Cegueira lincha razão de Raduan Rip van Winkle Nassar, que ataca Moro, MPF e PF para defender Lula
27 agosto 2016 às 10h36
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Da “Lavoura ‘Escassa’” do notável escritor patropi parece que a commodity mais apreciada são copos de cólera panglossianos em defesa do petista Lula da Silva e contra José Serra e Gilmar Mendes
Há escritores que “cedo” publicam suas obras-primas e, depois, não conseguem igualá-las. O britânico Ian McEwan continua escrevendo muito bem, mas nada comparável ao romance “Reparação”. O sul-africano J. M. Coetzee é autor de alguns livros de qualidade, mas nada equivalente ao romance “Desonra”. Machado de Assis publicou três romances incomparáveis — “Quincas Borba”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro”. Há um Bruxo do Cosme Velho antes e depois de tais publicações. Há também autores que, depois de publicar sua ou suas obras-primas, recolhem-se e nada mais escrevem ou lançam. São os casos do americano J. D. Salinger e do brasileiro Raduan Nassar, de 80 anos. “Lavoura Arcaica”, de 1975, e “Um Copo de Cólera”, de 1978, são notáveis e colocam seu criador nas proximidades de Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa — a santíssima trindade da literatura patropi.
Pela qualidade excepcional de sua literatura, Raduan Nassar recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa. Depois de publicar suas obras-primas — e tendo lançado “Menina a Caminho e Outros Textos”, em 1997 —, “trocou” a profissão de escritor pela de fazendeiro e criador de galinhas. Recentemente, doou a fazenda para uma universidade. É provável que, como escritor, tenha se esgotado? É possível.
Se desistiu de escrever e publicar livros, Raduan Nassar está se tornando polemista. No domingo, 21, na seção “Tendências/Debates”, da “Folha de S. Paulo”, publicou o artigo “Cegueira e linchamento”. O texto surpreende não só pela adesão política cega do escritor ao Lulopetismo — como se não tivesse nenhuma percepção realista do que é o petrolão e a Operação Lava Jato, sobretudo como se não existissem (são “ficções da realidade”) —, mas também pela linguagem próxima do chulo e pelas informações falsas, frágeis e incongruentes. As pequenas falhas no texto, como “estranhar” no lugar de “estranha” e “Serio” em vez de Sergio (Moro), não invalidam a qualidade geral de sua escrita.
Se o leitor tivesse dormido em 1968 e acordado agora, 48 anos depois, ficaria com a impressão de que Raduan Nassar era/é seu contemporâneo — quer dizer, trata-se de um homem da década de 1960 que está, fisicamente, na década de 2010. É como se o escritor fosse o Rip van Winkle dos trópicos. Como se sabe, a personagem do conto do escritor americano Washington Irving dormiu durante 20 anos e, ao voltar para sua cidade, falava como se não fosse contemporâneo de seus amigos e familiares. Era um homem de outro tempo num tempo que lhe era inteiramente estranho. É como se deve avaliar o artigo do admirável Raduan Nassar.
Comparsas de Bush
Embora cite o jornalista Robert Fisk, do “The Independent”, Raduan Nassar ecoa o linguista Noam Chomsky ao sugerir que o ex-primeiro ministro Tony Blair e George W. Bush “deveriam ser julgados por crimes de guerra, a exemplo de Nuremberg, que se ocupou dos remanescentes nazistas”. Comparar Tony Blair e Bush filho com Adolf Hitler é ter uma compreensão primária da história. Porém, ao contrário do que pensam autores mais à direita, não discordo de que os crimes dos americanos — curiosa ou sintomaticamente, o autor do artigo não menciona Barack Obama — no Oriente Médio e na África, com ou sem drones, devam ser investigados. O combate cirúrgico, tanto o americano de Barack Obama quanto o russo de Vladimir Putin, nada tem de cirúrgico — daí a morte de tantos inocentes, notadamente crianças, como na Síria. As mortes tanto do Oriente quanto do Ocidente devem e precisam ser lamentadas, denunciadas e, inclusive, registradas num amplo “censo” independente. Nisto, mas sem demonizar americanos e ingleses, aproximo-me de Raduan Nassar. Guerras justas precisam ser dimensionadas, com especificações precisas. Senão, a médio ou longo prazo, se tornam genocídios.
