O jornalista e sociólogo Demétrio Magnoli é uma voz dissonante no “Em Pauta”, da GloboNews. Parece que ninguém o ama, ninguém o quer e ninguém o chama de Baudelaire, diria o cronista Antônio Maria.

Eliane Cantanhêde, Guga Chacra e Gerson Camarotti (que, irritado, fica com cara de Lampião redivivo; logo ele, que, além de excelente comentarista de política, é um gentleman) torcem o nariz para Demétrio Magnoli, com certa frequência.

Recentemente, o âncora do “Em Pauta”, Marcelo Cosme — que, com seu jeitão acaipirado, é um mestre da simpatia — estranhou-se com Demétrio Magnoli. Cobrou cortesia, com alguma razão.

Brigar com Marcelo Cosme é quase uma impossibilidade, pois se trata de um profissional afável. Mas, com seu jeitão professoral, dono da última palavra — e sobretudo devido à cara irônica —, Demétrio Magnoli mexe com os nervos dos colegas.

Há alguém certo e alguém errado? Nenhuma coisa nem outra. Todos estão “certos”, mas precisam aprender a debater sem melindres. Por que digo que todos estão certos? Porque, no terreno puro das opiniões — “acima” dos fatos (que não são neutros, por falar nisso), ou seja, trata-se de interpretações —, é saudável que um programa jornalístico contemple comentários contraditórios. O “Em Pauta” fica mais rico, em termos de conteúdo, quando há divergências. Quando um comentarista fica levantando a bola para o outro, como se todos estivessem jogando para uma única torcida, o programa fica mais fraco e insosso, com cara de conversa entre compadres e comadres.

Marcelo Cosme: apresentador do “Em Pauta”, da GloboNews | Foto: Reprodução

Demétrio Magnoli é um dos melhores analistas do “Em Pauta” e parece não jogar para nenhuma torcida (e não estou dizendo que é imparcial, porque imparcialidade é mito, uma ficção) — tanto que suas palavras são farpas afiadíssimas em direção à esquerda e à direita. Como a maioria dos comentaristas do programa é de esquerda, ou aparenta ser, a dissonância do colega incomoda.

Oxalá os empautistas não estejam preparando a frigideira para fritar Demétrio Magnoli e substitui-lo pelo moderado Joel Pinheiro, que, mesmo intelectualmente preparado, ainda não tem a pegada, a solidez intelectual e a coragem do colega. Mesmo quando discorda, não é enfático. Porque é chegante.

Joel Pinheiro parece, por enquanto, pisar em ovos, mais endossando as opiniões dos colegas do que apresentando as suas. Mas promete muito. Porque fala bem, é articulado e tem conteúdo.

A GloboNews deveria manter Demétrio Magnoli como uma “instância” crítica, não engajada — no sentido de apoio (ao governo Lula da Silva, por exemplo) e não de militância —, no “Em Pauta”. Porque, se os colegas não ficam satisfeitos, os telespectadores permanecem ganhando uma opinião mais matizada.

Ao fazer uma espécie de defesa de Demétrio Magnoli, não estou, por outro lado, diminuindo a importância de Eliane Cantanhêde, Gerson Camarotti, Guga Chacra e Marcelo Cosme (com sua simplicidade e seu tipo não intelectual, deixando os colegas brilharem, é um âncora eficaz).

Eliane Cantanhêde (com quem cheguei a conversar em Tóquio, em 1996, quando da visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Japão) é uma das melhores comentaristas de política do país. Porque sabe tudo sobre os bastidores de Brasília e sua fala bem-humorada, com uma ironia inteligente e maliciosa, é sempre bem-vinda.

Guga Chacra conhece bem a política do Oriente Médio e dos Estados Unidos, onde mora. Seus comentários são pertinentes. Mesmo quando parece excessivo, pela ênfase dos comentários, é um analista percuciente e seguro.

Maria Cristina Fernandes, do “Valor Econômico”, com suas maneiras de socióloga ou cientista política, é uma das melhores “contratações” do “Em Pauta”. Seus comentários políticos são pertinentes e objetivos. Assim como Demétrio Magnoli, não joga para as torcidas e nem busca ser simpática. Expões suas análises com rigor e precisão, sem comentários engraçadinhos para cair nas graças dos telespectadores (o noticiário tornou-se espetáculo).

A turma do “Valor” dotou o jornalismo da GloboNews de mais conteúdo, de massa crítica.