Coco Chanel do jornalismo, Anna Wintour deixa o comando da revista Vogue. O Diabo não veste (mais) Prada?

27 junho 2025 às 17h55

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Há pouco mais de quatro meses, Anna Wintour foi condecorada pelo rei Charles III, no Palácio de Buckingham em Londres, com a Ordem dos Companheiros de Honra, pelo trabalho singular que, como editora-chefe da “Vogue” americana, realizou no mundo da moda por 37 anos.
Ao receber a honraria do soberano britânico, Anna Wintour tirou os óculos escuros (sua marca registrada) para fitar o rei diretamente nos olhos e disse: “Vossa Alteza, ao me condecorar com esta medalha, me deixa convencida que ainda tenho muito mais a alcançar”.

Vestida num Alexander MacQueen, seu designer predileto, a mais icônica jornalista do mundo da moda comentou, na época, estar surpresa com a condecoração.
A Ordem dos Companheiros de Honra, além do rei do Charles (Carlos) III, pode ser usada apenas por 65 pessoas que, de alguma forma, contribuíram para as artes, ciência, medicina e política.
Desde então, Anna Wintour passou a ser chamada na corte de “dame Anna Wintour”.
A então estrela da “Vogue” — nobre pelo talento — garantiu ao Rei que jamais interromperia a carreira.

Esta não foi a primeira vez que a “über” jornalista foi condecorada em Buckingham. Em 2023, a mulher que inspirou a personagem Miranda Pristley do romance de Lauren Weisberger (sua ex-assistente) “O Diabo Veste Prada”, adaptado para o cinema em 2006, interpretada por Meryl Streep que deu vida à poderosa editora-chefe de uma revista de moda baseada em Nova York, recebeu outra condecoração, também concedida pelo rei Charles III, durante a celebração do seu aniversário quando tornou-se dama de honra em Windsor, pela segunda vez.
Anna Wintour é um exército de uma mulher só

Em 2017, Anna Wintour, nascida em Londres, tornou-se dama (dame) do Reino Unido e Commonwealth pela primeira vez quando foi agraciada pela rainha Elizabeth II.
Ao lembrar o momento, em conversa reservada com a princesa Anne, Anna Wintour disse que, ao receber a medalha, disse à soberana britânica que as duas já estavam na estrada há muito tempo.
A rainha, admiradora escancarada do trabalho da jornalista, discretamente, pediu, assim como o filho o fez, que ela nunca parasse.
Mas a promessa “real” feita à rainha e ao seu sucessor não vingou.

Na quinta-feira, 26, dame Anna Wintour anunciou, aos 75 anos, que deixaria o cargo que ocupou com mão de ferro por quase 40 anos na “Vogue” americana.
A jornalista comunicou à Condé Nast, editora-dona da “Vogue”, “GQ”, “Vanity Fair”, que é decisão tomada, ou seja, incontornável.
A Condé Nast já está à procura de alguém que possa substituir Anna Wintour. Mas o nome da substituta — ou substituto — ainda é um mistério.
Substituir a papisa da moda mundial é tarefa quase impossível. Há que postule ela era um exército de uma pessoa só. Ela era a cara da “Vogue”. Por isso, é provável que o comando da empresa nomeie uma equipe para substitui-la, dividindo tarefas e comandos.
Só que promessa é dívida. E Anna Wintour a fez tanto em Buckingham como em Windsor. Assim, a aposentadoria de uma das mulheres mais influentes do mundo será gradual e parcial. Ela ainda continua no cargo até sua substituição e vai acumular o cargo de diretora-global da Condé Nast — que assumiu em 2020. Além disso, deverá permanecer “ad-infinitum” como diretora-editorial global da “Vogue”. É um prêmio ao talento e à energia da jornalista, que fez história e se tornou história.