Com Zagallo, morre o maior exemplo de amor à “Amarelinha”
07 janeiro 2024 às 00h01
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Assim como ninguém será tão craque quanto Pelé, nenhum jogador será tão “amarelinho” como Zagallo. O “Velho Lobo”, como era conhecido – seu nome completo era Mário Jorge Lobo Zagallo – morreu na sexta-feira, 5, sem deixar herdeiros à altura no quesito “amor à camisa da seleção brasileira”.
Quem conheceu de perto o tetracampeão mundial – bicampeão do mundo como jogador, em 1958 e 1966; tricampeão como treinador em 1970; e tetra como coordenador técnico do time de Carlos Alberto Parreira, em 1994 –, dá testemunho: Zagallo poderia ser considerado a própria “Pátria de chuteiras”, na expressão consagrada de Nelson Rodrigues.
As condições da contemporaneidade, na verdade, não ajudam que os atuais jogadores que são convocados para a seleção – difícil chamar algum deles de craque, porque sempre falta algum atributo para completar a figura-ícone.
Nas redes sociais, a morte de Zagallo fez os internautas desarquivarem um vídeo pré-Copa de 2022, no Catar, em que Neymar, Vinicius Jr. e Marquinhos, todos titulares do Brasil, faziam dancinhas ao estilo Tik Tok, todos ladeados por modelos dançarinas vestidas com o uniforme canarinho. “Será que Zagallo aprovaria?”, era o questionamento.
Mais do que uma questão comportamental fora de jogos e treinos, o agora saudoso treinador ficaria chateado, mais provavelmente, com o pouco caso demonstrado em campo pelos atletas. Toda ostentação seria perdoada se no gramado a dedicação fosse multiplicada. Não é o que tem se visto.
Sanguíneo, o Velho Lobo comprou briga várias vezes com a imprensa e com críticos da seleção. Quem não se lembra do “vocês vão ter de me engolir!” ao comemorar a conquista da Copa América, em 1997? Às vezes parecia estar defendendo a entidade CBF (hoje indefensável) e seu estilo patriota-de-verde-amarelo provocava torção de narizes. Mas nada: novamente recorrendo a quem o conheceu mais de perto, Zagallo era pura espontaneidade, de uma aura quase ingênua em sua utopia.
Com esse carioca de 92 anos apenas nascido em Alagoas (na cidade de Atalaia) fecha-se de vez, neste plano, também a escalação da seleção que fez o Brasil ser grande pela primeira vez aos olhos do mundo: Zagallo era o último remanescente entre os onze que decidiram a final da Copa de 58 com a Suécia, conquistando a Taça Jules Rimet pela primeira vez.