A Europa estava deitada, os Estados Unidos eram omissos, a União Soviética era aliada dos nazistas, Hitler estava vencendo a guerra, mas a Inglaterra tinha um primeiro-ministro guerreiro

Winston Churchill, o primeiro-ministro guerreiro, inspeciona uma “tommy gun”; ele havia sido militar e entendia de tática e estratégia de guerra

O filme “O Destino de uma Nação”, de Joe Wright, é praticamente “co-dirigido” pelo britânico Gary Oldman, que faz um Winston Leonard Spencer-Churchill (1874-1965) tão adequado que, por vezes, o espectador pega-se pensando que não se trata de um ator, e sim do próprio político que derrotou Adolf Hitler. Sua atuação é tão impecável, com precisão rara, que o artista parece ter se anulado — o que, claro, não é factível — para abrir espaço para o brilho do personagem histórico. O que a película exibe é o primeiro-ministro da Inglaterra solando… a Língua Inglesa — seu violino. Com seus discursos magistrais, levantou a nação, provando que palavras, quando usadas ao estilo flaubertiano, são armas às vezes mais eficazes do que metralhadoras e fuzis. Porque palavras retiram o povo da letargia e o mobilizam em defesa de uma causa. O político de 65 anos “mobilizou a Língua Inglesa e a enviou para a guerra. Palavras eram tudo de que ele dispunha naqueles dias (maio de 1940). Com palavras, Churchill mudou o clima político e sustentou a tensão nervosa de um povo abalado, empurrando-o por uma estrada incerta que o levou à vitória total”, escreve Anthony McCarten. A “história o ouvia”, pontua o escritor e roteirista do filme “O Destino de uma Nação”.

Em maio de 1940, quando Churchill se tornou primeiro-ministro, a Alemanha de Hitler estava ven­cendo a guerra. Bélgica, Ho­landa e França logo estavam prostradas, ante o poderio nazista. A Inglaterra assistia o controle da Europa Continental de maneira meio impotente. Porque a força alemã era avassaladora. Baseado no livro “O Destino de uma Nação — Como Churchill Desistiu de um Acordo de Paz Para Entrar em Guerra Contra Hitler” (Crítica, 271 páginas, tradução de Eliana Rocha e Luis Reys Gil), de Anthony McCar­ten, o filme sugere que, para preservar a independência da Inglaterra, o primeiro-ministro, seguindo tese do ministro das Relações Exteriores, Lorde Halifax (Edward Frede­rick Lindley Wood), cogitou de um pacto com Hitler, sob mediação do fascista italiano Benito Mussolini. A rigor, o sucessor de Neville Chamber­lain — Lorde Halifax quase assumiu o governo —, não acreditava em acordo com os tiranos germânicos. Mas precisava, além de ganhar tempo, do apoio dos aliados conservadores, como Cham­berlain e Halifax.

Literatura e vida

Livro formidável do historiador húngaro John Lukacs mostra que as palavras de Winston Churchill funcionam como balas certeiras e motivaram tanto líderes quanto populares

Os discursos de Churchill têm sido examinados por vários historiadores. A qualidade do texto é inegável — há literatura de primeira linha em boa parte deles. À primeira vista, parecem floreados e pomposos. Na verdade, apesar de certa pompa, eram fortemente ancorados na alta literatura universal e, sobretudo, na realidade. Não eram puras ficções. O primeiro-ministro mesmo disse que não se ganha nenhuma guerra apenas com palavras e evacuações — a retirada de Dunquerque deveria ser comemorada, porque salvou os ingleses (e não só), mas não é uma vitória —, e sim com atos.

O historiador húngaro John Lukacs, que fez carreira acadêmica nos Estados Unidos, é autor de um livro excelente, “Churchill e o Discurso Que Mudou a História — Sangue, Trabalho, Lágrimas e Suor” (Zahar, 119 páginas, tradução de Maria Luiza X. de A. Borges). Na verdade, o pesquisador, um dos principais conhecedores das ações do primeiro-ministro, examina vários discursos. “Suas palavras nos inspiram quando as lemos, prova de que resistiram ao teste do tempo. Esse já era o caso logo depois de 1940: em 1941, uma coleção de seus discursos de 1938 a 1940 foi publicada em livro. Foi um sucesso instantâneo na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e no Canadá. Em outubro de 1940, uma companhia fonográfica (HMV) fez um disco com quatro de seus discursos. (…) O discurso do ‘sangue, trabalho, lágrimas e suor’ não foi transmitido pelo rádio nem registrado, exceto em ‘Hansard’, o documento impresso das sessões da Câmara dos Comuns. Não era uma frase vazia. Eram as palavras de um homem que não perdeu a Se­gunda Guerra Mundial, a guerra contra o mais revolucionário e mais perigoso líder nacional do século 20, Adolf Hitler.”

