Fernando Pessoa é um poeta inesgotável. Há sempre algum escrito do bardo aparecendo, contribuindo para iluminar sua vasta obra. O vate viveu apenas 47 anos, mas, pela quantidade e pela qualidade de obra, parece ter vivido mais do que Matusalém.

O americano Richard Zenith escreveu “Pessoa — Uma Biografia” (Companhia das Letras, 1160 páginas, tradução de Pedro Maia Soares) e é considerado mais importantes especialistas globais na obra do gênio literário português. Agora, o biógrafo descobriu um poema inédito de Fernando Pessoa, que publicou na revista literária portuguesa “Revista Lote”. “São escritos como um ruba’i [em Portugal escrevem rubai], estilo de poema persa adorado pelo autor” luso, relata a “Folha de S. Paulo”. O texto é de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do autor de “Tabacaria”.

O rubai é uma quadra. O poema está no verso de um papel datilografado de “Novela Curta”. Zenith relatou ao “Público”, jornal lusitano, que o texto “Novela Curta” foi publicado em 1929. O poema recém-divulgado foi escrito a lápis.

Zenith esclarece que “o estilo em ruba’i” colaborou para a decifração do poema. “Pessoa era fortemente influenciado pelo formato e escreveu vários poemas como ele —incluindo ‘Canções de Beber’, que era inspirado em um poema do cientista persa Omar Caiam” (ou Khayyam), aponta a “Folha”. À publicação portuguesa, o biógrafo contou que Fernando Pessoa publicou “perto de 200” rubayat.

Richard Zenith: biógrafo mais recente de Fernando Pessoa | Foto: YouTube

Omar Khayyam foi traduzido no Brasil por Octavio Tarquínio e Manuel Bandeira, entre outros. “O novo poema é escrito no estilo de Caiam e é uma estrofe de duas linhas. O texto diz: ‘A ave canta livre onde está presa/ O servo dorme e o sonho lhe é surpresa/ Liberta-te, mas nega a liberdade/ Poder e não querer, eis a grandeza’.”