George W. Bush é apresentado como “comparsa” de Tony Blair e este é chamado de “poodle”, quer dizer, de “cachorrinho” do ex-presidente dos Estados Unidos. Baseado no WikiLeaks de Julian Assange, Raduan Nassar apresenta Michel Temer, antes de ser presidente, como informante — “fornecia informações sobre o cenário político brasileiro” — de Bush. Crível? Apesar do WikiLeaks, pouco provável. O texto meio enviesado sugere que, embora seja filiado ao PMDB, Temer é tucano — “como de resto nomes expressivos do tucanato”. Parece delírio, talvez seja delírio: os tucanos são apresentados como “fontes” de Bush. Nos seus diários, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugere que Bush tinha mais simpatia pelo ex-presidente Lula da Silva do que por ele. Seria Lula, a se aceitar as perorações conspiratórias de Raduan Nassar, um Kim Philby dos americanos, do imperialismo? Claro que não. Apesar da importância dos Estados Unidos, um país incontornável para países gigantes e produtores de commodities, como o Brasil, Fernando Henrique e Lula da Silva sempre se mantiveram altivos com relação a Bush. Procede, porém, que as relações de FHC e Bill Clinton eram excelentes — o que, no seu artigo-vingador, Raduan Nassar não menciona. Fica-se com a impressão de que o poderoso escritor pensa que os Estados Unidos ainda são governados por Bush, e não por Barack Obama, do Partido Democrata.
Nos momentos em que está imprecando, discursando como radicais da década de 1960 — como aqueles jovens que vendiam a “Tribuna da Luta Operária” —, Raduan Nassar diverte os leitores, como eu, que o admiro. Há o tolicionário cômico: “cortejo de rabo preso” e “sabujos afins”. Se não acredita, leia o nosso Rip van Winkle: “Não estranhar [sic] que o interino Temer, seu cortejo de rabo preso e sabujos afins andem de braços dados com os tucanos, que estariam governando de fato o Brasil ou, uns e outros, fundindo-se em um só corpo, até que o tucanato desfeche contra Temer um novo golpe e nade de braçada com seu projeto de poder — atrelar-se ao neoliberalismo”. Dei o artigo para dois amigos, um de direita e outro de centro-esquerda — se isto existe. Ficaram perplexos. A reação do de centro-esquerda foi mais surpreendente: “O texto só pode ter sido escrito pela filósofa Marilena Chauí”. O de direita é mais preciso: “Apesar do radicalismo, da terminologia démodé, o artigo é mesmo de Raduan Nassar, pois falta fluência, ritmo, aos escritos da ‘espinhosa’ [não confundir com Espinosa] filósofa Marilena Chauí”. O direitista está certo, ao perceber o ritmo do escritor e a falta de agilidade do texto da professora aposentada. Mas o centro-esquerdista não se equivoca ao registrar que o cheiro de formol da diatribe de Raduan Nassar equivale às nervuras do irreal da uspiana, “discípula” de Lula da Silva.
Aloysio e Serra neoliberais
As ideias no Brasil estão quase sempre fora do lugar e não há quem — o “Crátilo”, de Platão ajudaria, se Raduan Nassar não tivesse parado de ler (ou de escrever?) — consiga reencaixá-las. Só se pode nominar de estupidade, ao modo de Mário de Andrade, a tese do autor de “Lavoura Escassa” (ainda seria “Arcaica”?) a respeito do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e do senador Aloysio Nunes. Os tucanos seriam neoliberais.