Mas, ao contrário do que comumente se pensa, o célebre discurso não teve, num primeiro momento, impacto na Ingla­terra. John Lukacs assinala que, “em 1940, alguns discursos de Churchill alteraram o curso da história britânica. ‘Sangue, trabalho, lágrimas e suor’ não teve esse efeito — pelo menos não em 13 de maio de 1940, quando Churchill pronunciou essas palavras, ou nos dias seguintes”.

Se não houve choque imediato, por que discuti-lo como central na arte verbal do primeiro-ministro? Porque, firma John Lukacs, tais palavras “lançam um súbito golpe de luz sob — sob, não além — o timbre sonoro da retórica de Churchill. Elas iluminam algo. Refletem algo que estava e que permanece sob sua bravura. A bravura de Churchill estava viva em maio de 1940; as pessoas, especialmente na Grã-Bretanha, estavam impressionadas com ela”.

Churchill tinha consciência plena do valor guerreiro da Alemanha de Hitler e sabia que os Aliados — se era possível falar em Aliados — estavam perdendo a guerra. O belicismo do primeiro-ministro, azeitado pelas palavras certas ditas nos momentos certos, convenceu os britânicos que seria possível derrotar os alemães. Mas o líder tinha consciência de que sua missão se enquadrava entre as quase impossíveis. Contar com quem para enfrentar os nazistas? A França, ocupada, não reagia, ou reagia pouco. Os Estados Unidos, geridos pela raposa Franklin D. Roosevelt, não queriam participar da guerra. O presidente americano alegava que o Congresso e o povo rejeitavam qualquer ação nesse sentido.

A Alemanha era uma potência formidável e tinha um líder tão resoluto quanto Churchill. “Sabe­mos — e muitas vezes esquecemos — que foram necessárias as forças combinadas dos Estados Unidos, da União Soviética e da Grã-Bretanha para derrotá-la e conquistá-la, e que a aliança de quaisquer dois desses países não teria sido suficiente”, sugere John Lukacs. Se a Inglaterra tivesse desistido de lutar, se não estivesse sob o comando de um político intimorato e que havia sido militar, possivelmente a língua “franca” do mundo seria não o inglês de Shakespeare e Emily Dickinson, e sim o alemão de Goethe e Thomas Mann.

Para combater Hitler, o primeiro-ministro percebeu que, em vez de tratá-lo meramente como maluco, era preciso compreendê-lo. Churchill havia lido “Minha Luta”, o livro-ideário do líder alemão (nascido na Áustria), e alertou, bem antes de 1939, que, ao contrário do que entendiam alguns políticos ingleses, como Chamberlain, e franceses, como Eduard Daladier, que estava se preparando, desde 1933, para a guerra, não para a paz.

Em outubro de 1930, durante um jantar na embaixada da Ale­manha em Londres, os diplomatas ficaram impressionados com a insistência de Churchill a respeito de Hitler. Um funcionário da embaixada, descendente de Bismarck, decidiu comunicar o fato ao governo, em Berlim: “Hitler declarou, é claro, que não pretende iniciar uma guerra mundial, mas Churchill acredita que Hitler e seus seguidores agarrarão a primeira chance de recorrer às armas de novo”. O líder nazista chegou ao poder em janeiro de 1933 (e sem nenhum golpe). “Mas ninguém na época [1930] pensava que um homem como Hitler poderia se tornar o líder ou o chanceler eleito da Alemanha”, historia John Lukacs.

Winston Churchill e sua mulher, Clementine: ela o orientava a não ser arrogante e a ouvir as opiniões das pessoas, inclusive das mais simples


Hitler e Churchill

Quando Churchill se tornou primeiro-ministro, Hitler não lhe deu a devida atenção. No diário, em 1940, Joseph Goebbels anotou: “Agora Churchill é o premier. O terreno está livre! É disso que gostamos”. Um ano depois, em 1941, recompôs-se: “Se não fosse por ele, esta guerra já teria terminado há muito tempo”.

