Entre as mentiras compartilhadas no aplicativo de conversa está um áudio atribuído ao proprietário do Stadt Jever, um bar tradicional de Belo Horizonte (MG)

Investigação sobre contaminação da cerveja Belorizontina fez surgir onda de boatos sobre qualidade das cervejas e incidência de doenças como câncer no Brasil | Foto: Gustavo Andrade/Divulgação

Desde que começaram a serem registrados casos de intoxicação supostamente ligados à ingestão da cerveja Belorizontina, fabricada pela Backer, em Minas Gerais, com 18 casos de internação e quatro mortes, o que não para de surgir nas redes sociais e aplicativos de mensagem são boatos. Um dos mais compartilhados é um áudio atribuído ao proprietário do Stadt Jever, um tradicional da região boêmia de Belo Horizonte.

“Tenho um cliente que é engenheiro químico da Ambev. Esse cara mora nos Estados Unidos, é muito requisitado no mundo inteiro, porque é o maior laboratorial de cervejaria do mundo, é dele. Ele que faz todas as fórmulas das grandes marcas do mundo. Inclusive da Ambev e da Heineken. Ele dá pitaco lá. É meu cliente, inclusive a gente tem muita amizade. Conversando com ele outro dia, ele falou ‘Robner, é claro que toda cerveja é maravilhosa etc. Quanto mais perto da data de fabricação, de engarrafamento, da cerveja que você compra e toma mais saudável ela é. Cerveja acima de cinco meses já começa a fazer mal pra saúde, seja qual for a marca.”

Esse é um trecho do áudio compartilhado em aplicativos como o WhatsApp desde o início do ano, quando o caso Belorizontina ganhou mais divulgação na imprensa e as investigações começaram a apontar a possibilidade de contaminação de mais de um lote da cerveja. “O conservante que é usado nas cervejas no Brasil tem prazo de validade de seis meses. Porém, a nossa fiscalização, que é corrupta, segura por 12 meses uma cerveja na prateleira de uma loja, de um supermercado etc. Porque é máfia, né, gente?”, continua a gravação que circula entre usuários da plataforma de troca de arquivos e conversa.

“Principalmente os acima de 45 anos que gostam de tomar uma cervejinha, ele dá uma dica: ‘Olha! Procura não tomar Ambev porque o conservante da Ambev para quem já tem um pouco mais de idade, acima dos 45, 50 anos, detona a próstata, tá? Muita gente que tem problema de próstata, próstata inchada, câncer de próstata que venha a acontecer futuramente, o maior causador disso – que não é divulgado, não é divulgado, porque existe muito poder econômico por trás disso, muita gente interessada que isso não seja divulgado -, mas o maior causador é a cerveja. É a cerveja da Ambev, principalmente a da Ambev.”

E o alarde continua no áudio: “Não sei se vocês sabem, mas a Ambev que nós bebemos aqui não é a mesma que é exportada para fora do Brasil. Lá fora eles não aceitam a nossa Ambev, a nossa cerveja aqui. Eles deixam, entre aspas, pessoal, o lixo para nós aqui e colocam o melhor lá fora, com conservante melhor. Aqui tem um tipo de conservante que eles colocam aqui na cerveja, uma química, que eles não aceitam lá fora, que é nocivo. Então eles colocam aqui para a gente beber, entendeu?”.

O tom de dica, com uma suposta denúncia reveladora, é preciso ser checada antes que alguém acredite. O primeiro ponto para se desconfiar do áudio é o de que a pessoa não apresenta o nome do tal químico que fabrica as fórmulas das principais marcas de cerveja do mundo. Além de não informar o nome do profissional, não cita qual é a empresa dessa pessoa. Já são dois pontos para iniciar a desconfiança ao receber e ouvir o conteúdo do áudio.