Neoliberais verdadeiros, que são poucos — contam-se, por vezes, nos dedos —, por certo não aceitam a tese, aliás nem hipótese é, de que José Serra e Aloysio Nunes são neoliberais. Foram até de extrema esquerda na juventude, Aloysio Nunes pertenceu à Ação Libertadora Nacional (ALN) de Carlos Marighella, e permanecem de esquerda. José Serra é mais de centro-esquerda. O “teórico”, quiçá chauidista, Raduan Nassar — os leitores da “Folha” devem ter ficado com ar de suspanto — vocifera como uma criança: “O senador Aloysio foi às pressas a Washington no dia seguinte à votação do impeachment de Dilma Rousseff na exótica Câmara dos Deputados, como primeiro arranque para entregar o país ao neoliberalismo norte-americano”. Nada descontente com sua argumentação furibunda, o autor de “Um Copo de Cólera” ataca abaixo da linha de cintura, como se fosse um boxeador faltoso, como o mexicano Antonio Margarito (aliás, como articulista Raduan Nassar tem a contundência e a qualidade de algumas novelas mexicanas): “Foi secundado por seu comparsa tucano, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também interino-itinerante que, num giro mais amplo, articula ‘flexibilizar’ Mercosul, Brics, Unasul e sabe-se lá mais o quê”. Não dá para acreditar. Crer em Aloysio Nunes e José Serra como “sabujos” dos governantes americanos é o mesmo que acreditar que a ALN venceu os militares e assumiu o governo do Brasil em 1968. É história alternativa produzida por uma mente delirante.
Se Raduan Nassar acredita que José Serra tem condições de mandar no Brics, que inclui China e Rússia, é de se perguntar se entende minimamente de economia. Talvez entenda de economia — afinal, foi um potentado criador de galinhas no interior de São Paulo —, mas não sabe direito o que é o Brics. Nem os Estados Unidos “barram” Rússia e China.
Adiante, parecendo avaliar que José Serra é Lúcifer em forma de careca, Raduan Nassar com luvas de gesso, ao modo do boxeador Antonio Margarito, praticamente gritou: “Além de comprometer a soberania brasileira, Serra atira ao lixo o protagonismo que o país tinha conseguido no plano internacional com a diplomacia ativa e altiva do chanceler Celso Amorim, retomando uma política exterior de vira-lata”. Agora, raciocinem comigo e com independência: José Serra está mesmo comprometendo o protagonismo do Brasil e de que altivez nos fala Raduan Nassar? A rigor, José Serra está tentando criar uma política exterior, porque a do PT era de um irrealismo absoluto — como seu apoio à Venezuela, Cuba, Bolívia, Angola —, e inserir o país no contexto das superpotências, e sem ignorar parceiros econômicos estratégicos. Dá para ignorar “elefantes” como Estados Unidos, China, Alemanha e Índia, trocando-os por esquilos como Venezuela, Cuba, Equador e Bolívia (país que, frágil em relação ao Brasil, confrontou um inerte governo patropi sob o PT)?
Não se sabe em qual realidade paralela vive Raduan Nassar ao sugerir que Angela Merkel não é mais poderosa. Há desgaste, sim. Mas a chanceler alemã é a mais importante política europeia da atualidade. A Europa é “dirigida”, em larga medida, pela Alemanha. O escritor conta que Lula da Silva contestou la Merkel a respeito do programa nuclear do Irã. Chegou a “calá-la”. Um escritor vive de palavras, mas, em termos de política, são as ações (resultados) que mandam. Merkel continuou poderosa, inclusive com influência no Oriente Médio (aliadíssima de Israel), e Lula da Silva e Dilma Rousseff nunca tiveram importância alguma para a região. Discursos aplaudidos, como o de Lula, em Hamburgo, em 2009 — quando era quase canonizável em vida —, são apenas isto: discursos. Belas ideias, sobretudo se não forem ancoradas na realidade, são aplaudidas e, igualmente, esquecidas. É o caso.
