Com a saída de Bonner, quem vai para o Jornal Nacional: Andréia Sadi, Aline Midlej, Nilson Klava ou César Tralli?
20 outubro 2024 às 00h00
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Não tenho uma opinião formada a respeito de vários sites que publicam notícias sobre profissionais da televisão. Alguns, como o Notícias da TV, Na Telinha e o F5, me parecem sérios. Mas a maioria é especializada em fofoca. Publicam boatos insinuados como informações.
1
William Bonner: o rei da apresentação
Em alguns sites há notícias — se notícias são — informando que William Bonner está prestes a se aposentar da apresentação do “Jornal Nacional”, da TV Globo. O Notícias da TV especula que vai sair em 2026, depois das eleições.
O fato de William Bonner e a TV Globo não confirmarem a informação indica alguma coisa? Talvez sim. Talvez não. Um dia, não se sabe quando, o jornalista terá de se aposentar (ele ancora o “JN” há 28 anos). É plausível que, ao deixar a apresentação do “JN” — o que faz com mestria —, permaneça como editor-chefe do telejornal.
No momento, William Bonner não me parece em fim de carreira. Pelo contrário, está no auge (a Globo parece satisfeita com seu trabalho e seu imenso carisma). Inclusive decidiu correr riscos, saindo do conforto da redação, para transmitir, direto do Rio Grande do Sul, a tragédia da enchente que desabrigou e matou dezenas de pessoas. É sinal de que não quer ficar longe dos fatos. Daqui a alguns dias, irá para os Estados Unidos ancorar as notícias das eleições presidenciais que opõem Kamala Harris, do Partido Democrata, e Donald Trump, do Partido Republicano.
Os sites deveriam dizer aos leitores: “Isto é informação” e “isto é [nossa] opinião”. Daria mais credibilidade ao que publicam.
2
César Tralli: o repórter-apresentador
O Notícias da TV é enfático: “César Tralli foi definido como o substituto imediato do âncora”. O que intriga é a palavra “imediato”, que parece conter certa ambiguidade. O que realmente quer dizer?
César Tralli já substitui William Bonner, aos sábados e em licenças ou férias. Nas vezes que o vi, parecia um pouco nervoso (no “Jornal Hoje”, da Globo, e no “Edição das 18h”, da GloboNews, esbanja competência e tranquilidade), mas com a eficiência e elegância de sempre.
Então, César Tralli já está no “JN”, mas como substituto, não como efetivo. Talvez esteja sendo testado pela Globo e pelo próprio William Bonner.
A ida para o “JN”, em caráter definitivo, poderá ser positiva para a carreira, notadamente no sentido financeiro, de César Tralli. Mas ele é, sobretudo, um repórter brilhante que se deu bem na apresentação. No “Jornal Hoje” e na GloboNews consegue ser, a um só tempo, apresentador e repórter — o que não poderá fazer no “Jornal Nacional”. No carro-chefe da Globo, o âncora é, fundamentalmente, um leitor de notícias. Aqui e ali, “edita” a fala dos repórteres com um sorriso ou um comentário curto. Nada mais do que isto.
Fico com a impressão (e não tenho informação objetiva a respeito; faço o que os sites não fazem) de que a Globo está preparando três jornalistas para voos mais altos: Andreia Sadi (uma estrela), Aline Midlej e Nilson Klava (os dois mestres da simpatia).
3
Andréia Sadi: repórter do primeiro time
Andréia Sadi ancora o Estúdio I com desenvoltura ímpar (até já pisca menos). No grupo não é a mais experimentada, mas é uma das mais bem-informadas e é dotada de charme especial. Acima de tudo, é uma profissional atenta, que sabe das coisas. Suas análises carecem de profundidade? Na verdade, está se tornando uma analista competente e segura.
E é, como disse, uma estrela — aquela que chama a atenção. Mas quer ser mais do que isto: e é seu diferencial. Trata-se de uma profissional séria e busca o furo de reportagem como poucos. Não é uma âncora acomodada e, por isso, dinamizou o “Estúdio I”, tornando-o uma fonte segura de informação e análise, e não, como era antes, de “shownalismo”.
No caso de uma aposentadoria ou mudança de função de Renata Vasconcellos, Andréia Sadi poderia substitui-la? Talvez. Mas, assim como no caso de César Tralli, a Globo ganharia uma apresentadora e perderia uma grande repórter.
