “Correio Braziliense” e, mais recentemente, estava na “Veja”, como um de seus colunistas mais lidos.

Octavio Frias de Oliveira, empresário, e Otavinho Frias Filho, jornalista: modernizadores do jornal da “Folha de S. Paulo” | Foto: Reprodução

A contratação de Ricardo Noblat, até mais do que a de Guilherme Amado — repórter dos melhores —, sinaliza que Luiz Estevão e Lilian Tahan não estão brincando. O projeto da dupla busca consagração no país, não apenas em Brasília — onde se tornou líder, no momento, inconteste, ainda que não tenha a respeitabilidade do “Correio Braziliense”. Os adversários tentam usar a má reputação de Luiz Estevão, “o preso”, para lançar dúvidas sobre a credibilidade do portal. A contratação de grandes jornalistas “puxa” a credibilidade para cima. “Limpam”, por assim dizer, a imagem do portal.

Os jornais adotaram uma estratégia que está funcionando. Os colunistas não trabalham sozinhos — contam com equipes e, por isso, costumam ganhar as manchetes dos jornais e revistas nos quais trabalham. Guilherme Amado e Ricardo Noblat terão o apoio das equipes que trabalhavam com eles na “Época” e na “Veja”.

Especula-se que a temporada de grandes contratações não está encerrada. Um repórter conta que o Metrópoles pretende investir, de maneira mais ampla, em jornalismo investigativo e criativo, daí a contratação de jornalistas experimentados, com fontes privilegiadas, portanto capazes de produzir noticiário tanto exclusivo quanto bem formulado.