Sergio Moro e a Lava Jato
Os méritos da Operação Lava Jato são “supostos”, na opinião de Raduan Nassar. “Espera-se que o juiz Serio [sic] Moro venha a se ocupar também de certos políticos ‘limpinhos e cheirosos’, apesar da mão grande do inefável ministro do STF Gilmar Mendes”. No parágrafo seguinte, sem costurar o texto, deixando-o sem nexo — como se tivesse perdido a memória —, o pós-escritor assinala: “Por sinal, seu discípulo, o senador Antonio Anastasia, reproduz a mão prestidigitadora do mestre: culpa Dilma e esconde suas exorbitantes pedaladas, quando governador de Minas Gerais”. Ah, sim, esquecendo Rip van Winkle — glória ao rei George III e ao rei Lula da Silva! —, Raduan Nassar aproxima-se de Harry Houdini, o ilusionista húngaro-americano. O que se está dizendo é que o escritor sugere que se leia não o que está no texto, e sim as bravatas das entrelinhas. Por receio de processo judicial, não é, por certo. Depreende-se que se trata de caos mesmo. Vamos adivinhar com Raduan Houdini van Winkle. Antonio Anastasia é discípulo de quem? Pelo texto, fica-se com a impressão de que é de Gilmar Mendes (suposto “goleirão” dos tucanos, insinua o escritor), mas o bom senso, que falta ao escritor, sugere que se trata do senador Aécio Neves (PSDB), de Minas Gerais. Pronto: adivinhamos: Raduan Nassar — tão de origem libanesa como eu — escreve para leitores que entendem o não dito e até o mal dito.
Para avaliar Sergio Moro, um juiz de rara integridade e menos narciso do que poderia ser — na verdade, só não é narciso quem já morreu —, Raduan Nassar recorre ao historiador Luiz Moniz Bandeira. Trata-se de um pesquisador de, como se dizia nos tempos de antanho, os do autor de “Lavoura ‘Escassa’”, nomeada. Pesquisa para justificar sua tese de que o imperialismo americano, sobretudo, é o mal absoluto. Raduan Nassar parece gostar disso, e eu, quando estou com sono, também aprecio. Mas a seriedade de suas pesquisas, se há, não se aproxima dos trabalhos de Carlos Fico, René Armand Dreifuss, Jacob Gorender, Daniel Aarão Reis Filho, Ronaldo Costa, Jorge Ferreira, Lira Neto e Elio Gaspari — nenhum deles de direita.
Numa entrevista ao jornal argentino “Página/12” — em qualidade, não chega a uma unha encravada do “Clarín” —, apologista de Cristina Kirchner e, para usar uma palavra da categoria passadista de Raduan Nassar, acólitos, Moniz Bandeira (o Luiz é só para os íntimos) informa que Sergio Moro “esteve em duas ocasiões” nos Estados Unidos. Por meio de uma acusação grave, Raduan Nassar transforma Sergio Moro em “réu”: o juiz “participou de cursos no Departamento de Estado” e “na Universidade Harvard”. Depois, a estocada tipo grand finale para reforçar a teoria conspiratória: “Segundo o WikiLeaks [vade mecum dos teóricos da conspiração], juízes (incluindo Moro), promotores e policiais federais receberam formação em 2009, promovida pela embaixada norte-americana no Rio”.
O que Raduan Nassar está dizendo, com seu jeitão pré-sutil de criador de galinha, é que Sergio Moro, promotores de justiça e agentes da Polícia Federal “atacam” — palavra usada para substituir investiga, denuncia e julga — Lula da Silva, Dilma Rousseff e o PT porque estão a serviço dos Estados Unidos, ou, numa palavra mais chique, do neoliberalismo. É provável que até crianças de 8 anos admirem Sergio Moro, por sua lisura e independência, e integrantes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. A Operação Lava Jato prova, se prova alguma coisa, que no Brasil as instituições começam a funcionar pra valer, acima de classes sociais e certos poderes. Quem é de esquerda, por exemplo, não pode ser investigado, porque aí se trata de “perseguição”. Magistrados, como Sergio Moro, procuradores, como Deltan Dallagnol, e a delegada da Polícia Federal Erika Mialik Marena mostram que um país institucional, em que todos têm de cumprir a lei, é melhor para todos, embora seja ruim para alguns, como os homens cordiais Lula da Silva e Raduan Nassar, que parecem avaliar que há homens acima das leis. Ressalte-se que o escritor é um cidadão exemplar, embora trate Lula da Silva como uma espécie de James Bond da política.