No “Estúdio I” Andréia Sadi brilha porque não fica apenas “lendo” notícias. Ela discute os fatos e, com seus colegas — Ana Flor, André Trigueiro (seu trabalho sobre meio ambiente é o melhor da televisão brasileira), Artur Dapieve, Daniel Sousa (a voz não é muito boa, mas o analista é ótimo), Flávia Oliveira, Marcelo Lins, Octávio Guedes e Valdo Cruz —, divulga furos de reportagem. Por isso cresceu profissionalmente.
4
Nilson Klava: repórter que brilha fora da redação
Ao substituir Aline Midlej, no “Jornal das 10”, da GloboNews, Nilson Klava provou que estava e está apto para voos mais alto. Tanto que foi promovido para apresentar o “Em Ponto”, na GloboNews, ao lado da notável Mônica Waldvogel, nas manhãs de segunda a sexta-feira. Os dois formam uma dupla que tem, digamos, química, graça, harmonia. Com eles, o “Em Ponto” ficou no ponto.
Nilson Klava une o repórter de primeira linha — tanto que sai da redação para fazer reportagens especiais pelo país — com o apresentador preciso. Um dia, não se sabe quando — o paranaense tem apenas 28 anos —, o jornalista poderá apresentar o “Jornal Nacional”? É possível. Mas, para acolher jornalistas da estirpe de César Tralli, Andréia Sadi e Nilson Klava, o “JN” deveria mudar o perfil.
5
Aline Midlej: uma mestra da empatia
Aline Midlej não tem a pegada da repórter Andréia Sadi, mas é uma apresentadora que gera, de cara, empatia. Poucos apresentadores brasileiros se engajam quando apresentam as notícias. Ela o faz, às vezes com segurança. É, como Nilson Klava, uma mestra da simpatia.
Aprecia também sair dos estúdios para fazer reportagens, o que a torna uma das profissionais mais completas da GloboNews. Pode acabar indo para a bancada do “Jornal Nacional”, ao lado de César Tralli, no futuro próximo? A rigor, a Globo nunca falou sobre o assunto. Na apresentação do “JN”, como substituta, não parece tão “solta” quanto na GloboNews, mas porque os perfis dos telejornais são diferentes. O da Globo é menos informal.
É possível mudar o perfil do Jornal Nacional?
O perfil do “Jornal Nacional”, que apresenta as notícias — no que faz muito bem —, sem explicá-las, caducou em parte.
Porém, tem sua importância ao sintetizar os fatos do dia para aqueles que não tiveram tempo de ouvi-las por causa do trabalho.
Fica a ressalva de que, com o celular, as pessoas têm acesso a notícias de várias fontes durante o dia.
Então, o “JN” pode acabar chegando “velho” (desatualizado) à maioria, ou parte substancial, dos telespectadores.
A GloboNews faz, durante todo o dia e começo da noite, uma síntese de qualidade do noticiário nacional e internacional, acrescentando debates de qualidade no “Estúdio I” e no “Em Pauta” (ancorado por Marcelo Cosme, com o apoio de uma seleção de primeira linha do jornalismo patropi: Ariel Palácios, Demétrio Magnoli, Eliane Cantanhêde, Fátima Oliveira, Gerson Camarotti, Guga Chacra, Joel Pinheiro, Jorge Pontual, Marcelo Lins e Maria Cristina Fernandes).
É óbvio que o modelo do “Jornal Nacional” ainda faz sucesso e sua audiência é alta. Porque é bem-feito, com um mostruário de informações seguras e objetivas. Mas dotá-lo de dois blocos de análises curtas — com Andréia Sadi, César Tralli ou Joel Pinheiro (que começou bem na GloboNews, apesar de certa ansiedade, que é natural para quem está estreando) —, longe de prejudicar, reforçaria sua qualidade.
Excelente profissional (ainda o melhor apresentador da tevê brasileira), William Bonner encarna o modelo atual do “Jornal Nacional”. Talvez, com sua saída, ficando apenas como editor-chefe, cargo que já acumula, o “JN” possa ganhar novo perfil, sem mudar sua essência, que é a de apresentar as notícias de maneira rápida e objetiva, com o padrão globo de qualidade.