Condenado por terrorismo na França, professor da UFRJ diz que vai sair do Brasil

14 janeiro 2016 às 14h26
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Adlène Hicheur afirma que se sente pressionado pelo governo federal, o que não é fato; na verdade, está “fugindo” porque foi descoberto pela Imprensa
A Imprensa funciona? Tudo indica que sim. O terrorista ou ex-terrorista franco-argelino Adlène Hicheur, professor de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e bolsista do CNPq, chegou ao Brasil e adaptou-se rapidamente ao sistema de ensino, sem concurso público, e estava tudo muito bem. Como ninguém é ingênuo, é provável que alguém, sobretudo na universidade, sabia do passado do cientista, condenado a prisão na França por envolvimento com pelo menos um terrorista da al-Qaeda. Adlène Hicheur chegou a sugerir ao seu interlocutor na organização criada por Osama bin Laden atos terroristas contra embaixadas e, portanto, assassinatos de inocentes. Porém, mesmo não servindo para a França e para a Suíça — onde está proibido de entrar —, obteve, com extrema facilidade, mal chegou ao país, um emprego com salário de 11 mil reais e mais bolsa de 56 mil reais do CNPq.
A revista “Época” rompeu o coro dos contentes da universidade e contou, na edição que está nas bancas, a história apavorante de Adlène Hicheur. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, concedeu entrevista condenando a contratação do físico pela UFRJ. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pronunciou-se ao seu modo, sempre sugerindo mais coisas do que de fato diz. Não se sabe se Adlène Hicheur era uma ponte da al-Qaeda no Brasil — por ser um físico brilhante, apesar do histórico negativo, aparentemente é ou era menos insuspeito —, mas, ao perceber que se tornou persona non grata, decidiu anunciar que vai sair por contra própria do Brasil. Como se houvesse uma articulação para livrar a cara do governo, que nada fez para deportá-lo, o homem ou ex-homem da al-Qaeda está dizendo que se sente pressionado pelo poder público. Qual pressão, não diz. Pois o governo federal, que mantém a URJ, não lhe retirou o salário de 11 mil reais e tampouco cortou a bolsa do CNPq. Se cortou, não anunciou.
Adlène Hicheur, na verdade, está saindo do Brasil por um motivo mais prosaico: foi descoberto.