Se 1930 era a década do sucesso de Hitler, era também a década do fracasso de Churchill, tido por aqueles que defendiam o apaziguamento — a maioria — como profeta do apocalipse. Curiosamente, a recuperação da imagem do britânico se deve à ascensão do nazista. Tanto que, com a invasão da Polônia pela Alemanha, Chamberlain ofereceu-lhe o cargo de primeiro lorde do Almirantado, comandante da Marinha britânica.

Depois da invasão da Polônia, no início de setembro de 1939, as tropas alemães invadiram a Dina­mar­ca e a Noruega, em 9 de abril de 1940. Embora respeitado pelas elites inglesas, Chamberlain renunciou e Churchill se tornou primeiro-ministro em 10 de maio de 1940. Foi convocado porque, mais do que um intelectual de palavra fácil e justa, era um guerreiro. Mas poucos confiavam no seu equilíbrio. Chamberlain e o rei George VI queriam Lorde Halifax, mas os três sabiam que, naquele momento, precisavam, digamos, de um “doido” como Churchill. O que se percebeu, na versão de John Lukacs, é que, além de nada doido, o primeiro-ministro era pragmático e, mesmo tendo posições firmes, capaz de ouvir seus interlocutores. Conquistou primeiro Chamberlain e, aos poucos, Halifax. Seus adversários descobriram que, além de decente, era magnânimo.

No livro “História da Segunda Guerra Mundial”, Churchill contou que, ao assumir o comando do governo e do Ministério da Defesa, “sentia como se estivesse caminhando com o destino, e como se toda minha vida passada tivesse sido apenas uma preparação para essa hora e para essa provação”. O pai de John Kennedy, Joseph Kennedy, era embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra e informou ao governo de Roosevelt que Chamberlain (que morreu em 1940, de câncer no intestino), Halifax e Churchill eram homens velhos e cansados”. Estava equivocado tanto sobre Halifax (que era um político qualitativo) quanto a respeito de Churchill.

Nas ruas, quando algumas pessoas disseram “boa sorte, Winnie. Deus o abençoe”, Churchill comentou com lorde Ismay: “Pobre gente. Não posso lhes dar senão desastre por um tempo muito longo”. Se o povão estava animado, políticos e militares não tinham tanto entusiasmo com o novo primeiro-ministro. Chegavam a dizer que era “azarado”. Muitos esperavam que Halifax assumisse.

Publicada no “Evening Standard”, em 14 de maio de 1940, a charge de Low exibe a nação inglesa, com Churchill na liderança, arregaçando as mangas das camisas para enfrentar as tropas de Adolf Hitler

Palavras cortantes

Se havia receio sobre a capacidade de Churchill para governar, ele próprio não tinha qualquer dúvida a respeito de sua capacidade tanto de gerir quanto de combater. Para convencer a sociedade e seus líderes, percebeu que só havia uma arma: o uso preciso e cortante das palavras. O primeiro-ministro escrevia e revisava seus discursos — os aspectos técnicos, quando necessário, deixava para a checagem da assessoria — e ruminava as ideias durante algum tempo. Em seguida, testava alguns trechos, como “nada senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”, com alguns de seus auxiliares.

No dia 13 de maio de 1940, Churchill fez o célebre discurso inaugural como primeiro-ministro na Câmara dos Comuns. Ao chegar, recebeu menos aplausos que Chamberlain. Disse: “Nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Explicou qual era seu “plano de ação”: “É travar a guerra, por mar, terra e ar, com todo o nosso poder e com toda a força que Deus nos possa dar; travar guerra contra uma monstruosa tirania jamais suplantada no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos”. Qual o objetivo de seu governo? “É a vitória, a vitória a todo custo, a vitória a respeito de todo o terror a vitória por mais longa e árdua que seja a estrada; pois sem a vitória não há sobrevivência”.

O discurso foi aplaudido por integrantes dos partidos Trabalhista e Liberal. O Partido Conservador, ao qual pertencia Churchill, não se entusiasmou.