Geralmente, o áudio é encaminhado por alguém junto com uma mensagem de texto, também encaminhada, que vem escrito: “Dono do Stadj Jever em BH um dos mais tradicionais bares ha mais de 40 anos funcionando falando sobre estas cervejas lavagens”. OK. Mas quem é o dono do Stadj Jever, esse bar tradicional da capital mineira? Aí é a hora de procurar uma página oficial da empresa e verificar se há algum conteúdo recente publicado que tenha qualquer relação com as informações contidas no áudio.

E é aí que você vai chegar à conta de José Felipe Carneiro no Instagram, filho do proprietário do Stadt Jever, Miguel Carneiro. Você se lembra que no início do áudio a pessoa se identifica como “Robner”? Bom. Agora você já sabe que o nome do dono do bar citado na mensagem de texto encaminhada junto com o áudio não tem nada a ver com o do proprietário do tal Stadt Jever. Mais um ponto para desconfiar do conteúdo da mensagem.

No dia 13 de janeiro, o filho, José Felipe Carneiro, postou em sua conta no Instagram, um vídeo gravado em Chula Vista, na Califórnia, Estados Unidos, na sede da Novo Brazil Brewing Company, empresa da família proprietária daquele “um dos mais tradicionais bares há mais de 40 anos funcionando”. Olha o que José Felipe escreve na postagem em acompanhamento ao vídeo:

“De repente no WHATSAPP começou a circular um audio sobre cerveja ser maléfica à saúde quando consumida próxima da validade ; e dizia supostamente ser a voz do meu Pai, Miguel Carneiro e proprietário do Stadt Jever @stadtjever . É MENTIRA. Não é ele que fez este audio e o cidadão que o gravou não entende absolutamente nada do que está falando. Só asneira sem sentido, q algum aproveitador espalhou. ⁣

Muita gente me pedindo para comentar sobre a história da contaminação na cerveja, mas me sinto incapaz de falar do assunto, não tenho nenhum conhecimento da operação da cervejaria envolvida e não sei de nenhum detalhe do processo de investigação e muito menos tenho ideia de quem esteja certo ou errado. Desejo muita força e luz no coração dos familiares envolvidos na tragédia e também mando energias positivas para que as autoridades possam resolver com muita cautela todo e qualquer envolvimento de culpa. ⁣

Durante 20 anos construímos o mercado cervejeiro artesanal do Brasil e acredito muito na qualidade da cerveja, a @walscervejas é uma dentre as centenas de marcas que fazem o brasil cervejeiro ser referência global. Posso falar pela Wäls que não utiliza derivados de “etilenoglicol” no processo de resfriamento dos tanques de cerveja . Hoje nossa família produz cervejas nos USA, a marca se chama @novobrazil e exportamos para dezenas de outros países uma cultura Brasileira qhe amamos, amamos tanto que carregamos o nome do nosso país. Posso falar também do tanto que os profissionais envolvidos em TODAS as microcervejarias são dedicados e estudiosos, independente da posição de concorrência, existirá sempre um respeito com os seres humanos atrás de cada marca. ⁣

Erros acontecem, cabe à cervejaria garantir o máximo possível a qualidade dos produtos produzidos e verificar todas as especificações técnicas que são exigidas por lei. Sou muito grato de ter aprendido exaustivamente com @cervejariaambev que todo e qualquer lote produzido precisa de testes laboratoriais que identifiquem previamente erros. Lembro ainda que todo produto pode ter um erro , existem muitas variáveis , mas mais uma vez reforço que acredito nas autoridades que cuidam do assunto.

José Felipe Carneiro no Instagram, dia 13 de janeiro de 2020″.

https://www.instagram.com/p/B7R2xjtFs-R/

Viu como basta um pouco de força de vontade para não cair em qualquer áudio encaminhado ou foto printada sabe-se lá de onde? Para se informar é preciso ir atrás de locais confiáveis. Não vai ser o grupo da família, do futebol, da igreja ou dos amigos que vai te deixar atualizado. Lembre-se sempre disso.