Sergio Moro, a despeito do que diz Raduan Nassar, serve à lei e, portanto, ao Brasil. Conectá-lo aos Estados Unidos, porque admira o que funciona, é, diria o escritor nos bons tempos, um despautério.
Depois de várias diatribes, algumas divertidas, típicas de quem deve ser tratado como o Rip van Winkle dos alegres trópicos, Raduan Nassar sugere ao leitor, o que não é “faccioso” (todos nós somos facciosos, uns menos, outros mais; só mortos são, quando são, imparciais e independentes), que leia os “relatórios” do Instituto Lula. Não dá pé. É muito melhor ler a “Lavoura ‘Escassa’” do escritor, um gênio literário e beócio político.
Ao defender Lula da Silva, Raduan Nassar ataca, diretamente, Fernando Henrique Cardoso, o presidente da privataria (o país precisa de livros sérios e não panfletários a respeito) e da compra dos votos para garantir a reeleição. FHC, entende o escritor, é “pior” do que Lula da Silva. Só a história dirá, quando seus governos forem avaliados com a devida isenção (distanciamento é o termo mais apropriado), quem foi o melhor. No calor das batalhas, os petistas sugerem que o petista-chefe fez governos melhores e os tucanos apostam que, devido à estabilidade da moeda, os governos de FHC criaram a bonança que Lula aproveitou, no primeiro governo, mas não soube aproveitar no segundo governo, contribuindo para a crise econômica atual, que não é filha apenas do desastre do governo de Dilma Rousseff. O momento é de “julgamento” do indivíduo Lula e não do personagem histórico Lula e, por isso, é difícil, talvez impossível, avaliá-lo com a justiça necessária. A impressão que se tem é que Lula é “maior” do que seu comportamento, sobretudo sua fala narcísica, sugere. Lula é grande, mas apequena-se com facilidade, sobretudo quando se comporta como caudilho. Os historiadores vão avaliar Lula da Silva pelo conjunto do que fez, ou até o que deixou de fazer, e não apenas pela Lava Jato.
Militantes mais primários do PT, aqueles que repetem cantilenas que nem mesmo seus líderes entoam mais, sublinham que, se há investigações contundentes hoje, isto resulta do grau de liberdade que os governantes petistas “deram” às instituições. Nas palavras candentes e cadentes de Raduan Nassar: “Lula propiciou, como nunca antes, o desempenho livre dos órgãos de investigação, como Ministério Público e Polícia Federal, ao contrário do que faziam governos anteriores que controlavam essas instituições”. Nada disso é verdade. A libertação das instituições deriva de mudança na Constituição e isto não tem a ver com o PT. Quais “governos anteriores” que controlavam as instituições? O governo FHC? Este não conseguia, não. Talvez os militares, que, de fato, controlavam tudo, até a Imprensa.
O deus Lula criou quase tudo, afiança Raduan Nassar, que não diz uma palavra sobre a Petrobrás, ainda que fale da Lava Jato, para atacar Sergio Moro, procuradores e policiais federais. Getúlio Vargas fundou a Petrobrás, maior empresa pública do país, e o governo do PT afundou-a. O escritor não percebe ou não quer perceber este tipo de contraponto.
Raduan Nassar escreveu o artigo para criticar os que “promovem o linchamento” de Lula da Silva. O ex-presidente merece consideração, respeito e não deve ser achincalhado. Mas, ao contrário do que sugere o nosso Rip van Winkle, não está acima da lei e da crítica. Raduan Nassar é imenso, como escritor, e mignon, como analista político. Mas, como assinala o filme “Quanto Mais Quente Melhor”, de Billy Wilder, com Marilyn Monroe e Jack Lemmon, ninguém é perfeito. Se fosse, o mundo, unidimensional, seria chato…