John Lukacs nota que, ao escrever o discurso, Churchill pôs aspas no trecho “nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”. A contenção do fraseado é do primeiro-ministro, mas frases e ideias têm história e, como enciclopedista, ele sabia disso. Estava, portanto, citando e, ao mesmo tempo, mutando a citação. O italiano Giuseppe Garibaldi, que andou pelo Brasil e lutou pela unificação da Itália, disse, em 1849, aos seus seguidores: “Não ofereço nem paga, nem alojamento, nem provisões. Ofereço fome, sede, marchas forçadas, batalhas e morte”. Anthony McCarten vai além do que sugere John Lukacs: “Podemos buscar a origem de ‘sangue, trabalho árduo, lágrimas e suor’ no ‘De Divinatione II’, de Cícero (44 a. C.), e na ‘História de Roma’, de Tito Lívio (c. 29 a. C.), quando ‘sudor et sanguis’ (“suosr e sangue”) foram emparelhados pela primeira vez e usados com frequência. Séculos mais tarde, John Donne diria em seu poema de 1611 ‘Uma anatomia do mundo’: ‘Que é inútil borrifar ou aliviar com tuas lágrimas, ou suor, ou sangue’. Em 1823, lorde Byron escreveu: ‘Ano após ano, recolheram centavo por centavo/Milhões arrancados com sangue, suor e lágrimas — pra quê? para alugar!’; e no poema ‘Ixion’, de Robert Browning, de 1883, estão as palavras: ‘Lágrimas, suor, sangue — cada espasmo, horrível antes, agora glorificado’”. Anthony McCarten também cita Garibaldi como referência. Em 1897, Theodore Roosevelt disse: “Por causa do sangue e suor e lágrimas, da labuta e da aflição, por meios dos quais, nos dias que já se foram, nossos ancestrais alcançaram triunfos”.

No livro “O Rugido do Leão”, o historiador Richard Toye escreve: “A repetição dessa simples palavra ‘vitória’ cinco vezes em uma única sentença criou uma marcante impressão do foco e determinação de Churchill; ele não promete a vitória, mas promete, sim, não se deter antes de alcançá-la, e isso significava que suas advertências de sangue e terror vinham junto com um sentimento de otimismo”.

“Churchill quis incutir nas pessoas”, frisa John Lukacs, “a ideia de que imediatamente à frente deles assomava não a perspectiva de uma boa guerra, de triunfos próximos ou distantes, mas a perspectiva de agruras e sofrimento diante de desastres, na verdade desastres iminentes: à frente deles encontravam-se não promessas, mas ameaça”. O primeiro-ministro, que tinha uma “mente rápida”, não subestimava a capacidade de compreensão do povo inglês.

Com os nazistas controlando a Europa, cada vez mais, no lugar de edulcorar a realidade, Churchill disse a verdade: era possível vencer, mas às custas de um sacrifício ingente. No dizer de John Lukacs, “‘Sangue, trabalho, lágrimas e suor’ haviam sido as palavras certas, o soar de um sino de ressonância profunda, monótona, um tom sombrio de advertência”.

Enquanto Churchill encorajava os ingleses o primeiro-ministro fran­cês Paul Reynaud ligava: “Per­demos a batalha”. Em 31 de maio de 1940, em Paris, o primeiro-ministro inglês disse ao colega da terra de Proust: “Se a Alemanha derrotasse qualquer um dos aliados ou ambos, ela não daria clemência; seríamos reduzidos ao Estado de vassalos para sempre. Seria muito melhor que a civilização da Europa Oci­dental, com todas as suas realizações, chegasse a um fim trágico, mas esplêndido, que as duas grandes democracias subsistirem, despojadas de tudo que faz a vida valer a pena”.

Percebendo que, sem os Estados Unidos, com seus imensos recursos, não poderia vencer a Alemanha, que era os Estados Unidos da Europa, Churchill aproximou-se do presidente americano. Frise-se que, registra John Lukacs, ‘nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor’ não causou nenhuma impressão em Franklin Roosevelt”.

Vitória e derrota

Logo depois do término da guerra, em julho de 1945, Churchill e os conservadores perderam as eleições para os trabalhistas de Clement Attlee — que havia sido ministro durante a batalha. Há várias explicações. É provável que os ingleses, se entendiam que Churchill era eficaz para a guerra, a destruição, perceberam que os trabalhistas poderiam ser melhores para a reconstrução. Os ingleses estavam cansados, arrasados até, e o discurso social da esquerda soava como néctar aos seus ouvidos. Entre 1951, aos 77 anos, Churchill voltou a ser primeiro-ministro.

Filho de uma americana com um inglês, o francófilo Churchill be­bia uísque e champanhe, fumava cha­rutos (lutou em Cuba ao lado dos espanhóis) e comia muito. Viveu 90 anos. Escreveu livros de história e sobre a Língua Inglesa, pintou quadros, publicou literatura, ganhou o Nobel de Literatura e derrotou Hitler. Não é pouco para uma só vida, mesmo longa.

Discurso de Churchill sobre sangue, trabalho, lágrimas e suor

“Imploro que:

Esta Casa saúde a formação de um governo que representa a determinação unida e inabalável da nação de levar a guerra contra a Alemanha a uma conclusão vitoriosa.

Na noite da última sexta-feira, recebi a delegação de Sua Majestade para formar um novo governo. É o desejo e a vontade evidente do Parlamento e da nação que isso seja concebido na base mais ampla possível e que inclua todos os partidos, tanto aqueles que apoiaram o último governo quanto os da oposição. Completei a parte mais importante desta tarefa. Um Gabinete de Guerra foi formado com cinco membros, representando, com os liberais da oposição, a unidade da nação. Os três líderes dos partidos concordaram em servir ou no Gabinete de Guerra ou nos altos cargos do Executivo. Os três postos nas forças armadas foram preenchidos. Foi necessário que isso tudo fosse feito em um único dia, por conta da urgência extrema e do rigor dos acontecimentos. Um bom número de outras posições, posições-chave, foi preenchido ontem — e vou submeter uma lista adicional à Sua Majestade hoje à noite. Espero completar a indicação dos principais ministros durante o dia de amanhã. A indicação dos outros ministros normalmente leva um pouco mais de tempo, mas confio que, quando o Parlamento se reunir de novo, esta parte da minha tarefa estará completa — e o governo estará formado em todos os sentidos.

Considerei de interesse público sugerir que a Casa fosse convocada para se reunir hoje. O presidente da Câmara dos Comuns concordou e tomou as providências necessárias, de acordo com os poderes a ele conferidos por resolução da Casa. Ao fim dos procedimentos de hoje, será proposta a suspensão dos trabalhos da Casa até terça-feira, 21 de maio, incluindo naturalmente a provisão para uma reunião mais cedo se houver necessidade. O assunto a ser considerado na próxima semana será notificado aos membros na primeira oportunidade. Agora, solicito à Casa, pela moção que está em meu nome, que confirme sua aprovação às medidas que tomei e que declare sua confiança no novo governo.

Formar um governo desta escala e complexidade é em si mesmo uma tarefa séria, mas devemos lembrar que estamos no estágio preliminar de um das mais duras batalhas da história, que estamos em ação em muitos outros pontos na Noruega e na Holanda, que devemos nos preparar no Mediterrâneo, que a batalha aérea é contínua e que muitas providências — tais como as que foram indicadas pelo meu honrado amigo das fileiras de baixo¹ — têm de ser tomadas aqui. Em meio a esta crise, espero ser perdoado se não me dirijo à Casa com detalhes no dia de hoje. Espero que todos os meus amigos e colegas, ou antigos colegas, que estão sendo afetados pela reestruturação política, perdoem qualquer falta de cerimônia com que tenha sido necessário agir.

Eu diria à Casa, como disse àqueles que se juntaram a este governo: nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor. Temos diante de nós muitos, muitos e longos meses de luta e sofrimento. Os senhores perguntam: qual é o nosso plano de ação? Posso dizer: é travar guerra, por mar, terra e ar, com todo o nosso poder e com toda a força que Deus nos possa dar; travar guerra contra uma monstruosa tirania jamais suplantada no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. Este é o nosso plano de ação. Os senhores perguntam: qual é o nosso objetivo? Posso responder em uma palavra: é a vitória, a vitória a todo custo, a vitória a despeito de todo o terror, a vitória por mais longa e árdua que seja a estrada; pois sem a vitória não há sobrevivência. Que isto seja entendido: sem vitória não há sobrevivência para o Império Britânico, não há sobrevivência para tudo que o Império Britânico tem representado, não há sobrevivência para o anseio e o impulso das eras, de que a humanidade avançará em direção ao seu objetivo. Assumo minha tarefa com entusiasmo e esperança. Estou convencido de que a nossa causa não irá fracassar entre os homens. Neste momento, sinto-me autorizado a pedir a ajuda de todos, e digo: venham, vamos em frente juntos, com a força da nossa união.”

Nota

¹ Em inglês, ‘below the gangway’ designa as fileiras inferiores da Câmara dos Comuns, onde normalmente sentam-se os membros dos partidos minoritários. (Nota da tradutora Maria Luiza X. de A. Borges). O discurso foi pronunciado no dia 13 de maio de 1940.

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